‘Calada, já devo incomodar’, diz vereadora Tainá de Paula

O Tribunal do Júri do Rio de Janeiro condenou, após mais de seis anos, os executores da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Em uma decisão aguardada desde o crime de 14 de março de 2018, o ex-policial militar Ronnie Lessa, apontado como autor dos disparos, foi sentenciado a 78 anos e 9 meses de prisão.

O também ex-PM Élcio Queiroz, que dirigiu o veículo usado no crime, recebeu pena de 59 anos e 8 meses. Apesar das condenações, os tempos de execução de pena para ambos os réus foram reduzidos em virtude de acordos de delação premiada, conforme decisão do tribunal.

Só não fui interrompida como Marielle Franco porque eu aprendi

Tainá de Paula, Vereadora

A vereadora Tainá de Paula (PT), reeleita em 2024 com mais de 49 mil votos e uma das principais lideranças da esquerda no Rio de Janeiro, expressou ao Diário Carioca a importância da condenação dos assassinos de Marielle.

“O assassinato de Marielle Franco foi uma das atitudes mais covardes da nossa política. Quando a gente executa de forma tão bárbara como Marielle foi executada, a gente está dando um recado: ‘esse espaço institucional não é para vocês’”, afirmou.

Para a vereadora, o desfecho no tribunal representa um passo para “não permitir que mulheres parlamentares sejam executadas”, ressaltando o caráter simbólico da justiça em um país onde a violência política de gênero atinge especialmente mulheres negras em posição de poder.

Violência contra Tainá de Paula

Em 3 de outubro deste ano, três dias antes do primeiro turno das eleições municipais, Tainá de Paula foi alvo de uma violência. Durante o atentado, tiros atingiram seu carro, que, por ser blindado, garantiu a segurança da vereadora e de seu motorista.

A parlamentar interpretou o episódio como um novo sinal de hostilidade contra mulheres negras na política, estabelecendo um paralelo com o caso Marielle.

“Eu só não fui interrompida como Marielle Franco porque eu aprendi, talvez a esquerda não tenha aprendido, mas as parlamentares negras aprenderam, que hoje não tem condições de andar com um carro que não seja blindado na cidade do Rio de Janeiro”, pontuou.

Para ela, essa necessidade de proteção é uma interrupção de sua “liberdade, da forma de fazer política e de circular pela cidade”.


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Histórico de violência

A violência contra Tainá é um dos episódios mais recentes de uma série de ocorrências envolvendo parlamentares mulheres, especialmente negras, alvos de ataques e perseguições devido à atuação política.

Durante a entrevista, a vereadora destacou a importância de discutir mais abertamente a violência política de gênero e a dificuldade que mulheres enfrentam para se reeleger no país.


O índice ainda é muito baixo para mulheres negras nesse país. Se somos a maioria demográfica, por que não a maioria política? Nós somos tratadas como minorias e isso é uma aberração

Tainá de Paula, vereadora


Tainá defende cotas para mulheres nos parlamentos, baseando-se em modelos democráticos que priorizam a igualdade de gênero.

Desde o início de seu mandato, em 2021, Tainá relatou várias situações de risco, incluindo uma tentativa de assalto na porta de sua casa e uma falsa blitz. A vereadora enxerga uma possível ligação entre esses episódios e sua atuação política, argumentando que as parlamentares negras incomodam.

“Existe uma série de ocorrências que vem acontecendo no meu exercício parlamentar. As parlamentares negras incomodam um pouco; calada eu já devo estar incomodando”, declarou ao site.

Investigação

Foto: Paulo Monteiro / Diário Carioca

As investigações sobre o atentado contra Tainá de Paula estão em andamento e já indicaram dois suspeitos, sendo um menor apreendido. Segundo a vereadora, no entanto, persistem dúvidas quanto à motivação do ataque.

“A Polícia estuda a tese de que tenha sido uma tentativa de assalto, mas questiono isso porque um dos suspeitos mira e atira no radiador do carro. Se você quer levar esse carro, você não atira no radiador”, disse Tainá, que considera necessário investigar o incidente dentro de um histórico maior de ocorrências e ameaças que marcaram sua trajetória política.

O caso de Tainá de Paula, somado à execução de Marielle Franco e outras parlamentares, reforça o debate sobre a violência política de gênero no Brasil e os desafios enfrentados por mulheres negras em cargos públicos.

As declarações da vereadora evidenciam a necessidade de um ambiente mais seguro e inclusivo para a atuação dessas lideranças, garantindo a participação efetiva de mulheres negras na política sem que suas vidas sejam colocadas em risco.

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