Detalhe em obra de Michelangelo denota doença mortal da atualidade

As obras do pintor e escultor renascentista Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, conhecido apenas como Michelangelo, despertam grande curiosidade até hoje. Entre os seus trabalhos mais lembrados, está a pintura do monumental teto da Capela Sistina, no Vaticano, com aproximadamente 300 figuras humanas. No meio daquela multidão, estudiosos descobriram o caso de uma jovem mulher retratada com, muito possivelmente, um câncer de mama em estágio avançado, doença que é ainda mortal na atualidade. O “detalhe” passou despercebido por mais de 500 anos.

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Publicado na revista The Breast, o estudo que identificou na obra de Michelangelo um caso de câncer de mama foi liderado por uma equipe diversa de pesquisadores, incluindo historiadores e médicos oncologistas. Participaram da análise multidisciplinar membros da Universidade Luís Maximiliano de Munique (Alemanha) e Instituto Nacional do Câncer da Itália.

Segundo os autores, a forma como a mama da mulher foi pintada, na obra que retrata passagens do Gênesis (primeiro livro da Bíblia), apresenta “características consistentes com carcinoma de mama”. Inclusive, há uma possível explicação simbólica para a doença ter sido representada no episódio do Dilúvio, onde o artista italiano pintou pessoas que fugiam das águas que começavam a subir para limpar o mundo do Pecado. 


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Câncer de mama na obra de Michelangelo

Na análise feita pela equipe, observou-se que, enquanto a mama direita estava “saudável”, não era possível dizer o mesmo da mama esquerda da mulher retratada no teto da Capela Sistina, de Michelangelo. Entre os detalhes que chamam a atenção para a saúde debilitado da figura, estão: a pele retraída ao redor da região areolar, com algumas deformações, inchaços e protuberâncias. 

Pesquisadores encontram possível caso de câncer de mama em mulher pintada por Michelangelo, no teto da Capela Sistina (Imagem: Nerlich et al., 2024/The Breast)

“Em direção à axila esquerda, observa-se outra leve protuberância, que pode representar nódulos aumentados”, acrescenta o artigo sobre outro sinal da possível doença. 

Quando se fala em Michelangelo, um artista que dissecava cadáveres e estudava a anatomia humana, essas alterações muito dificilmente teriam sido aleatórias. Reforçando este argumento, está o fato de que outras mulheres apresentaram mamas com aspectos saudáveis na obra exibida no Vaticano.

Câncer em mulheres jovens?

Talvez, o mais difícil seja associar o câncer de mama a uma jovem mulher, sendo que o risco atual da doença tende a ser maior em mulheres com 50 anos ou mais, exceto aquelas que têm histórico na família.

Para os autores, “aplicar dados modernos ao período renascentista não é totalmente preciso, pois a expectativa de vida média era de cerca de 35 anos, o que pode ter influenciado a apresentação e as características do câncer naquela época”. Outras possíveis doenças foram consideradas, mas descartadas.

Significado da representação

Na época, “o mal poderia ser marcado por uma anomalia ou patologia para que o observador pudesse ‘ler’ a diferença entre o justo e o mal”, explicam os pesquisadores. Então, eles defendem a hipótese de que “a representação de um provável câncer de mama está ligada ao conceito de impermanência da vida e tem o significado de punição” dentro da obra.

Hoje, sabemos que o câncer (independente do tipo) não é um castigo divino ou algo do tipo, mas, sim, uma doença causada pelo crescimento desordenado de células anormais e cancerígenas.

Doença ainda é mortal na atualidade

Vale observar que o câncer de mama continua a ser um problema de saúde. Por ano, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que sejam diagnosticados  74 mil novos casos e que ocorram cerca de 18 mil mortes associadas ao quadro. Este é o segundo tipo de câncer mais comum em mulheres, atrás apenas do câncer de pele não melanoma.

No entanto, há uma vasta gama de novos tratamentos disponíveis para mulheres com câncer de mama na atualidade, o que eleva as chances de cura. Isso inclui cirurgias, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica. E nenhuma dessas associações negativas, presentes na obra de Michelangelo, se mantiveram. 

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