Cessar-fogo em Gaza: mundo ficará menos feio se Kfir estiver vivo

Entre os reféns israelenses que começarão a ser libertados pelos terroristas do Hamas a partir deste domingo, figuram os nomes de Kfir e Ariel Bibas e o da mãe deles, Shiri.

O vídeo de Shiri abraçada aos filhos igualmente ruivos, no momento em que a família foi sequestrada no kibutz Nir Oz, é uma das imagens mais pungentes do 7 de outubro de 2023. E Kfir, principalmente, virou um símbolo para os israelenses.

Kfir era um bebê de apenas 9 meses quando foi levado pelos terroristas; Ariel era um menino de 4 anos. Pouco tempo depois, o Hamas anunciou que ambos, assim como Shiri, haviam sido mortos em ataques israelenses a Khan Yunis, uma cidade da Faixa de Gaza.

As mortes nunca foram confirmadas, terroristas sanguinários também fazem terrorismo psicológico, e a verdade é que não se sabe se mãe e filhos continuam vivos — nem o pai, Yarden.

Os parentes estão cautelosos com o anúncio da libertação próxima de Kfir, Ariel e Shiri. A esperança deles foi alimentada para ser frustrada diversas vezes, como quando houve o cessar-fogo temporário, em novembro de 2023, que permitiu a volta de alguns dos 250 reféns que foram extirpados do seu cotidiano pelo Hamas e pelos seus cúmplices.

“Nós ganhamos experiência e decepção suficientes e, portanto, não há fim para essa história até que nossos amados cruzem a fronteira”, disseram os parentes, em comunicado.

A primeira etapa do acordo prevê a libertação de 33 reféns, em um prazo de seis semanas. Se o cessar-fogo continuar, haverá negociação para a libertação dos outros 65 que continuam em cativeiro — ou dos seus corpos —, sempre em troca de dezenas de prisioneiros palestinos para cada refém israelense.

Não há de se falar em volta dos sequestrados, mas de ressurreição, como disse o professor Hagai Levine, que integra o Fórum das Famílias Sequestradas, em Tel Aviv, a um grupo de jornalistas estrangeiros. Porque é uma espécie de morte o que os reféns experimentam em Gaza, há 1 ano e 3 meses, submetidos que estão a fome, surras, torturas, solidão e estupros.

Para ressuscitar os mortos em vida, assim que devolvidos a Israel, eles passarão a ser cuidados por pequenas equipes compostas por médicos, psicólogos e assistentes sociais, distribuídas em áreas hospitalares especialmente reservadas para recebê-los.

As equipes serão pequenas porque os israelenses aprenderam que é melhor para os recém-libertados ver poucos rostos e receber poucos estímulos no novo início. A ressurreição tem de ser suave, gradativa, por implicar uma série de dificuldades: de feridas físicas a diversos tipos de feridas na alma. De desorientação espacial a perda de memória. De dificuldade de fala até a mutismo completo.

O inferno do Hamas continuará a impingir dor nas vidas israelenses e a instilar ódio nas vidas palestinas. Quando foi anunciado o acordo de cessar fogo, difundiram-se imagens de jovens de Gaza que comemoravam o que seria a derrota de Israel e que gritavam pela destruição dos judeus.

É evidente que não haverá paz duradoura no Oriente Médio enquanto existir o Hamas, que causou a morte de milhares de palestinos para manter dezenas de israelenses em cativeiro, naquela que é a troca mais perversa desta guerra. Mas o mundo ficará um pouco menos feio se Kfir e Ariel forem devolvidos vivos.

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