Como Caetano, Bethânia e mais artistas consagrados conectam gerações

“Às vezes no silêncio da noite, eu fico imaginando nós dois. Eu fico ali sonhando acordado, juntando, o antes, o agora e o depois.” A letra de Sozinho, sucesso de Caetano Veloso, emociona gerações desde a década de 1990 e é uma das músicas mais tocadas do artista. Mas, enquanto embala fãs que acompanham mais de cinco décadas de carreira, o artista também conversa com o público jovem e  conquista cada vez mais admiradores.

Muitos deles estarão reunidos neste sábado (8/11), em Brasília, para ver o músico cantar ao lado da irmã Maria Bethânia. Os dois desembarcam na cidade com a turnê que leva o nomes dos filhos de Dona Canô e prometem encantar e animar o público com sucessos como Oração ao Tempo, As Canções que Você fez para Mim e Reconvexo.

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Maria Bethânia e Caetano Veloso

Caetano e Bethânia aproveitaram a noite para celebrar Gal Costa
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Caetano Veloso e Maria Bethânia começaram, neste sábado (3/8), a turnê Caetano & Bethânia

Beatriz Queiroz/Metrópoles

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Maria Bethânia e Caetano Veloso

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Caetano e Bethânia aproveitaram a noite para celebrar Gal Costa

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Uma das pessoas que garantiu ingresso para o show foi a estudante de jornalismo Júlia Lopes, que se prepara para chegar cedo e conseguir um bom lugar no Arena BRB Mané Garrincha. Aos 21 anos, ela descobriu o talento de Maria Bethânia aos 15, após ouvir músicas do período da ditadura militar em uma aula de história e decidir pesquisar um pouco mais.

“Encontrei um vídeo da Bethânia cantando Reconvexo e até hoje me lembro da sensação que senti. Era como se meu corpo fosse tomado por diferentes emoções e minha mente se abrisse para um novo mundo. Depois disso, passei a escutar todas as músicas dela e querer saber mais sobre. Por meio da música de Bethânia, consegui traduzir meus sentimentos”, conta a estudante.

foto colorida de mulher com disco de maria bethania - metrópoles
Júlia Lopes é fã de Maria Bethânia

Jovens como Júlia, que possui um acervo de discos, CDs e revistas e utiliza capas de discos e fotos da cantora como decoração, mostram que essa geração de artistas que marcou a música nacional tem sido cada vez mais popular entre os jovens. Além dos irmãos Veloso, nomes como Alcione, Gal Costa, Gilberto Gil e Chico César são apreciados por pessoas que estão abaixo dos 35 anos.

A conquista desse público tem muito a ver com quem dividiu a geração com eles. Para o compositor e professor do curso de Música da Faculdade Santa Marcelina Matheus Gentili Bitondi, uma das razões para o sucesso desses artistas entre os jovens é a memória afetiva de músicas passadas de pais para filhos. Ele destaca ainda que esses nomes têm um grande interesse pela experiência social, que se concretiza em parcerias como a de Gil e MC Hariel e a de Caetano e Anitta.

A memória afetiva é um dos marcos da história de Maria Luisa Ferreira Cardoso, de 30 anos, com Caetano e Bethânia. Ao Metrópoles, ela conta que nasceu e cresceu ouvindo os artistas. “Escuto desde criança”, pontua a economista, que tem como músicas preferidas os sucessos Cajuína e Olhos nos Olhos e também se prepara para ver o show na capital do país.

Quem também é fã de carteirinha é Rafael Leite, de 22 anos. Nordestino como Caetano e Bethânia, ele se identifica com as origens dos artistas para além da música. “Caetano tem uma obra extensa, que valoriza a cultura brasileira e, essencialmente, a nordestina, e isso me faz sentir essa admiração. Ele é um grande brasileiro”, avalia o estudante de direito.

Ouça a playlist da turnê:

O jovem conta que ainda não teve a oportunidade de ir a um show da turnê Caetano & Bethânia, mas deu um jeitinho de acompanhar um deles. “Assisti cada momento do show de Recife por videochamada, e foi uma mistura de festa e lágrimas aqui em casa. A sensação de ouvir os dois juntos, mesmo que pela tela, é indescritível”, conta ele, que tenta conciliar as demandas do fim da faculdade para assistir à apresentação em Fortaleza, no Ceará.

Grandes nomes, fortes influências

Também fã dos irmãos, a cantora e professora de canto Gabriella Dias é ainda uma apaixonada pela música de Alcione e Gilberto Gil. Ela conta que teve a influência dos pais para descobrir grandes nomes da música brasileira, mas que se debruçou sobre essas obras para conhecer mais após decidir cantar de forma profissional.

No repertório de shows, ela incluiu uma homenagem a dois deles com o show GilCaê. Ao lado do também manauara Nando Montenegro ela apresenta músicas com os quais se identificam e celebra dois dos principais nomes da música nacional. “É um show que eu amo demais fazer. Sou super fã dos dois e os tenho como mestres não só pela sua obra musical, mas pelo conteúdo das músicas”, explica.

 

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Ela avalia ainda que os artistas apresentam assuntos atemporais nos trabalhos, mesmo que alguns deles tenham 50 anos ou mais e por isso ainda falam com as novas gerações. “Eles produziram essas obras em um momento de juventude, então expressam um pouco esse ímpeto de liberdade, mas, ao mesmo tempo, vejo como uma carta de um avô, por terem imprimido vários momentos da própria vida.”

Também grande fã de Gilberto Gil, a arquiteta e urbanista Ariane Gibim destaca o poder que ele tem de transcender gerações e estilos musicais. “A mistura de música brasileira com elementos de reggae, rock, e outros gêneros, mostra um espírito de inovação e liberdade criativa que admiro muito”, destaca.

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Ele elogiou o trabalho

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Ariane Gibim fez um desenho de Gil

Foto: Arquivo pessoal

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Ela pontua ainda que ele “é uma figura importante pela forma como usa a arte para falar sobre questões sociais, cultura e política”. “Gil é poético, filosófico e musicalmente ousado”, define a jovem, de 28 anos, que começou a gostar do artista por volta dos 5 anos, após dançar a música Esperando na Janela em uma apresentação da escola.

Quem também nutre admiração por uma das grandes vozes femininas da MPB é a chef Catarina Freire. Hoje com 29 anos, ela lembra de ouvir bolero e samba nos almoços de domingo, na casa dos avós, há cerca de duas décadas. “A potência da voz de Alcione sempre me pegou: a força e a intensidade que a mulher preta entoa para falar de amor é revolucionária”, avalia.

Proprietária do restaurante brasiliense Santu Comedoria, ela revela sua música preferida, a qual acredita mexer com todo mundo que a escuta — mesmo que pela primeira vez.

“A Loba. Quando toca no samba tudo à minha volta para e eu sinto a letra no meu âmago. Sempre digo que não sobra um não monogâmico quando toca nossa Marrom”, se diverte.

Quem serão os próximos grandes nomes da música brasileira?

Com muitos artistas deixando os palcos, como foi o caso de Milton Nascimento, ou prestes a se aposentar, como deve fazer Gilberto Gil, muitas pessoas especulam quem serão os próximos artistas consagrados da música. Para o professor Matheus Gentili Bitondi, quando se pensa que a arte é uma “força indutora da construção de um povo por vir” (SAFATLE, 2022, p. 18), existem nomes que podem ser boas apostas.

“A experiência estética como impulso de transformação do corpo social e produzindo relações entre arte e política pode vir de artistas como MC Hariel, Racionais MCs, Baiana System e Djonga. Eles ocupam um lugar que usa a música para pensar a sensibilidade, a consciência de classe, a consciência de si, a história pessoal e do Brasil”, explica o profissional.

Com um pensamento próximo, o professor do departamento de música da Universidade de Brasília Alexei Alves acredita que existe um caminho certo para esses novos nomes. Ele defende que musicos como Gil e Caetano ganharam ainda mais força por causa do espaço na televisão logo que esse meio começou a funcionar. Ou seja, novas mídias também podem impulsionar novos nomes.

Alexei defende, contudo, que esses artistas marcaram um período de mudanças e luta por meio da música, portanto, seus sucessores precisam seguir o mesmo caminho. “Eles deram asas para a música se transformar, evoluir, se arriscar e experimentar. Quando pensamos em quem serão os próximos, a gente pensa em pessoas que têm as mesmas atitudes transformadoras.”

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