Geração Z é a mais propensa a tomar empréstimo para apostas

 

Se a adesão generalizada às apostas on-line virou tema de preocupação nacional, uma pesquisa da organização Futuros Possíveis mostra que há uma faixa etária especialmente exposta: a geração Z, público entre 18 e 29 anos no recorte do levantamento, e principalmente de baixa renda.

É a ‘gen z’ a mais disposta à tomada de empréstimo para continuar apostando, com 45% do grupo indicando essa possibilidade no cenário de 12 meses. Na faixa de valores mais altos movimentados nas apostas, de R$ 201 a R$ 1 mil, a liderança também é dos gen z.

O estudo, nomeado ‘Futuro das Apostas Online 2024: Onde estamos e para onde vamos?’, mostra que a segunda faixa etária mais disposta a dívidas para apostas é a geração Y (de 30 a 42 anos), com 26%, seguida da geração X (43 e 59 anos), com 15% e, por último, os baby boomers (60 anos ou mais), com 11%. Ao todo, sem considerar a divisão etária, 25% das pessoas que apostam afirmam que tomariam um empréstimo para se financiar no jogo.

A pesquisa, em parceria com a Opinion Box, foram ouvidas 2.023 pessoas no país entre 18 e 25 de setembro de 2024, com margem de erro de 2,2 pontos percentuais. Dos respondentes, 922 pessoas fazem apostas online.

Sete em cada 10 deles afirmam que as finanças seriam impactadas se perdessem o valor apostado – e grande parte da explicação para isso é a exposição do público de rendas mais baixas.

Na divisão de classe socioeconômica, a pesquisa mostra que a classe D/E é a mais propensa a contratar uma dívida para financiar as apostas, com 33%, ante 19% da classe A/B e 15% da classe C. É nas rendas mais baixas que o jogo acontece com a propósito de aumento de renda (47% na classe C e uma percepção de 32% das classes D e E de que dá para melhorar a condição de vida apostando). Nas classes mais altas, o jogo é diversão.

“A geração Z é mais exposta a conteúdos de influenciadores e à publicidade massiva das, inclusive online”, diz Angelica Mari, CEO e cofundadora da organização. No recorte de renda, os dados socioeconômicos do estudo refletem as desigualdades brasileiras, ela complementa. “É um cenário desolador. Não sei qual vai ser o rumo, mas não é mais possível colocar o gênio de volta à lâmpada”, diz a CEO.

Um exemplo desse impacto na baixa renda é o que fato de mais cinco milhões de beneficiários do Bolsa Família terem enviado R$ 3 bilhões via Pix às empresas de bets, segundo análise técnica de setembro passado conduzido pelo Banco Central. A mediana dos gastos foi de R$ 100.

Os dados acenderam um alerta no governo e no mercado financeiro. Um passo relevante foi dado na última semana, quando o ministro do STF Luiz Fux determinou a adoção de medidas do governo federal para impedir o uso de recursos de programas assistenciais em apostas online e a vedou a publicidade de sites de aposta voltada a crianças e adolescentes – antecipando medidas previstas para 1 de janeiro de 2025.

A Futuros Possíveis defende que investir em educação financeira para toda a população, inclusive na forma de currículo escolar para os mais jovens, deve ser parte da reação do governo e das contrapartidas exigidas das empresas de apostas.

A organização surgiu em janeiro de 2023, com o intuito de apontar tendências em setores-chave da economia. Estudos anteriores incluem o futuro do trabalho, financiado pelo Boticário, e a digitalização de microempresas, contratado pela ContaAzul. A pesquisa sobre bets não foi contratada ou patrocinada por empresas.

Fonte: Pipeline Valor

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