Padrão “Kardashian” sai de cena e dá espaço à beleza natural. Entenda

Recentemente, repercutiu nos noticiários o aumento de pessoas desfazendo harmonizações faciais e cirurgias estéticas. Figuras como Gkay, Eliezer e Scheila Carvalho são exemplos dessa nova tendência.

Mas, afinal, a trend não era seguir o tão falado padrão “Kardashian”, que enaltece corpos com curvas acentuadas e lábios carnudos? O que mudou?

A popularização dos procedimentos estéticos ganhou força com a exposição nas redes sociais, que influenciam diretamente a percepção de beleza e a autoimagem. Em outras palavras, a constante comparação com os padrões idealizados na internet pode motivar a busca por mudanças na própria aparência.

Na imagem com cor, foto da influencer Gkay - metrópoles
A influenciadora Gkay também retirou os procedimentos estéticos

Carlos Tagliari, cirurgião plástico membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), explica ao Metrópoles que para abordar os resultados da estética e o modismo nesse campo, é importante observar o comportamento das celebridades e influenciadores.

“Quando eles se tornam um ícone de beleza devido a um tipo específico de corpo ou rosto, isso tende a criar tendências. Essas influências levam homens e mulheres a desejarem aquele formato de rosto ou corpo, aumentando a demanda por procedimentos estéticos e cirúrgicos”, avalia.

Segundo o profissional, a sociedade já passou por momentos que exaltavam a naturalidade, seguidos por épocas de extravagância, com resultados muito marcados. Agora, ele explica, o foco vai em direção a uma estética mais natural e equilibrada, “com resultados menos exagerados”.

A culpa pode estar justamente nos resultados

A médica Fernanda Nichelle, que atua exclusivamente na área da estética, acredita que a busca pela reversão da harmonização facial seja decorrente do descontentamento com os resultados das intervenções, sobretudo de quem “pesou a mão”. A falta de experiências dos profissionais pode ter “culpa” nisso.

“O que ocorre é que, devido à inexperiência de muitos profissionais, a aplicação imediata pode gerar um resultado aparente satisfatório. Contudo, pela falta de experiência, eles não conseguem prever os possíveis efeitos a médio e longo prazo, resultando, assim, em um resultado inestético”, relata Fernanda.

Apesar disso, a médica acredita que não tenha acontecido uma mudança no padrão estético, mas sim a valorização da beleza natural, mais difícil de ser alcançada. O ser humano, segundo ela, tem tendência a procurar e buscar o que não é comum ou o que está fora do alcance da maioria.

Harmonização facial
A aplicação de ácido hialurônico no rosto para harmonizar a face tornou-se um procedimento muito popular no último ano

“A padronização, por sua vez, é algo comum, tanto que hoje qualquer pessoa pode realizar procedimentos estéticos com praticamente qualquer profissional. O que ocorre é que as pessoas estão buscando, naturalmente, aquilo que é considerado mais inatingível”, emenda.

Queixas mais comuns

Um levantamento feito em 2022 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária revelou que das 10 categorias de serviços de saúde analisadas pela autarquia, os grupos de estética e embelezamento responderam por mais de 50% das queixas.

De acordo com o cirurgião plástico Carlos Tagliari, as principais queixas estão relacionadas ao excesso de produto. Como resultado, os pacientes ficam com rostos muito volumosos ou quadrados, além de apresentar assimetrias, nódulos, inchaço e até complicações como palpação de produto em áreas inestéticas.

Em alguns casos, a reversão pode ser feita, mas isso depende do tipo de produto utilizado, quantidade e tempo desde a aplicação. “Produtos temporários podem ser dissolvidos, mas produtos permanentes muitas vezes exigem intervenções cirúrgicas, que podem deixar cicatrizes visíveis”.

“Busca pela perfeição só traz mais insatisfação”

Um dos problemas da busca pela perfeição é acreditar que ela é alcançável. Embora muitas pessoas ainda sejam influenciadas por padrões irreais, a psicóloga Rayana Sally observa que, socialmente, está surgindo um cansaço em relação aos padrões estéticos.

“O avanço da inteligência artificial, com ferramentas que alteram traços faciais e criam imagens perfeitas tem contribuído para essa saturação, porque reforça um padrão inalcançável e cada vez mais distante do natural.”

Montagem com fotos coloridas de Eliezer - Metrópoles
Eliezer foi um dos influenciadores que se arrependeu do excesso de procedimentos 

No aspecto psicológico, a hipnoterapeuta clínica e palestrante percebe que muitas pessoas estão começando a olhar para dentro e se libertando das imposições externas. Como consequência, estão se reconectando com a própria beleza, sem abrir mão do cuidado estético.

“Não se trata de abandonar os procedimentos, mas de entender se eles refletem um desejo genuíno ou apenas a tentativa de atender a padrões impostos. Nesse movimento, o foco tem sido valorizar e realçar as características naturais, em vez de transformá-las completamente”, diz Rayana.

Cuidados com a escolha do profissional

Ao Metrópoles, o cirurgião plástico Carlos reforça que tem acompanhado um movimento crescente em busca de naturalidade. Mas, isso não significa evitar intervenções estéticas e sim, realizá-las de forma que realçam os traços naturais do paciente.

Para o expert, o avanço das técnicas cirúrgicas e estéticas possibilita resultados mais precisos e sutis, mas o sucesso dos procedimentos depende muito da habilidade e do senso estético do profissional.

“Hoje, dispomos de tecnologias, materiais e abordagens menos invasivas, que permitem resultados mais naturais e reversões em casos específicos. Entretanto, é essencial evitar o excesso desde o início. A verdadeira beleza está em realçar o que o paciente já tem, e não em transformá-lo em outra pessoa”, conclui.

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