Ex-servidor do Ibama é investigado por “sumiço” de lancha e 48 armas

Nilson Tadeu Isola Lago Júnior, ex-servidor do Instituto Brasileiro de Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), é investigado pela Polícia Federal (PF) pelo “sumiço” de 48 armas e de uma lancha de posse do órgão ambiental, quando ainda era chefe da área de fiscalização do Ibama.

Ele foi alvo de mandado de busca e apreensão no último dia 23 suspeito de também ter cedido uma pistola do Ibama para o líder de uma organização criminosa de tráfico de drogas em Rondônia.

Um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) foi instaurado pelo órgão ambiental para apurar o susposto crime de peculato cometido por Nilson Lago. Ele, no entanto, pediu vacância do cargo em setembro passado, após passar em um outro concurso do governo estadual de Rondônia.

O sumiço da lancha

A coluna apurou que Nilson Lago é suspeito de ter sumido com uma lancha, com capacidade de oito lugares, apreendida numa operação conjunta da PF e Ibama contra o garimpo ilegal na região, em meados de dezembro de 2023.

A embarcação, que não chegou a ser destruída como outros equipamentos encontrados com os criminosos, ficou inicialmente acautelada no pátio da PF. Como a apreensão da lancha foi feita pelo Ibama, Nilson Lago informou aos demais colegas que iria buscar a embarcação e trazer para o pátio do órgão ambiental. Em seguida, a lancha sumiu.

Sob reserva, uma pessoa que já trabalhou com ele suspeita que Nilson tenha devolvido a embarcação para os infratores. O caso segue sendo investigado pela PF e pela Corregedoria do Ibama.

O sumiço das armas

Naquele mesmo mês, Nilson Lago retirou das dependências do Ibama um total de 48 armas artesanais e 26 lotes de munição. O material tinha sido apreendido nos últimos anos pelo Ibama com garimpeiros, grileiros, invasores de terra e desmatadores. Os armamentos seriam destinados ao Exército para destruição.

No dia que efetivou o furto das armas, Nilson chegou antes do horário de expediente. Ainda assim, foi visto por um servidor que, no primeiro momento, não desconfiou. Para não levantar suspeitas, Nilson mentiu para o colega informando que estava levando as armas para a PF para um suposto treinamento e que depois as devolveria. O arsenal nunca mais voltou.

No inquérito que apura o caso, a PF escreveu que esses armamentos e munições, segundo os agentes da PF, não foram destinados ao treinamento ou sequer devolvidos. “Caracterizando o peculato dos materiais bélicos pertencentes ao Ibama. Em resumo, o armamento ‘sumiu’ assim como a embarcação com motor”.

Procurado, o Ibama confirmou que o PAD foi instaurado, mas ainda não foi concluído. “Procedimentos disciplinares em andamento têm acesso restrito a agentes públicos legalmente autorizados e às partes interessadas, sendo franqueado o acesso a terceiros somente após o julgamento, sem prejuízo das demais hipóteses legais sobre informações sigilosas”.

“Ademais, o Ibama reforça que não coaduna com condutas ilícitas praticadas por seu corpo funcional e que trabalha para minimizar essas condutas por meio, por exemplo, do Programa de Integridade”, reiterou o órgão ambiental, por meio de nota.

Ex-servidor foi preso em flagrante por porte ilegal de arma

Nilson Lago, de 36 anos, foi preso em flagrante no mês passado por armazenar, ilegalmente, armas de uso restrito em casa. A PF encontrou os objetos debaixo do colchão da cama dele.

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Nilson Lago mantinha várias munições de uso restrito escondidos debaixo da cama. Armamento não foi devolvido ao Ibama.

Uniforme, notebook e vários outros equipamentos do Ibama que NIlson Lago não devolveu ao órgão após pedir demissão em setembro.
Carteira funcional do Ibama de Nilson Lago que não foi devolvido
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Crachá funcional do Ibama de Nilson Lago que não foi devolvido

PF/Reprodução

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Nilson Lago mantinha várias munições de uso restrito escondidos debaixo da cama. Armamento não foi devolvido ao Ibama.

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Uniforme, notebook e vários outros equipamentos do Ibama que NIlson Lago não devolveu ao órgão após pedir demissão em setembro.

PF/Reprodução

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Carteira funcional do Ibama de Nilson Lago que não foi devolvido

PF/Reprodução

 

Em depoimento, ele admitiu aos agentes que as munições pertencem ao Ibama e que não devolveu o material bélico, além dos equipamentos funcionais, quando se desligou da instituição em setembro passado.

A Justiça aceitou que Nilson pagasse fiança, no valor de 15 mil, no mesmo dia em que foi preso. Feito o PIX, ele foi solto e está em liberdade provisória.

Na casa Nilson Lago, os agentes da PF encontraram também apetrechos para uso de maconha e cocaína. Ele admitiu que “eventualmente” faz uso de drogas.

Quando Nilson começou a ser investigado

A PF bateu na porta da casa de Nilson Lago no mês passado, após descobrir que uma das armas apreendidas, em novembro passado, com o traficante José Heliomar de Souza pertence ao Ibama.

À época, a PF deflagrou a Operação Puritas para prender Heliomar, apontado como líder de uma organização criminosa em Rondônia, mais policiais envolvidos no tráfico interestadual de cocaína. Heliomar cooptava agentes de segurança pública para o transporte da droga, e tinha relação com o Comando Vermelho (CV).

Nilson Lago deu diferentes versões aos policiais sobre o paradeiro da arma, tendo inclusive mentido ao dizer que tinha, sim, devolvido a pistola ao Ibama e que não era a mesma arma que foi encontrada com José Heliomar.

No entanto, a PF localizou na casa de Nilson o “case”, dois carregadores e o registro da mesma arma que foi encontrada com o traficante. Dessa forma, o ex-servidor do Ibama é suspeito de ter cedido a arma a José Heliomar de Souza. Os investigadores apuram agora em que circunstâncias isso teria acontecido. A Corregedoria do Ibama colabora nas investigações.

“Logo após a vacância com solicitação de entrega da arma o servidor praticou de forma permanente o porte ilegal da arma de fogo funcional”, escreveu a PF no inquérito que a coluna teve acesso.

Durante oitiva, Nilson Lago “negou envolvimento com qualquer organização” criminosa e que “nunca foi preso”. Procurada pela coluna, a defesa dele não quis se manifestar.

A Polícia Federal informou, por meio de nota, que o Ibama colaborou “com todas as fases da investigação empreendida”.

Pouco tempo no Ibama

Atualmente, Nilson é Analista em Desenvolvimento Social na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SEAS) do governo do Estado de Rondônia, onde tem salário bruto de R$ 7 mil. Os dados são do portal da transparência.

Natural do Rio de Janeiro, ele ficou pouco tempo no Ibama até pedir baixa em setembro de 2024. Ele ingressou no órgão ambiental em julho de 2022 para o cargo de técnico ambiental, em Rondônia.

A coluna apurou que ele fez quase todos os cursos oferecidos pelo Ibama para capacitação dos servidores. Em agosto de 2023, ele foi designado para o cargo de chefe do Núcleo de Fiscalização Ambiental, da Divisão Técnico-Ambiental, da Superintendência do Ibama, em Rondônia. Função essa que exerceu até abril do ano passado.

Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com ênfase em Antropologia, Nilson Lago foi Técnico em Assuntos Educacionais na mesma instituição de ensino, antes de assumir o cargo no Ibama. Ele é visto pelos demais colegas como “concurseiro”.

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