Entenda as ameaças que imigrantes ilegais sofrem com vitória de Trump

Reeleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump retorna ao comando com propostas que incluem deportação em massa de imigrantes sem visto. Ele se refere a pessoas que atravessam a fronteira entre o México e os EUA como “rudes” em busca de nova vida no país. O republicano toma posse no cargo em 20 de janeiro de 2025 e já reafirmou que pretende cumprir a promessa de campanha.

Trump enfrentou uma disputa acirrada com a democrata Kamala Harris durante a eleição. Na campanha, ele manteve um discurso firme contra os imigrantes, afirmando que “eles estão na prisão por assassinato e todo tipo de coisa, e estão soltando-os em nosso país” e que “vários deles [imigrantes] mataram bem mais que uma pessoa e hoje vivem tranquilamente nos Estados Unidos”.

“Obviamente, temos que tornar a fronteira forte e poderosa e, ao mesmo tempo, queremos que as pessoas entrem em nosso país. E, você sabe, eu não sou alguém que diz ‘não, você não pode entrar.’ Queremos que as pessoas entrem’”, afirmou Trump em sua primeira entrevista na quinta-feira (7/11).

Além disso, o presidente reeleito também se comprometeu dar continuidade à construção de um muro na fronteira contra o México, que foi iniciado durante sua primeira gestão. Trump também defende que todas as fronteiras do país norte-americano sejam fechadas.

Segundo pesquisas divulgadas pelo laboratório Pew Research Center em julho deste ano, a população de imigrantes não autorizados nos Estados Unidos era de 11 milhões em 2022, ano mais recente disponível.

Rodrigo Costa, especialista em mobilidade global, prevê que, se as decisões de Trump forem concretizadas, haverá queda significativa no número de imigrantes concentrados na fronteira do México com os EUA nos próximos meses.

“Provavelmente, a administração de Trump colocará em práticas ações mais ostensivas de deportação de imigrantes ilegais. Mas é importante ressaltar que existem parâmetros legais que ele deve seguir, como o respeito aos direitos humanos”, explica Costa.

“Se Trump extrapolar suas medidas de controle imigratório para além dos limites constitucionais, é muito provável que essas mesmas medidas venham a ser judicializadas pelos democratas ou organizações de proteção dos direitos dos imigrantes”, conclui o especialista.

Costa conta que a deportação em massa exigirá muito dinheiro do governo norte-americano. “Esses imigrantes, por mais que estejam em violação da lei federal, contribuem com suas comunidades, têm boa índole, já construíram famílias aqui, têm filhos americanos. O mero temor dessas famílias de poderem ser separadas já é traumático do ponto de vista social”, detalha Costa, que vive nos Estados Unidos há 10 anos.

De acordo com o profissional, um benefício claro de “controlar a fronteira de maneira mais intensa” é evitar “a entrada de pessoas não autorizadas que não passaram pelo devido processo de obtenção de visto em seus consulados ou Embaixadas, além de evitar a entradas de drogas e criminosos”.

Consequência Econômica

Segundo o presidente eleito, a política imigratória do governo de Joe Biden permitiu que 425 mil “criminosos” cruzassem as fronteiras do país. Durante a campanha, ele afirmou que os imigrantes “não deveriam estar aqui”. Ainda de acordo com o especialista, os imigrantes ilegais, em sua grande maioria, ainda que tenham violado a lei, contribuem para a sociedade.

Trump afirmou, em relação à deportação em massa: “Não é uma questão de preço. Não é. Realmente, não temos escolha. Quando as pessoas mataram e assassinaram, quando os traficantes destruíram países e, agora, eles vão voltar para esses países porque não vão ficar aqui. Não há preço”.

Costa destacou uma pesquisa de uma organização sem fins lucrativos, a American Immigration Council, que aponta que quase 11 milhões de indocumentados possuem uma renda familiar total de US$ 300 bilhões e um poder de compra de US$ 254,4 bilhões. Os imigrantes pagam, de impostos locais, estaduais e federais, US$ 75,6 bilhões por ano.

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“Para resumir, Trump deve colocar em prática alguma ação mais emblemática ou teatral, para poder mostrar ao seu eleitoral que controlou de vez a imigração, mas ao mesmo não é algo que ele consegue controlar totalmente”, destaca o profissional.

Força letal contra imigrantes

Trump tentou convencer o eleitorado de que o país vive uma invasão de estrangeiros, a quem acusa de “estupros de jovens americanas”, de “envenenar o sangue dos Estados Unidos” e de comer animais domésticos. Além disto, o presidente eleito sugeriu a implementação de uma política de uso da força letal contra essa população, que pode desencadear uma série de consequências para quem vive no país.

O especialista em direito penal Tiago Oliveira diz que a percepção de que o país está sendo “invadido” por imigrantes ilegais pode ter um crescimento pela disseminação dos discursos de ódio, intensificando a xenofobia e também a discriminação que essas pessoas sofrem.

“É fundamental considerar que o uso da força letal em situações como essa não só viola direitos humanos básicos, mas também pode exacerbar os problemas que se busca solucionar, gerando um ciclo vicioso de violência e insegurança”, disse ele.

Oliveira conta que essa proposta de deportação em massa levantada por Trump pode apresentar riscos significativos tanto para economia local quanto para a ordem mundial. “A deportação de refugiados e solicitantes de asilo pode forçá-los a retornar a países em situação de conflito ou instabilidade política, expondo-os a riscos de violência e perseguição”, acrescentou ele.

Donald Trump  tomará posse no dia 20 de janeiro de 2025. O ex-presidente voltará ao cargo, após a derrota em 2020 para o democrata Joe Biden.

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