Entenda fraude em vacinação que resultou no indiciamento de Bolsonaro

O esquema de adulteração dos cartões de vacina de Jair Bolsonaro (PL); da filha do ex-presidente; de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência; e de pessoas próximas começou a ser investigado em 3 de maio do ano passado, com a deflagração da Operação Venire.

A investigação da Polícia Federal apurava a atuação de associação criminosa suspeita de inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas SI-PNI e RNDS, do Ministério da Saúde. À época, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão e seis de prisão preventiva em Brasília e no Rio de Janeiro.

A PF descobriu que o usuário de Bolsonaro no aplicativo ConecteSUS, do Ministério da Saúde, emitiu pelo menos quatro vezes certificados de vacinação contra a Covid-19 que seriam do ex-presidente.

Três desses certificados foram emitidos em 22, 27 e 30 de dezembro de 2022; antes, portanto, de Bolsonaro embarcar para o autoexílio em Orlando (EUA), no início da tarde de 30 de dezembro de 2022.

Conforme publicado pelo colunista do Metrópoles Igor Gadelha, antes de Bolsonaro deixar a Presidência, o e-mail de acesso à sua conta no ConecteSUS estava no nome de Cid. Após o dia 30, o e-mail foi alterado, deixando o controle com Marcelo Costa Câmara, assessor especial do ex-mandatário. Os cartões de vacina foram posteriormente apagados.

No mesmo dia 3, data da Operação Venire, Bolsonaro reafirmou que não tomou a vacina contra a Covid-19 e negou ter falsificado dados. “Não existe adulteração da minha parte. Eu não tomei a vacina. Li a bula, e não tomei. Minha filha de 12 anos não tomou. A Michelle [Bolsonaro] tomou nos EUA”, disse.

CGU também identificou fraude

Em janeiro deste ano, a Controladoria-Geral da União (CGU) constatou que houve falsificação nas informações do cartão de vacina do ex-presidente Jair Bolsonaro por meio do portal estadual de vacinação de São Paulo, o Sistema VaciVida. No entanto, o órgão não apontou suspeitos da fraude.

O funcionário que era responsável pela Unidade Básica de Saúde (UBS) Parque Peruche, em São Paulo, à época em que supostamente o ex-presidente foi vacinado, afirmou à CGU que Bolsonaro nunca esteve no local. Além disso, os servidores da unidade de saúde negaram conhecer qualquer pedido feito para registrar a imunização do então chefe do Executivo.

A investigação conduzida pela CGU apontou que dados da Força Aérea Brasileira (FAB) indicam que Bolsonaro retornou de São Paulo em direção a Brasília em 18 de julho de 2021, um dia antes da suposta vacina, e não teria outro voo até 22 de junho do mesmo ano.

Outro ponto destacado pela CGU é de que o lote da suposta vacina tomado pelo ex-presidente não estaria disponível na data em que teria acontecido a imunização na UBS Parque Peruche.

A controladoria realizou diligências no Ministério da Saúde e constatou que não há possibilidade de que a falsificação tenha partido do órgão federal.

A CGU também investigou se houve a participação de funcionários do Ministério da Saúde, no entanto, não foram encontradas evidências neste sentido.

Dessa forma, a conclusão é de que se trata de fraude ao sistema estadual de registro de vacinação contra Covid-19.

Ex-presidente indiciado

Dez meses após a investigação da PF, nesta terça-feira (19/3), a corporação indiciou Bolsonaro por associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema público no inquérito que investiga a adulteração da carteira de vacinação contra Covid-19.

Além de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, e o deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ) estão na lista de indiciados pela PF.

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