Pela primeira vez, pesquisadores da USP encontram lixo no oceano profundo

 

Cientistas do Instituto Oceanográfico (IO) da Universidade de São Paulo (USP) encontraram embalagens plásticas, calçados, brinquedos e até um frasco de remédio feito há um século, na região do oceano em profundidades entre 200 e 1.500 metros ao largo da costa brasileira. Esse é o primeiro relato de lixo marinho no mar profundo do Brasil.

Foram encontradas latas de refrigerante de oito países diferentes, embalagens de desodorante produzido na década de 1970 e de alimentos, de 1996. “O oceano profundo está, silenciosamente, se tornando uma lixeira”, afirma o estudo.

As expedições foram realizadas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, com o intuito de estudar a biodiversidade dos animais que vivem em águas profundas e que, portanto, evoluíram para viver em ambientes quase inóspitos com baixa temperatura, altíssima pressão e luz solar incipiente ou completamente ausente.

A bordo do Navio Oceanográfico Alpha Crucis da Universidade de São Paulo, os cientistas coletaram duas novas espécies de peixes nomeadas como Sciadnonus alphacrucis, em homenagem ao navio, e Polymixia carmena em homenagem à profa. Carmen Rossi-Wongtschowski e, para surpresa da equipe, grandes quantidades de lixo.

As coletas foram feitas com redes de arrasto de fundo, entre 274 e 1.520 m de profundidade, em duas áreas distintas a 200 km de distância da costa sul do Brasil: entre Ilhabela (SP) e Florianópolis (SC).

Ao total, foram recolhidos 603 itens, que somam 13,78 kg — a maioria era composta de plástico (58,5%) que pode ter sido transportada por milhares de quilômetros até se acumular na região.Tecidos e metais também foram frequentes, além de tintas catalisadas para barcos, vidro e concreto.

Os primeiros registros de lixo marinho foram feitos no final da década de 1960 em regiões costeiras e, desde então, a quantidade de lixo encontrado aumentou tanto em quantidade, quanto em áreas poluídas. Pela primeira vez foi encontrado lixo marinho no Atlântico Sudoeste em águas profundas.

A preocupação é com os efeitos nos ecossistemas e na fauna marinha, devido à quantidade de produtos altamente poluentes, como tinta de navio e latas de óleo contaminadas, além da ingestão do microplástico pelos animais marinhos.

A oceanógrafa Flávia Tiemi Masumoto, que lidera o estudo, afirma que os resultados destacam a importância de fiscalizar o descarte do lixo nos mares e de repensar a utilização dos plásticos de uso único, como copos e sacolas. “O oceano não é um lixão que dá para a gente jogar tudo lá”, alerta em entrevista à CNN.

Fonte: CNN Brasil

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