Poluição por chumbo pode ter causado queda do Império Romano

Se você estivesse querendo saber mais sobre o Império Romano, onde iria procurar? Provavelmente não em um bloco de gelo enterrado nas profundezas do Ártico. Pois é justamente nesse lugar que pesquisadores do Desert Research Institute encontraram informações precisas e importantes sobre a civilização de 2.000 anos atrás!

  • Clique e siga o Canaltech no WhatsApp
  • Entenda a trend do Império Romano que se espalhou pelas redes sociais
  • Pesquisadores extraem gelo de 5 milhões de anos na Antártida

No polo norte, núcleos de gelo guardam pequenas bolhas de ar, preservando dados microscópicos de como o clima do passado era, já que foram congelados na camada de gelo da época. Essas cápsulas do tempo informam, entre outras coisas, os níveis de poluição atmosférica por chumbo, algo importante para os cientistas.

Intoxicação por chumbo no passado

Ao estudar os núcleos gelados, Joe McConnell e sua equipe conseguiram revelar detalhes de dois milênios atrás, durante a Pax Romana, período em que o Império Romano passava por paz e estabilidade relativas. Foi quando houve um aumento na mineração e fundição, operações que a civilização executou por toda a Europa.


Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.

Nas forjas catalãs, o minério é superaquecido para ser separado da rocha: na imagem, um mineral recém-retirado da fornalha (Imagem: Morgan Riley/CC-BY-S.A-3.0)
Nas forjas catalãs, o minério é superaquecido para ser separado da rocha: na imagem, um mineral recém-retirado da fornalha (Imagem: Morgan Riley/CC-BY-S.A-3.0)

A fundição foi muito importante para os romanos, já que permitiu extrair materiais como ferro, cobre e chumbo de núcleos rochosos. Para isso, era usado um equipamento chamado “forja catalã”, onde o minério era aquecido com carvão junto a uma forte corrente de ar. O calor intenso gerado separava o metal do núcleo, derretendo o material e fazendo-o se acumular no fundo. 

Os metalúrgicos da época usavam a matéria-prima para fabricar todo tipo de material, desde espadas e armaduras — com o ferro — a estátuas e moedas — com o bronze, uma mistura de latão e cobre.

Já o chumbo era usado em encanamentos e construções. Com os isótopos preservados no gelo, descobriu-se quando foram o ápice e a queda dos níveis de poluição por chumbo na atmosfera: respectivamente entre os anos de 500 a.C. e 600 d.C.

A poluição pelo metal teve início durante a Idade do Ferro, chegando ao ápice no final do século 2 a.C., durante a República Romana. Com um declínio acentuado durante a Crise do Primeiro Século, os níveis voltando a subir por volta do ano 15 a.C., seguindo a ascensão da Roma imperial.

O uso de chumbo pela civilização romana coincide com seus períodos de ápice e declínio, e efeitos do mineral no corpo humano podem explicar parte de sua queda como Império (Imagem: Hans Splinter/CC BY-ND)
O uso de chumbo pela civilização romana coincide com seus períodos de ápice e declínio, e efeitos do mineral no corpo humano podem explicar parte de sua queda como Império (Imagem: Hans Splinter/CC BY-ND)

Estima-se que, quando a civilização estava em seu melhor, mais de 500 kilotons (milhares de toneladas) de chumbo foram emitidos na atmosfera, principalmente como subproduto da mineração de prata. A poluição pôde, assim, ser ligada a eventos históricos e mudanças sócio-econômicas, juntando ciências para descobrir mais sobre o passado.

Apesar do declínio da poluição por chumbo na queda do Império Romano, foi só no início do segundo milênio d.C. que os níveis no Ártico começaram a subir muito mais do que os da época romana. Essa exposição crônica ao metal possui impactos longevos na saúde, em diversos de seus quesitos.

Na pesquisa, os cientistas focaram no declínio cognitivo, já que pode ser medido numericamente. A intoxicação pelo metal pode reduzir de 2 a 3 pontos de QI, o que não parece muito, mas, quando afeta toda a população europeia, pode causar um impacto significativo.

Isso pode explicar os erros administrativos e estratégicos que levaram à queda do império romano, o que levanta questões sobre a poluição moderna pelo material: o mais importante da pesquisa é ligar eventos passados ao contexto atual, mostrando como atividades antigas podem impactar nossa saúde até mesmo nos tempos modernos.

Leia também:

  • Medicina na Roma antiga tinha fórceps, bisturi e pinças como atualmente
  • Metais pesados em chocolates famosos: quais os riscos à saúde?
  • Gelo coletado nos Alpes contém o registro climático dos últimos dez mil anos

VÍDEO: Passagem para o submundo Zapoteca

 

Leia a matéria no Canaltech.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.