As guerras do Brasil na América do Sul (por Ricardo Guedes)

Pelo Tratado das Tordesilhas, que delimitava as terras portuguesas em uma linha reta da atual Belém do Pará até Laguna em Santa Catarina, a área original do Brasil era de cerca de 1/3 dos 8,5 milhões de km2 atuais. No período colonial, a expansão do Império Português para o oeste foi pouco conflitiva com os espanhóis e seus descendentes, limitados os países hispânicos pela Cordilheira dos Andes. Mas ao Sul, na Bacia do Rio da Prata e do Rio Paraná, a expansão foi significativamente conflitiva e com guerras. Os dados não são exatos, mas dão-nos a indicação da ordem de grandeza.

No século XIX, foram cinco os principais conflitos:

  1. A Guerra da Independência do Brasil ocorreu de 1822 a 1824, com dados oficiais indicando a morte de 3.000 soldados, com fontes e autores estimando em até 20.000 mortes entre combatentes militares e civis. Na Revolução Americana, de1776 a 1783, que resultou na Independência dos Estados Unidos, estima-se a morte de 6.800 soldados, com fontes e autores indicando em até 25.000 e 70.000. Ambas as guerras foram de significativas proporções em nossos continentes.
  2. A Guerra da Cisplatina ocorreu de 1825 a 1828, entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata, e que resulta na formação da República Oriental do Uruguai. A Guerra transcorreu com cerca de 30.000 combatentes pelo Brasil e 40.000 pela Argentina, com 7.500 baixas para os dois lados, em guerra de proporções,
  3. A Guerra do Prata, entre o Brasil e a Argentina, ocorreu de 1851 a 1852, com a Argentina objetivando a anexação de partes das regiões do Prata. Lutaram na guerra 42.000 soldados brasileiros e 34.500 soldados argentinos, com estimativas que variam de 600 a 6.500 mortos e feridos pelo lado brasileiro, e de 1.200 a 11.000 mortos e feridos pelo lado argentino.  Na Guerra do México, entre os Estados Unidos e o México de 1846 a 1848, estima-se que lutaram 73.500 americanos e 82.000 mexicanos, com cerca de 1.700 americanos mortos e 4.100 feridos, e 5.000 mexicanos mortos e 20.000 feridos.
  4. Na Guerra do Paraguai, de 1865 a 1870, com o Paraguai objetivando uma saída para o Atlântico, morreram cerca de 440 mil pessoas em ação; 100 mil brasileiros; 30 mil argentinos; 10 mil uruguaios; e 300 mil paraguaios; o Brasil anexando partes do atual Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina, antes do Paraguai. Na Guerra Civil Americana, de 1861 a 1865, morreram cerca de 650 mil pessoas em ação, com parcela significativa dos jovens americanos. Foram guerras vultuosas na história de nossos continentes. 92% dos homens e 67% do total da população do Paraguai morreram, às vezes referenciado como “genocídio” por algumas fontes.
  5. A Guerra do Acre entre o Brasil e a Bolívia decorreu de 1899 a 2003, devido a áreas de extração de borracha e reservas minerais, na ocupação por colonos brasileiros dessas áreas, então da Bolívia. A guerra resultou na anexação do Acre pelo Brasil, através de negociações e indenizações ao final do conflito. A Bolívia lutou com cerca de 600 a 700 combatentes, o Brasil com cerca de 4.000 a 8.000 combatentes. Não há registro do número de mortos e feridos.

No item da segurança pública, dados do Banco Mundial para 2021 mostram que o Brasil conta com 27 homicídios ano por 100 mil habitantes, México 29, Uruguai 12, Paraguai 7, Bolívia 6, Argentina 5, Estados Unidos 5, Europa 3, China 0,5, Japão 0,3.

A pacificidade do povo brasileiro é um mito.

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago, CEO da Sensus, e Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro

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