Conheça um pouco da história do município de Milagres no Vale do Jiquiriçá que completa 63 anos de emancipação

Serra do Gavião, região de mata bruta, de trilha estreita para o sertão, aberta pelo pisotear constante de cavalos e cavaleiros, viandantes, tropeiros, comerciantes, vaqueiros, mascates e boiadeiros, em meio a agreste caatinga, com destino quase sempre à Maracás, Tamburi, Lençóis… A altivez dos montes, a gruta na rocha, a fonte de água cristalina perenemente a jorrar o vale a enriquecer a paisagem, não cansavam o olhar admirado daqueles que diariamente por ali passavam. Olhos atônitos, curiosos, perscrutadores, começaram a constatar a visão de uma jovem vestida de branco, a passear no topo do Morro da Bandeirinha, ou Morro da Lapa, assim chamado, por abrigar no seu bojo a Gruta da Lapa, como se quisesse lembrar aquela a Lapinha de Belém, onde Jesus nasceu.

A repetitiva visão inquietava os viandantes e despertava a curiosidade de outros tantos, que por ali passavam e queriam saber de quem se tratava, pois a notícia se espalhava por toda a redondeza. Por mais que tentassem aproximar-se ninguém conseguia alcançá-la. Ela era fugidia e de extraordinária beleza. Todos tentavam ver a misteriosa figura.

Passando por esse lugar um frade franciscano de nome Frei Luiz Maria Bento, ou Frei Luiz de Giove e sabendo dos recentes comentários, pernoitou na Fazenda Quixabas, para no dia seguinte percorrer o caminho que o conduziria ao Morro da Lapa, não muito fácil de vencer no tempo de um só dia, pois íngreme era o caminho, e avançada hora, o sol já se punha. Ao amanhecer, entre o ímpeto e a cautela, silencioso e prudente, o religioso rumou para o local. Acredita-se que também ele pode ter observado algo de misterioso ou de impressionante, permanecendo por mais alguns dias para a constatação dos fatos. É crível que o franciscano, encontrou uma imagem da Virgem Maria. Possivelmente numa das suas andanças pelo Morro, não se sabe deixada por quem. Afagando-a ao peito, desceu com ela para deixá-la até hoje nas mãos e no coração de tanta gente.

Reflexivo e absorto, sem deixar escapar um menor detalhe, perscrutador, cônscio de que há realidades que não enxergamos a sensibilidade visual, quis de logo relatar os fatos, os boatos e o achado aos seus superiores para melhor análise da Igreja. Anunciou de pronto um período de nove dias para a realização de Santas Missões. Providenciou a implantação de um Cruzeiro de madeira, na parte mais baixa do lugar, ficando o Lenho Sagrado como o marco primeiro desta terra. A primeira ermida foi feita de taipa e coberta de palhas. Durante o tempo das missões conclamou o povo a oração, e pediu que fossem colocando pedras para a construção de uma Igreja onde deveria ser colocada a imagem encontrada e que ficou intitulada por Nossa Senhora de Brotas.

A localidade, patrimônio do Chefe Fazendeiro, Joaquim da Costa Galvão, homem católico e generoso, sensibilizado, quis doar parte dos seus pertences à Igreja, doação registrada como Patrimônio da Casa de Oração de Nossa Senhora de Brotas e tratou de construir a princípio, uma ermida de taipa, coberta de palhas, onde foi colocada a imagem. Delegou ao seu administrador, José da Costa Galvão, a condução dos trabalhos de construção da Capela. A conclusão da obra deu-se a 08 de novembro do ano de 1862, dia de festa e de intensa romaria, com a presença do seu benfeitor Joaquim da Costa Galvão e de toda a sua família.

A história registra pessoas que construíram a choupana e o templo tais como Vicente Caboclo e Ursulino Campos. Orgulhosos eles contavam que suas mãos edificaram a Igreja de Nossa Senhora de Brotas. O seu ganho era de meia pataca ou cento e sessenta reis. A benfazeja passagem do Frei Luiz e o início das Santas Missões, datam de 30 de novembro de 1840.

O lugar pertencia a freguesia de Pedra Branca, que era uma aldeia de caboclos, assistida pelo Cônego Leovigildo José da Silva Freire, que cuidava da catequese dos índios. O chefe da aldeia, era o cacique Pedra Branca, o que originou o nome do local. Contava o Cônego Leovigildo que vinha constantemente celebrar missa no lugar dos milagres. Eram sempre muito freqüentadas. A devoção crescia e falava-se muito em graças alcançadas, em milagres realizados. A peregrinação ia aumentado a cada tempo.
No ano de 1921, o Padre Moysés da Silva Freire, assumiu o pastoreio da pequena comunidade. Era sobrinho do Cônego Leovigildo. Veio como vigário da Freguesia de Monte Cruzeiro e Pedra Branca. Celebrou sua primeira missa no dia 2 de fevereiro de 1922. Encantou-se com a mística do lugar, a freqüência dos romeiros, a perseverança dos peregrinos… emocionava-o cada expressão de fé, cada traço daqueles rostos, cada gesto daqueles mãos… gente simples, gente douta, de longe e de perto, de tantos recantos! Via comovido, o reabastecer de fé e da esperança de cada peregrino. Era mesmo ocasião para encontrar-se com Deus, numa profunda experiência de fé e de conforto espiritual, ao cumprirem o ritual próprio do romeiro.

Chegavam cantando, “Nossa Senhora, olha eu,/ Graças a Deus que eu cheguei,/ cheguei e me ajoelhei,/ Minha promessa eu paguei/ Graças a Deus que cheguei,/ Prá o ano eu torno voltar,/ Pros pés de vós eu beijar!”

Ao final de cada dia de romaria, assistia enternecido o momento das despedidas, com os hinos, cantos e benditos rasgando o sertão, como “Adeus, minha Mãe, adeus, / Adeus, que eu já vou-me embora. / Meu coração vai partido, / Por deixar Nossa Senhora”. Via extasiado, os acenos com os chapéus de palha decorados com fitas verdes ou azuis. Tanta gente que durante a estadia, cantarolavam ofícios e ladainhas, no latim aprendido pela escuta, e, sabe Deus, como era pronunciado. Iam-se todos, emocionados, lacrimosos, na vontade e na certeza do retorno no ano seguinte. Eram homens e mulheres, que vinham escutar a palavra de Deus. Alimentavam suas devoções, aprendiam a rezar, se encantavam com as pregações evangélicas, queriam conhecer Jesus, o Filho de Maria.

Aquele Padre entregou-se por inteiro ao trabalho pastoral. Estimulava de tal forma a sua missão, que um ano depois já não eram apenas 35 casas em volta da ermida. Muitas famílias já se estabeleciam no lugar. Começou a surgir o comércio local com a implantação de uma boa loja, uma casa de molhados, uma padaria… A feira livre, aos domingos estava crescendo, comercializando gêneros como farinha, verduras e frutas. Muitas rancharias começaram a ser construídas para abrigar os peregrinos que chegavam movidos pela fé. O Padre Moysés era incansável na missão e no labor. Mandou imprimir na Alemanha, registro (estampas) da Imagem de Nossa Senhora de Brotas tendo ao lado a nova Igreja.

No dia 2 de fevereiro do ano de 1923, foi realizada a primeira festa da Padroeira, Nossa Senhora de Brotas do Arraial de Milagres. A missa foi solene, cantada e campal. Teve a participação de sete padres, inclusive um frade franciscano, (não se sabe o nome). Milagres, graças, petições, orações, rezas e cantorias, ladainhas e ofícios, velas e retratos, prantos e louvores, uma multiplicidade de expressões de fé… assim nasceu e assim cresce as mais diversas formas de devoções, no ir e vir dos peregrinos, migrantes e caminheiros. Que devoção bonita, a dos devotos de Maria!

As romarias não paravam de chegar. Esse período se alongava até o último domingo do mês de abril, dia em que se celebrava a Festa do Senhor do Bonfim dedicada aos Vaqueiros. Conta-se que pastores e vaqueiros, cuidavam dos seus rebanhos em volta e até em cima dos altos montes que compõem o relevo local. Num desses dias um vaqueiro descuidou-se e a sua novilha, escorregou e caiu morro abaixo. No afã de recuperar o seu bem, o vaqueiro montado tentou salvar o animal e também de lá despencou, do enorme precipício, de elevadíssima altura, indo cair no vale. Teve a sensibilidade e a “fé” de gritar: “Socorra-me Nossa Senhora de Brotas”. Esse homem e seus animais chegaram ilesos ao fim da tormenta. O fato ocorreu num último domingo do mês de abril, data em que se celebra o Dia do Senhor do Bonfim. A partir desse acontecimento, os vaqueiros se reuniam de forma solidária, para agradecer o milagre, e passaram a celebrar juntos a Santa Missa e a Procissão em honra ao Senhor do Bonfim, com a presença maternal de Maria.

Com um clima semiárido está a uma distância de 234 quilômetros de Salvador, possui uma superfície de 317km², as estimativa da população é de10.994(dados do IBGE/2012), altamente prejudicada pelo último censo, que entendeu diminuir o seu território/população, sem atentar para as provas contundentes que já compõem a sua defesa. Está localizado no polígono das secas, fazendo limite ao norte com Itaim e Santa Terezinha, ao oeste com Iaçu e Nova Itarana, ao sul com o Rio Ribeirão, Brejões e Amargosa e ao Leste com Amargosa e Elísio Medrado. Segundo a Carta Governamental dos Municípios, localiza-se no Planalto de Tartaruga e na faixa da depressão do Rio Paraguaçu. Situa-se as margens da BR-116, o que lhe fomenta o desenvolvimento, a economia e a geração de emprego e renda, em escala desproporcional às suas necessidades e potencialidades. Tem como fonte de trabalho, os estabelecimentos comerciais, e a mão de obra absorvida pela Prefeitura Municipal dentro dos parâmetros legais vigentes. Portanto, é mínima a absorção e gigantesca a carência.

A estrutura administrativa, implantada em 1993, era constituída da Secretaria de Administração que trazia para si, todos os segmentos administrativos. Com o avançar das experiências e modernização organizacional do sistema, foram sendo implantadas e municipalizadas a Secretaria da Saúde, Secretaria da Educação, do Transporte, da Assistência Social, do Turismo, da Cultura, Esporte e Lazer, de Segurança, de Finanças, os Setores de Contabilidade, Tributação, Licitação…. E respectivas ramificações.

É uma bela cidade, com uma localização de fácil acesso no mapa geográfico do Brasil, e possui uma população hospitaleira de tradição em receber com todo carinho os visitantes. Ricamente abençoada com a beleza natural de suas montanhas, que nos faz um convite permanente, à caminhadas religiosas ou mesmo esportivas, são montanhas encravadas na caatinga que formam desenhos inusitados. Este cenário particular já atraiu produtores e cineastas famosos como Glauber e Walter Sales, que escolheram Milagres a para a produção de filmes como DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL, OS FUZIS, ENTRE O AMOR E O CANGAÇO e CENTRAL DO BRASIL, e mais recentemente foram filmadas cenas do ainda inédito BRASEIRO. A cantora Elba Ramalho também já escolheu este belo cenário para uma das capas de seus CDs e o Governo Federal.

O post Conheça um pouco da história do município de Milagres no Vale do Jiquiriçá que completa 63 anos de emancipação apareceu primeiro em Criativa Online.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.