Jojo Todynho versus José Dirceu

Os meus correspondentes no Brasil me informaram que uma, com o perdão da palavra, influencer chamada Jojô Todynho está sendo perseguida, porque declarou ser de direita.

Ao que parece, a perseguição ideológica é movida, principalmente, pelo fato de Jojô Todynho ser negra e de origem bastante humilde. Negro e pobre, no Brasil, tem de ser esquerda ou não é negro e pobre respeitável, mas Jojo Todynho entrou na contramão e disse ser “preta de direita”.

Jojo Todynho entrou naquele universo da frase jocosa do cantor Tim Maia, segundo a qual ”este país não pode dar certo. Aqui, prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita”. Eu substituiria o pobre de direita pelo rico de esquerda, mas é mais prudente não entrar nesse assunto.

Desde que anunciou a sua preferência política, Jojo Todynho sofre cancelamentos, teve um contrato rompido por uma empresa de cosméticos, a pretexto de ser agressiva e desbocada (só a esquerda pode ser agressiva e desbocada), e foi desconvidada a participar da semana de moda de São Paulo, esse evento revolucionário que redime a cultura caipira oprimida pelo capitalismo.

Assisti a vídeos de Jojo Todynho nos quais ela faz a sua profissão de fé ideológica. Ela critica os brasileiros que não trabalham nem estudam, satisfazem-se com o dinheiro do Bolsa Família e cultuam o “Pai dos Pobres”, em referência a Lula. O único pai para Jojo Todynho é Deus. Ela também não acha Donald Trump é a encarnação do capeta e afirma que o Brasil pode vira uma Venezuela.

Jojo Todynho é, como se diz mesmo?, exemplo de superação e um problema para José Dirceu, o irremovível mago petista. Não por ela ser quem é (talvez os correspondentes de José Dirceu no Brasil nem o tenham informado sobre a existência da moça), mas por representar aquilo que pode vir a ser: um povo de direita.

Não vai dar mais para José Dirceu ser o guerreiro do povo brasileiro, se o povo brasileiro tomar aversão à esquerda  — como parece, aliás, que já está acontecendo, a julgar pelo definhamento eleitoral do PT e demais siglas de esquerda –,  e sobrar só rico petista.

Para combater Jojo Todynho, é preciso ter convicções tão firmes como as dela. Nem o próprio José Dirceu, contudo, está convicto do esquerdismo do governo Lula.

Em uma palestra para empresários, ele disse que “Lula montou um governo que não é de centro-esquerda, é um governo de centro-direita. Eu falo isso e todo mundo fica indignado dentro do PT. Essa é a exigência do momento histórico e político que nós vivemos”.

Depois que a frase foi noticiada, a assessoria de José  Dirceu disse que ele não disse o que disse, mas que quis dizer que “o governo Lula é um governo de centro-esquerda, apoiado por partidos de direita”. Tem também esta agora: a de que Lula é um presidente de centro.

José Dirceu, que cresceu e multiplicou-se em tons épicos propiciados pela ditadura militar, agora tem pela frente uma realidade prosaica fornecida pela democracia: Jojo Todynho. O momento histórico não está mesmo fácil para o PT.

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