Fraude no SUS: prefeito promoveu servidora investigada por esquema

Prefeito de Queimados, cidade que ocupa a 73ª posição no IDH do Rio de Janeiro, Glauco Kaizer (União Brasil) promoveu uma servidora a cargo de direção mesmo após denúncias de que ela orquestrava fraudes no Sistema Único de Saúde (SUS). Nesta terça-feira (21/1), a Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação contra 12 pessoas suspeitas de participação no esquema que, de tão mal-ajambrado, agendou vasectomia para mulheres e consultas ginecológicas para homens. O indício de fraude no município da Baixada Fluminense foi revelado pela coluna em setembro de 2024.

Segundo documentos obtidos pela coluna, a denúncia sobre fraudes no Sistema Nacional de Regulação (Sisreg) começou quando um paciente perdeu a vaga para uma pessoa que não estava na fila. A documentação que embasou o alerta chegou à Câmara Municipal no dia 14 de março de 2024, e, de acordo com os papéis, foi enviada à Secretaria Municipal de Saúde uma semana depois.

Em 27/3, a servidora Crislaine Cristina da Cunha Silva foi nomeada pelo prefeito como diretora do Departamento de Regulação, Controle e Avaliação na Secretaria Municipal de Saúde. Na função, ela recebeu salários que variavam de R$ 4,1 mil a R$ 5,5 mil.

Crislaine está na lista de servidores que supostamente praticavam as fraudes para negociar as vagas em troca de votos. Ela agendou para si mesma procedimento de vasectomia, cirurgia contraceptiva destinada a homens. Num único dia, a então funcionária chegou a agendar 35 atendimentos que vão de pediatria a laqueadura.

Eis a lista de agendamentos que chamaram atenção da Polícia Federal:

  • Samuel De Oliveira Rodrigues, com 17 consultas
  • Altamiro Do Nascimento Costa, com 87 consultas;;
  • Maria Clara Pires Dos Santos, com 146 consultas;
  • Juliana Gomes Bezerra, com 241 consultas;
  • Crislaine Cristina Da Cunha Silva, com 294 consultas;
  • e Julio Cesar Gomes Bezerra, com 347 consultas.

Antes de ser promovida, Crislaine tinha um cargo comissionado de coordenadora de marcação de consultas na mesma secretaria. O salário desse posto era de R$ 2.043, a metade do que ela passou a receber como diretora. Ela foi demitida em 01/10 do ano passado, exatamente um mês após a publicação da reportagem sobre o esquema. No Portal da Transparência de Queimados, o campo destinado a explicar o motivo da demissão não está preenchido.

Vereador diz que avisou prefeito

Em ofício enviado à Prefeitura de Queimados no dia 30/8, o vereador Lúcio Mauro (PP) solicitou informações sobre a investigação interna em curso na gestão municipal. O parlamentar afirmou que o prefeito sabia das acusações contra Crislaine e que ignorou aviso enviado via WhatsApp após a nomeação para o cargo de diretora.

“Vale destacar que, além de ter sido informado das irregularidades por outros meios, este vereador avisou ao prefeito Glauco Kaizer, no dia 27/3 de 2024 – via WhatsApp, que sob a portaria n° 582/GAP/24 ele estava promovendo a investigada Crislaine para o cargo de diretora do Departamento de Regulação, Controle e Avaliação com salário bem superior ao anteriormente ocupado. Agora com plenos poderes para continuar a cometer irregularidades”, escreveu Lúcio Mauro.

A servidora entrou na Prefeitura de Queimados em 2021, nomeada pelo próprio prefeito Glauco Kaizer. O pastor estava no primeiro ano de mandato à frente da gestão municipal. Ele foi eleito em 2020 e reeleito em 2024.

Procurada, a Prefeitura de Queimados afirmou que só recebeu comunicação oficial em 30/8 e nega ter sido alertada pela Câmara Municipal antes disso. Já segundo o Poder Legislativo, os autos foram remetidos à Secretaria de Saúde no dia 21/3 de 2024.

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