G20 no Rio: imigração é destacada como questão global por prefeita de Paris

Na manhã desta sexta-feira (15), no segundo dia do U20 Rio Summit, realizado no Armazém da Utopia, no Porto Maravilha, Rio de Janeiro, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, foi uma das convidadas ao lado do prefeito Eduardo Paes. Durante o evento, Hidalgo fez uma forte fala sobre a imigração, abordando a crise que afeta não apenas a França, mas toda a Europa.

A prefeita destacou que a imigração é uma questão global e de responsabilidade compartilhada, refletindo sobre os desafios enfrentados pelas nações e as tensões políticas que marcam o debate em torno do tema. Segundo ela, os países do (hemisfério) norte devem reconhecer a responsabilidade histórica pelos danos causados ao planeta, especialmente em relação à exploração de recursos naturais.

“Acredito que há vários níveis de desafios. Existe um desafio político, e concordo plenamente com as discussões sobre o Sul Global, que será, inclusive, tema do G20 e de nossos encontros entre prefeitos do Norte e do Sul. Os países do Norte precisam reconhecer sua parcela de responsabilidade pela forma como os recursos do planeta foram explorados de maneira desmedida, servindo ao desenvolvimento dos países do Norte, mas em detrimento dos países do Sul”, afirmou a prefeita.

Ela continuou ressaltando que, para avançar nesse reconhecimento, será necessário estabelecer mecanismos de financiamento para reparar os danos ao meio ambiente. Hidalgo também mencionou as propostas de líderes como o presidente Lula, sobre a necessidade de financiamento para restaurar ecossistemas e combater os danos causados pelos plásticos nos oceanos, citando como exemplo a situação das águas do planeta, que estão contribuindo para a crise climática.

A imigração, no entanto, foi destaque em sua apresentação. Para Hidalgo, o aumento das migrações ao redor do mundo é reflexo de uma série de fatores geopolíticos, como guerras, terrorismo e disputas por recursos energéticos e terras. Ela alertou que não se pode ignorar o impacto dessas questões na movimentação de pessoas que buscam escapar da miséria e da violência.

“Hoje, guerras, terrorismo e outros elementos que transformam a vida no planeta estão frequentemente relacionados à apropriação de recursos energéticos e territórios. A maioria dos conflitos no mundo tem origem em questões energéticas e na disputa por terras. Portanto, não se pode ignorar que esse tema está conectado a uma ordem multilateral que deveria ser mais justa na governança global”, declarou Hidalgo.

G20 - Rio de Janeiro - Foto: André Luiz - Diário Carioca
G20 – Rio de Janeiro – Foto: André Luiz – Diário Carioca

Ela também compartilhou sua experiência pessoal, lembrando que é imigrante (espanhola) e que ninguém deixa seu país de origem por vontade própria, mas por necessidade.

“Ninguém deixa seu país por prazer; ninguém abandona suas raízes, a menos que seja para fazer uma viagem turística, sabendo que vai retornar”, disse, destacando que a migração é muitas vezes uma questão de sobrevivência.

Críticas e iniciativas

Hidalgo criticou ainda a reação conservadora observada em alguns países, onde grupos fascistas têm ganhado força, com a proposta de fechar fronteiras.

“Nos países do (hemisfério) norte, infelizmente, temos visto uma reação que inclui conservadorismo, reacionarismo e até grupos fascistas, que acreditam que a solução é erguer muros ao redor de seus territórios”, afirmou.

Ela mencionou também que, em Paris, apesar das dificuldades políticas, continuam sendo realizadas iniciativas para ajudar os imigrantes, como a criação de centros de acolhimento. Hidalgo relatou a experiência de 2015, quando Paris enfrentou um grande fluxo de refugiados devido à guerra na Síria. Na ocasião, a cidade organizou o acolhimento de mais de 23 mil refugiados.

Painel G 20 - Foto: André Luiz Diário Carioca
Painel G 20 – Foto: André Luiz Diário Carioca

Hoje, no entanto, a situação é diferente, e Hidalgo afirmou que a falta de apoio do governo central dificulta ações semelhantes. Mesmo assim, ela ressaltou a importância de organizar o acolhimento humanitário, e criticou a postura de países que fecham suas fronteiras.

“A mensagem é: ‘Não nos peçam para cuidar do resto do mundo, porque nossas populações não toleram mais a sensação de que os estrangeiros estão sendo privilegiados’”, disse.

A prefeita de Paris também mencionou a dificuldade de lidar com a situação de jovens estrangeiros, principalmente homens vindos da África. Ela criticou o governo francês por não reconhecer essa realidade e enfatizou que a situação tende a agravar ainda mais o problema do populismo.

“Temos um governo que se recusa a reconhecê-los. Eles estão nas ruas, o que gera ainda mais angústia e fortalece o crescimento do populismo”, afirmou.

Futuro

Em relação ao futuro, Hidalgo se mostrou preocupada com a crescente intolerância e a polarização política na Europa, mas reafirmou seu compromisso com a resistência a essas forças reacionárias. Ela destacou que as cidades têm se tornado espaços de resistência democrática, com ações voluntárias e engajamento da população local, como no caso das “Noites da Solidariedade” em Paris.

“A questão da imigração é fundamental hoje para o rumo das democracias e para o desenvolvimento de políticas humanistas que possam mitigar os grandes conflitos existentes no mundo”, finalizou a prefeita de Paris.

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