O que é um jogo Roguelite? Guia completo sobre o gênero

Explore, lute, morra. Renasça e repita o ciclo, mais forte e experiente. Se algo pudesse definir os jogos roguelite, seriam esses dois trechos. Extremamente populares, esses jogos têm como principal objetivo apresentar uma nova oportunidade para quem busca vencer desafios – na base da insistência e paciência, diga-se de passagem. 

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Eles são jogos curtos, mas com um grau de dificuldade elevado nas fases e nos chefões. Tecnicamente falando, é um jogo criado para derrotar o jogador, mas deixando eles manterem parte dos recursos obtidos durante a partida anterior. Com isso, poderá subir de nível e comprar upgrades – tornando o mesmo trecho que te derrotou em algo mais simples. 

Ainda que os jogos roguelite tenham conquistado o segmento indie com jogos como Spelunky, Hades, Children of Morta, Enter the Gungeon, The Binding of Isaac e outros, o gênero já tem recebido um destaque maior com grandes franquias. Returnal, lançado como um dos principais carros-chefes do PlayStation 5, é um excelente exemplo de como o gênero anda recebendo atenção.


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Não confunda: roguelike não é roguelite

A origem do termo roguelike e roguelite parte do mesmo ponto, com o jogo Rogue lançado em 1980. Nele você explora as Masmorras do Destino atrás do Amuleto de Yendor, com a pretensão de sair do local com vida. Todos os cenários são criados de forma procedural – ou seja, gerado aleatoriamente – o que sempre dá um aspecto diferente para cada partida jogada.

Um de seus principais fatores é o “permadeath”, morte permanente em tradução livre. Ou seja, em Rogue, quando seu personagem morria, você teria de recomeçar a partida do zero. E é nisso que os “roguelikes” se apoiam – títulos que são explorados em fases procedurais, mas quando a barra de vida chega ao fim, você começa mais uma vez sem qualquer facilidade.

Os jogos “roguelites”, como o nome mesmo já sugere, são menos punitivos. Neles você retorna a um ponto inicial com parte do seu progresso – moedas, itens ou até mesmo um nível maior de alguma habilidade. Isso permite avançar na fase de um jeito um pouco mais fácil, dando uma sensação maior de progresso aos jogadores.

Origem dos jogos roguelites

Apesar de Rogue servir como inspiração, ele não foi o primeiro jogo do gênero roguelite a ser lançado. Esse papel foi de Beneath the Apple Manor, que produzido para o Apple II em 1978. Outros games do gênero surgiram depois, mas havia um grande consenso de lançar esses títulos no ecossistema dos PCs.

O Rogue original que serviu de referência a todo o gênero (Imagem: Divulgação/Epyx, Inc.)

Nos consoles as coisas começaram a andar apenas em 1993. Com a proposta de fazer os “roguelikes” para os videogames, a intenção era trazer um conceito mais simples, numa filosofia que deu origem aos “Mystery Dungeon” – que utiliza alguns elementos, mas é outra vertente. 

Com estes “Mystery Dungeon”, foi explorado muito do gênero RPG. Final Fantasy emprestou o mascote Chocobo para ter sua própria linha de jogos com a temática. Pokémon também montou um longo histórico com a variante, assim como vimos diversos outros entrando no barco: de Etrian Odyssey até a linha Digimon World.

Os jogos roguelites surgiram apenas a partir dos anos 2000, ganhando força no mercado ocidental de jogos. Alguns títulos como Weird Worlds: Return to Infinite Space até expandiram a ideia, mas ele ganhou a atenção mesmo com Spelunky – lançado em 2008 por Derek Yu. 

Spelunky mostrou que os roguelites funcionavam com outros gêneros (Imagem: Divulgação/Massmouth)

Fugindo de RPGs e de vários outros conceitos, ele se aproximou mais dos jogos de plataforma, abrindo as portas para as mais diferentes ideias que vieram nos anos seguintes. 

Pelas próprias palavras do desenvolvedor de The Binding of Isaac – Edmund McMillen – e dos desenvolvedores de Rogue Legacy, o que Yu fez com Spelunky foi mostrar que a natureza dos “roguelike” e “roguelite” poderiam ser aplicadas em outros gêneros. E a partir do momento que a indústria gamer percebeu isso, foi um verdadeiro estouro – que dura até hoje, com vários outros games fazendo sucesso até recentemente.

Quais são as características de um jogo roguelite?

Para um jogo ser reconhecido como roguelite, há algumas características que ele precisa ter – independentemente se é baseado em RPG, ação, deck builder ou qualquer outro que se entrelace. 

O primeiro é ter todo o ecossistema das fases sendo gerado aleatoriamente. Os ambientes, inimigos, aparição de itens, power-ups… Nada é preestabelecido ou programado com antecedência fora do “ponto inicial”, também conhecido como “ponto seguro”. 

Outra característica de um jogo roguelite é que seu personagem morrerá. Você não conseguirá jogar Hades, Spelunky ou qualquer outro game do gênero e zerar na sua primeira tentativa. E isso não tem relação com sua habilidade, mas sim com a curva de dificuldade. O “morrer” faz parte do processo, o que permite ao jogador retornar mais forte para vencer o desafio posteriormente.

Morrer faz parte dos roguelite (Imagem: Divulgação/Supergiant Games)

Dito isso, os jogadores devem prestar atenção que o foco dos jogos roguelite é na exploração e descoberta. Além da própria sobrevivência, a forma como você progride é tão importante quanto os demais aspectos – é ali que poderá coletar recursos e power-ups que poderão te ajudar futuramente.

Apesar da dificuldade acentuada e o processo de repetir ciclos, as recompensas costumam trazer um significativo progresso à experiência. Poder derrubar um chefão com mais facilidade, passar por todo um trecho sem receber danos ou até ganhar habilidades que impactam diretamente no seu desempenho costumam trazer sentimentos bons. 

Além de dar suporte às habilidades de seu personagem, os jogos roguelite também podem trazer recursos visuais – permitindo personalizar o herói ou heroína da forma como mais te agradar, seja através de skins, cores diferentes, amuletos ou outros que mudam seu estilo. 

Melhores exemplos de jogos roguelite

Entre os principais títulos roguelite que foram lançados ao longo dos últimos anos, alguns ficaram marcados como referências dentro da indústria gamer. Podemos citar os seguintes exemplos:

3. Spelunky

 

No papel de um explorador, você terá de entrar em templos e seguir até o ponto mais fundo deles – encarando diversos desafios em seu caminho. Spelunky pode ser carismático e ter um visual mais leve, mas não se engane: a experiência é totalmente punitiva e um passo errado pode te jogar novamente para o começo de tudo.

Todas as fases, monstros e elementos são criados de forma aleatória, garantindo que você tenha de avançar apenas com o conhecimento obtido de como o jogo roguelite funciona e dos upgrades que acaba ganhando conforme avança. 

2. The Binding of Isaac

 

Seguindo uma criança que está prestes a ter sua vida sacrificada, você terá de correr e obter diversas armas para sobreviver. Se Spelunky é conhecido como um jogo roguelite “de plataforma”, The Binding of Isaac se encaixa melhor no formato de “shooter de ação”. 

Este é aquele tipo de game em que você terá de levar consigo não apenas uma grande habilidade, mas também excelentes reflexos. A quantidade de coisas e elementos aparecendo em tela é alucinante e além de você ter de acertar seus oponentes, terá de ser capaz de desviar dos ataques deles – que podem vir de onde menos espera, diga-se de passagem. 

1. Dead Cells

 

Uma mistura de jogo roguelite com metroidvania, em Dead Cells você deve explorar uma enorme ilha – com diversos oponentes loucos para te fazer voltar à sua cela no subterrâneo e que muda suas principais estruturas de forma constante. Porém, eles não contam com a sua imortalidade e mesmo que volte do início, poderá progredir conforme obtém mais power-ups.

O game é bem divertido, sem gerar desconforto nem mesmo com a repetição dos ciclos. Ele também merece grandes méritos pelo suporte que o estúdio responsável deu ao longo dos anos, inclusive trazendo grandes crossovers – como ocorreu com Castlevania, com vários elementos da franquia integrando a experiência. 

Outros jogos roguelite notáveis

5. Slay the Spire

 

O lançamento de Slay the Spire pode não ter feito um grande barulho ou sucesso, mas o deck builder roguelite cativou toda uma comunidade e até acabou migrando para o ambiente de jogos de tabuleiro – ampliando ainda mais a experiência vista dentro do jogo indie.

Ele se destaca por trazer diversas rotas aos jogadores, permitindo que você selecione um caminho mais “seguro” – com recompensas pequenas – ou mais ameaçador – que traz mais riscos, mas te premia com cartas melhores para incluir em seu deck. Todo o jogo é um grande duelo típico de TCGs, o que é um atrativo maior para quem gosta do estilo. 

4. Returnal

 

Lançado em 2021 para o PlayStation 5 e posteriormente chegando aos PCs, este é um verdadeiro jogo roguelite “next-gen”. O estúdio Housemarque traz uma nave caindo em um planeta inóspito, com a astronauta Selene tentando sobreviver ao ecossistema ameaçador. E toda vez que ela morre, retorna no momento em que sua nave impacta no planeta novamente. Ou seja, sua única opção é seguir em frente.

Ainda que não seja um estúdio grande, a produção bate de frente com os principais jogos “AAA” daquele ano e se destacou bastante por seus gráficos e gameplay intenso. Levando em consideração que grande parte dos jogos do gênero são indies, este traz um diferencial interessante para ver como um alto investimento pode trazer diferenciais em sua qualidade. 

3. Don’t Starve

 

Misturando ciência e magia, Don’t Starve te coloca no papel de um cientista chamado Wilson – cujo principal objetivo é sobreviver aos terrores que rondam o mapa. Seja enfrentando monstros, armadilhas e vários perigos, este jogo roguelite é misturado com o gênero de sobrevivência.

Ou seja, você tem de colher recursos para estabelecer seu lugar nesse mundo. Do essencial, suas preocupações será ter um “teto” para ficar embaixo, caçar, pesquisar e montar objetos que podem te ajudar a ter mais um dia de vida. Seu visual 2D com ambientes 3D é um dos grandes atrativos, dando um charme a mais para a experiência. 

2. Balatro

 

Se não tivéssemos casos “bizarros” o suficiente entre os jogos roguelite, Balatro chega para nos apresentar à uma mistura entre o gênero e o pôquer. E ele é viciante e diverte, tanto que foi indicado ao prêmio de “Jogo do Ano” na The Game Awards 2024 ao lado de gigantes como Final Fantasy VII Rebirth e Black Myth: Wukong.

E há várias formas de curtir Balatro, os jogadores têm acesso a 8 níveis de dificuldades diferentes, desafios diários, cenário competitivo e mais de 150 tipos de cartas curinga – cada uma com uma habilidade distinta e que pode mudar o curso da sua estratégia. 

1. Hades

 

Hades chegou de supetão como um projeto da Supergiant Games e se tornou uma verdadeira febre ainda durante o Acesso Antecipado. Neste jogo roguelite você controla Zagreus, filho do deus do mundo dos mortos e que está tentando conhecer a sua mãe. No entanto, para isso ele precisará primeiro sair do império do seu pai – que fará de tudo para impedi-lo. 

Este é outro que também já recebeu uma indicação a “Jogo do Ano” quando lançou, atraindo bastante atenção ao gênero e também para a própria aventura. Com muito estilo, charme e batalhas eletrizantes, Hades virou um grande sucesso e agora temos o segundo game disponível nos PCs para dar sequência à sua narrativa.

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A popularidade dos roguelite

É importante ressaltar que, pela facilidade de se unir a outros gêneros e o grande fator replay, os jogos roguelite têm conquistado uma grande parcela do público. E isso tem impactado tanto a indústria que até um novo nicho passou a existir: jogos licenciados que pertencem ao gênero, com Teenage Mutant Ninja Turtles: Splintered Fate, guiando o caminho.

É certo que toda febre tem seu início, meio e fim, mas é justo afirmar que a adaptabilidade do modelo pode manter a chama acesa por um tempo mais prolongado do que se espera. Se em 15 anos tivemos uma leva grande de sucessos e lançamentos de impacto, possivelmente eles estarão nos acompanhando por mais algum tempo.

Além disso, os grandes nomes da indústria também passaram a ficar de olho nos jogos roguelite – a ponto de adicionarem parte disso em suas próprias franquias. Um exemplo disso é a expansão “Valhalla” de God of War Ragnarök. Ou seja, a discussão não é mais se isso se o gênero se expandirá mais, mas sim “quando?”. 

 

Melhores exemplos de jogos roguelite

  1. Spelunky
  2. The Binding of Isaac
  3. Dead Cells

Jogos roguelite notáveis

  1. Slay the Spire
  2. Returnal
  3. Don’t Starve
  4. Balatro 
  5. Hades

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