No que aposta Bolsonaro, e que tem tudo para dar errado

Os afortunados e ansiosos ocupantes da avenida Faria Lima, donos do PIB, têm mais é que se entender com Bolsonaro para convencê-lo a dar passagem à candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) à sucessão de Lula. Do contrário, Tarcísio não irá se arriscar a largar o governo de São Paulo.

Bolsonaro disse à revista Veja que será ele o candidato da direita a presidente daqui a dois anos, e não Tarcísio:

– O Tarcísio é um baita gestor. Mas eu só falo depois de enterrado. Estou vivo. Com todo o respeito, chance só eu tenho, o resto não tem nome nacional. O candidato sou eu.

Por ora, Bolsonaro está inelegível até 2030. Foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral, acusado de abuso do poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação. No próximo ano, deverá ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe e roubo de joias presenteadas ao Estado brasileiro.

Mesmo assim, ele pretende se valer da receita de Lula para se manter à tona. Em 2018, condenado e preso, Lula insistiu com sua candidatura. Liderou todas as pesquisas de intenção de voto até setembro. E só quando a justiça o enquadrou na Lei da Ficha Limpa, foi que deu passagem à candidatura de Fernando Haddad.

Ocorre que Haddad não precisou se afastar com antecedência de nenhum cargo público para disputar a eleição. Tarcísio, precisará. E o prazo de desincompatibilização se encerra em março de 2026. Ele então ficará ao sol e à chuva à espera de que Bolsonaro acabe sendo obrigado pela justiça a retirar-se de cena? Tem graça nisso?

Tarcísio é um amador, mas bobo não é. Sua reeleição para o governo de São Paulo é dada como certa desde agora tanto por seus aliados como por seus adversários. De resto, ninguém confia na palavra de Bolsonaro, que poderá abdicar em favor de qualquer outro nome. Por que não em favor de um dos seus filhos Zero?

O destino dos filhos e de Michelle, a ex-primeira-dama, já foi traçado por Bolsonaro, conforme ele admite:

– O Flávio vai para a reeleição, e quem lançou o Eduardo [ao Senado] foi o Valdemar Costa Neto, nosso presidente [do PL]. Michelle deve concorrer ao Senado pelo Distrito Federal, tem grande chance de se eleger. É o plano ideal para ela.

O plano ideal para Bolsonaro tem tudo para dar errado, mas é o único que ele tem. A direita chegará dividida em 2026 para a felicidade de Lula.

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