Mãe de vítima de ataque a creche em SC celebra chegada de nova filha: ‘Presente dela, do céu’

A dor de perder um filho é como uma ferida que nunca se fecha. Para os pais das crianças que foram mortas no dia 5 de abril de 2023, no ataque a creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau, o luto é ainda mais profundo.

Mas recomeçar não significa esquecer o passado. É o que aconteceu com Regina Maia, mãe de Larissa, uma das vítimas do atentado. Na última semana, a família encontrou um novo motivo para sorrir: Luísa Helena, a filha caçula de Regina e do marido, Michel Borges.

Nova filha represente um recomeço para a família, disse a mãe - Divulgação/Ketlin Lima/ND

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Nova filha represente um recomeço para a família, disse a mãe – Divulgação/Ketlin Lima/ND

Larissa é uma das vítimas do ataque a creche em Blumenau  - Divulgação/Ketlin Lima/ND

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Larissa é uma das vítimas do ataque a creche em Blumenau – Divulgação/Ketlin Lima/ND

Luísa Helena é o nome da nova filha de Regina  - Divulgação/Ketlin Lima/ND

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Luísa Helena é o nome da nova filha de Regina – Divulgação/Ketlin Lima/ND

Segundo a mãe, era o sonho de Larissa ter uma irmã  - Divulgação/Ketlin Lima/ND

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Segundo a mãe, era o sonho de Larissa ter uma irmã – Divulgação/Ketlin Lima/ND

Para o casal, a chegada da pequena representa um novo capítulo. Ela descobriu gravidez dias após completar um ano do ataque a creche.

“Eu descobri que estava grávida em abril, 10 dias depois que completou um ano do ataque. Foi de muita emoção. Eu e pai desejamos muito, ela foi planejada”, comentou Regina em entrevista ao ND Mais.

“Foi um misto de sentimentos, uma amiga estava comigo. Quando vi o resultado positivo não acreditei. Choramos muito, nos abraçamos. Foi um momento de muita felicidade. O pai soube no dia seguinte, quando fiz a revelação com os familiares”, completou.

Segundo Regina, os dias ficaram cinzas devido à morte de Larissa, no ataque a creche, e a chegada da pequena, trouxe um recomeço. “Luísa Helena é a resposta de Deus em minha vida. A vida depois da tragédia é uma luta diária e gerar uma nova vida veio como uma motivação para eu continuar seguindo”.

A gestação é um desafio para todas as mães, mas, segundo ela, gerar um novo filho, em meio a dor e luto da morte de outro, é muito difícil. “A saudade não passa, ninguém substituirá a Larissa, então eu enfrentei vários sentimentos”, desabafou.

“A gestação por si só já altera muito os hormônios femininos, imagina como eu fiquei ainda mais sensível. Dizem que não podemos chorar e passar esses sentimentos para o bebê, pois ele sente tudo, mas é inevitável nesse caso. Eu me permiti viver todos os sentimentos, acolhi os dias mais tristes e de saudade intensa, essa é a minha história e da minha filha, ninguém vai apagar e a Luísa vai crescer sabendo de tudo”, disse.

O nome da nova filha tem um significado ainda mais especial. Segundo Regina, Luísa era o nome de uma das bonecas favoritas de Larissa. “Já havíamos escolhido o nome dela antes mesmo da gravidez. Luísa é o nome de uma das bonecas preferidas da Lari que guardo comigo, e Helena é o nome da minha mãe. Juntamos em homenagem às duas”, contou.

Ataque a creche: recomeço sem esquecer o passado

Mesmo com o novo recomeço na vida do casal, a mãe explica que a Larissa é lembrada todos os dias e em todos os momentos. “Acreditamos que ela continua viva no plano espiritual. Temos fotos e objetos dela espalhadas pela casa, falamos e relembramos dela e dos momentos que tivemos, isso foi uma parte de cura para mim durante o luto”, conta.

Ela ainda conta que ao decorrer do ano, antes de descobrir a gravidez, foram meses e momentos difíceis. “Eu sempre digo que quando minha filha partiu, eu morri junto. E esse tem sido o maior desafio, me reconhecer, recomeçar e aceitar o novo eu. A vida continua, o trabalho me espera, a sociedade em si exige que sigamos imediatamente e eu não sou mais a mesma, nunca serei”, desabafou.

“Eu mesma não me reconheço, tudo mudou. A saudade ainda dói muito, fico imaginando como seria nossa vida com ela aqui, o que deixamos de viver, o que nos foi impedido e essa dor não tem explicação, é sentida todos os dias da minha vida em todos os momentos”, completou. 

Regina lembra da filha com carinho e ressaltou que sempre terá boas lembranças. “Sempre lembrarei dela sorrindo, feliz, me abraçando e dizendo o quanto nos amava. Nós vivemos os sete anos mais intensos e felizes possíveis, sou grata a Deus por isso”, concluiu.

Sentimento é de justiça, mas também de impunidade

Em agosto de 2024, o autor do ataque a creche foi julgado e condenado a 220 anos de prisão em regime fechado. Para Regina, a justiça neste plano foi feita. “Foi um júri de muitos sentimentos, ver aquela pessoa que tirou a vida da minha filha e das outras crianças frente a frente foi desafiador”.

“A partir dali eu senti que um ciclo se encerrou, lutamos até o fim e conseguimos a condenação esperada. O sentimento é de impunidade fica por que nada trará de volta minha filha”, desabafou.

Mesmo com todos os desafios enfrentados ao longo desses quase dois anos, Regina segue em frente, porque para ela, era assim que a filha iria querer.

“Depois que descobri a gravidez da Luísa Helena entendi ainda mais muitas coisas. Sou grata a Deus por me permitir ser mãe novamente, era um sonho ter uma irmãzinha e eu sei que esse presente veio dela, do céu”.

Vítima de ataque à creche

Larissa é uma das vítimas do ataque a creche em Blumenau – Foto: Ketlin Lima

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