Vitória de Trump enfraquece combate às mudanças climáticas? Entenda

A eleição do republicano Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos foi recebida com preocupação por ambientalistas e governos que trabalham para o cumprimento das metas pactuadas no Acordo de Paris, em 2015.

Trump é claramente um negacionista do clima. No primeiro governo, 2017 a 2021, o republicano tirou os Estados Unidos do Acordo de Paris. A formalização veio em novembro de 2019, mas nos anos iniciais do mandato, Trump já não havia se empenhado na questão ambiental. A medida foi revertida por Joe Biden.

O ocupante da Casa Branca a partir de 20 de janeiro de 2025 não manda recado quando a questão é meio ambiente. Defensor da exploração de combustíveis fósseis, vilões do clima, ele promete vida fácil para as empresas do setor. “Nós vamos perfurar, baby, perfurar”, disse na convenção republicana, em julho deste ano. A promessa é flexibilizar regras de atuação do setor.

“Se grandes emissores (de poluentes) como os Estados Unidos não estão interessados em reduzir suas emissões, por que países em desenvolvimento, que ainda têm o desafio do crescimento econômico, precisam liderar essa redução? Então, isso é muito ruim para o discurso global de emergência climática”, contextualiza a porta-voz do Greenpeace Brasil, Mariana Mota.

Peso pesado

Os Estados Unidos são atualmente o segundo o maior poluidor do planeta. A saída do país implica, nos termos atuais, na impossibilidade de se cumprir as metas de redução nas emissões de gases de efeito estufa (GEE), que tinham como premissa a limitação do aquecimento do planeta em 1,5°C. A meta foi definida no Acordo de Paris.

Além do dever de casa, os países desenvolvidos, assim como os Estados Unidos, devem financiar a mitigação da emergência climática, adaptação e as perdas e danos decorrentes do desequilíbrio no planeta. ONGs defendem que montante seja de ao menos US$ 1 trilhão por ano. Sem os norte-americanos, uma fatia importante dos recursos financeiros deixa de existir.

A porta-voz do Greenpeace avalia que, internamente, não há fatores expressivos que possam se contrapor a Trump. A esperança, no entanto, vem do exterior.

“De alguma maneira, o cenário cobra que União Europeia e os próprios países em desenvolvimento como China, Brasil, Índia, enfim, reforcem as suas ações climáticas como resposta a Trump. (…) Outros países precisam, de alguma maneira, reforçar e ocupar esse vácuo”, pontua.

Ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, em entrevista a jornalistas na última quarta-feira (6/11), minimizou a eleição de Trump como um entrave às medidas de contenção da crise do clima.

“O mundo vai buscar que nenhum país promova qualquer tipo de retrocesso. Nós estamos trabalhando para evitar o ponto de não retorno em relação ao clima, mas nós queremos que não haja qualquer retrocesso, qualquer retorno ao passado daquilo que nós já avançamos em relação aos compromissos e à governança climática global”, afirmou.

Professora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Danielle Hanna Rached pondera que, embora Trump tenha uma trajetória de afronta à proteção ambiental, não devemos esquecer que toda ação motiva uma reação.

“Há de se esperar que Trump tenha resistência interna por uma parcela da opinião pública e sociedade civil organizada. Ele também pode enfrentar resistência nas cortes jurídicas do país e, além disto, os demais países podem vir a assumir um protagonismo maior diante da questão climática”, diz Rached. Para ela, isso não é “suficiente para evitar as piores consequências da emergência climática”.

Mais poder

Uma das diferenças agora é que Trump terá mais poder a partir de 2025 do que no primeiro mandato. Se de 2017 a 2021 ele tinha oposição consistente de congressistas, agora ela será menor, pois o republicano conseguiu maioria absoluta nas duas casas legislativas do país. Além disso, ele tem um trânsito maior na suprema corte americana.

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