Neuropsicólogo sobre pesquisa que estuda os impactos da religião: ‘Deus existe no cérebro’

Tão antigo quanto Deus, apenas o debate se Ele realmente existe, ou não. Já no século 21, o neuropsicólogo Jordan Grafman, que estuda a relação entre o cérebro e as funções cognitivas do ser humano, resolveu entrar na discussão, mas sob um aspecto diferente, o de como o cérebro humano se relaciona com as crenças em si.

Criação de Adão, de Michelangelo Buonarroti

Para o neurocientista, “Deus existe no cérebro” – Foto: Reprodução/ND

Jordan é professor da Northwestern University, nos Estados Unidos, e publicou um artigo na revista Nature com o título: “Os neurocientistas não devem ter medo de estudar religião”.

Ao Globo, o pesquisador apontou que não acreditar em Deus também é uma crença, o que faz com que ninguém esteja “imune” a sua existência. Para Jordan, isso significa que a religião precisa ser estudada pela ciência.

“Uma vez que você foi exposto à ideia de Deus ou religião, adivinhe onde está? Não seu cérebro. Então, até mesmo ateus têm uma representação de Deus em seus cérebros. Não posso escapar Dele. Por causa disso, isso pode soar radical, mas eu digo: Deus existe. Tenho confiança de que Deus existe no cérebro. Então podemos estudar Deus com segurança e em grande quantidade de detalhes examinando como o processo cerebral, representa e permite nossos comportamentos associados à religião”, relatou.

Cerca de 85% da população mundial acredita em alguma vertente religiosa. Décadas de trabalho nas ciências sociais, lembrou o professor, descobriram que as crenças podem melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas, mas também, a religião e a espiritualidade amplificaram o conflito, a polarização e a opressão entre a humanidade ao longo da história.

Jordan Grafman, neuropsicólogo que afirmou que Deus existe no cérebro

Jordan Grafman é neuropsicólogo e professor da Northwestern University, nos Estados Unidos – Foto: Reprodução/ND

“Deus existe. Deus existe no cérebro”

Jordan argumenta que o cérebro humano parece estar “programado” para acreditar, seja em Deus, Alá, Maomé, Shiva, ou qualquer outra divindade que torne a experiência humana mais profunda.

Isso ocorre, aponta o professor, devido a várias funções cognitivas que evoluíram para nos ajudar a interpretar o mundo e formar vínculos sociais.

As referências, incluindo as religiosas, podem ter se desenvolvido como uma maneira de ajudar a humanidade ao longo da evolução a entender e lidar com o desconhecido, criando respostas para eventos naturais ou incompreensíveis, o que, por sua vez, poderia reduzir a ansiedade frente ao caos e à incerteza.

O córtex pré-frontal é uma região do cérebro que desempenha um papel importante em várias funções, como regulação de emoções, comportamento e tomada de decisões. Segundo Jordan, ele também desempenha um papel importante na formação de confiança.

Pessoas em uma mesquisa

Apesar de a maioria das pessoas ao redor do mundo se identificarem como religiosas, a religiosidade e a espiritualidade são pouco estudadas – Foto: Sutanta Aditya/Getty/ND

Esse processo – de aprender a confiar – teria uma função social crucial: ajudar a manter a coesão em grupos, criar normas, valores e rituais compartilhados que fortalecem laços comunitários e incentivam a cooperação. Ou seja, permite uma vida social em harmonia, pelo menos, na teoria.

Ele também observa que, ao longo da evolução, a capacidade de imaginar agentes ou seres invisíveis pode ter sido útil para antecipar ameaças ou interpretar sinais do ambiente.

Isso se traduziu em uma tendência do cérebro a criar padrões e significados — mesmo quando eles não são evidentes —, o que pode ser uma base para a formação de crenças sobrenaturais e religiosas.

Dessa forma, a estrutura e o funcionamento do cérebro humano favorecem uma proteção natural para a espiritualidade e a religiosidade, funcionando como uma ferramenta de sobrevivência tanto individual quanto coletiva.

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