Petrobras já deixou de faturar R$ 20 bilhões com ‘congelamento de preços’

 

A tolerância da Petrobras com a crescente defasagem dos preços dos combustíveis em relação aos praticados no mercado internacional já lhe custou muito dinheiro neste terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), apenas no período de janeiro a novembro de 2024, a petrolífera deixou de faturar 9,3 bilhões de reais. À conta pode ser ainda maior. A Refina Brasil, entidade que reúne as refinarias privadas do país, estima que as perdas cheguem a 20 bilhões, quando se recua até 2023.

Enquanto os preços globais do petróleo e do dólar sobem, a gasolina e o diesel vendidos pela Petrobras ficam para trás, aumentando a defasagem. A gasolina, por exemplo, encerrou a semana passada com uma defasagem de 7% em relação à média internacional. No caso do diesel, a diferença já chega a 16%, segundo a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom).

Ontem, a presidente da companhia, Magda Chambriard, se reuniu com Lula e os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa. A pauta do encontro não foi divulgada, mas Chambriard teria comunicado aos presentes que o preço do diesel será reajustado em breve. O tamanho do aumento ainda é calculado pelos técnicos da empresa.

Embora o ajuste possa encurtar a distância entre o diesel brasileiro e o exterior, a própria reunião da executiva com a cúpula do governo não foi bem recebida pelo mercado, sensível a qualquer ingerência política. “Do ponto de vista da governança corporativa, acrescentamos ainda que a execução da política de preços da companhia é de competência de sua diretoria executiva”, diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. “Vemos de forma negativa a ocorrência de reunião do governo com o conselho de forma a pressionar este a não reajustar os preços de derivados no país”, comenta.

Este cenário remete a um passado não tão distante, durante a gestão de Dilma Rousseff, quando a política de preços controlados levou a uma grave crise na Petrobras. Na época, a companhia sofreu um rombo bilionário devido à manutenção de preços artificialmente baixos, enquanto o mercado global operava em patamares elevados. A tentativa de segurar os preços, em nome do controle inflacionário, acabou por gerar uma das maiores crises financeiras da empresa, com impactos devastadores para sua saúde fiscal e operacional. O efeito cascata resultou em um dos maiores episódios de desvalorização da Petrobras, que se viu no epicentro de um colapso financeiro e de confiança do mercado.

Em fevereiro de 2025, a retomada da cobrança integral do ICMS sobre os combustíveis terá um impacto imediato no aumento dos preços, ampliando ainda mais a defasagem existente entre os valores praticados no Brasil e os preços internacionais. O ICMS, que incide sobre o valor final dos combustíveis, será reajustado em todos os estados, criando uma pressão adicional sobre os preços da gasolina e do diesel.

Esse aumento ocorrerá em um momento crítico, quando a Petrobras enfrenta uma pressão crescente sobre sua política de preços, que permanece inalterada há meses. O último reajuste da gasolina foi realizado em julho de 2024, e o diesel não recebeu qualquer ajuste desde dezembro de 2023. Desde então, a defasagem entre os preços internos e internacionais tem se aprofundado, colocando a estatal em uma posição difícil.

Este quadro coloca a Petrobras em uma posição altamente vulnerável. A defasagem acumulada pode resultar em uma nova pressão sobre a saúde financeira da empresa e suas operações, podendo levar a uma repetição de erros do passado, quando a gestão de preços foi usada como ferramenta política.

Fonte: Veja

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