Se a terra é plana e Tancredo foi envenenado, Bolsonaro é inocente

Jamais terminará a discussão sobre se o 8 de janeiro de 2023 foi uma tentativa de golpe de Estado que fracassou ou se não passou de um ato de baderna que culminou com a depredação dos prédios do Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal.

A terra é plana ou seu formato é circular, achatado nos polos? O homem pisou na lua pela primeira vez em 1969 ou o que vimos não passou de uma encenação da Nasa produzida por Hollywood para pôr os Estados Unidos à frente dos russos na corrida espacial?

Tancredo Neves, eleito presidente da República depois de 21 anos da ditadura de 64, morreu sem tomar posse porque estava seriamente doente ou morreu envenenado? E Trump, estimulou ou não a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2020?

O escândalo do mensalão do PT, que estourou em 2005, abalou o governo Lula, que chegou a falar em renúncia ao cargo. Falou também que fora traído pelos suspeitos de terem comprado votos de deputados para aprovar matérias do seu interesse.

No dia 12 de agosto, em pronunciamento à Nação, ele afirmou:

“Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, que eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o país”.

“Se estivesse ao meu alcance, já teria identificado e punido os responsáveis por esta situação. Por ser o primeiro mandatário da Nação, tenho o dever de zelar pelo estado de direito.  Meu governo está investigando a fundo todas as denúncias.”

Sete anos depois, pelos crimes de corrupção ativa e passiva, evasão de divisas, formação de quadrilha, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e peculato, o Supremo Tribunal Federal condenou 25 réus à prisão e absolveu 12. Lula já não era mais presidente.

Pergunte, hoje, a Lula, o que foi o mensalão. No passado, ele já tratou o mensalão como uma tentativa de golpe contra seu governo e anunciou que as denúncias de compra de votos no Congresso não passavam de uma farsa montada pela oposição.

Pergunte, hoje, a Bolsonaro, o que aconteceu em 8 de janeiro de 2023. Não pergunte. Ele está rouco de repetir que naquele dia estava fora do país, e que o que viu pela tv foi uma manifestação legítima de brasileiros inconformados com sua derrota.

A manifestação derivou para a baderna? Essa palavra ele não usa, ou não me lembro que a tenha usado. Mas Bolsonaro nega que foi uma tentativa de golpe, como nega que em qualquer momento do seu governo tenha falado ou planejado aplicar um golpe.

Em novembro último, depois de exaustivas investigações que tiveram início quando Bolsonaro ainda era presidente, a Polícia Federal indiciou 37 pessoas, e em dezembro mais três, pelo crime de tentativa violenta de abolição do Estado Democrático.

Dos 40 indiciados, 28 são militares. Pela primeira vez na história do Brasil, militares de alta patente foram indiciados por tentativa de golpe – entre eles, os generais Augusto Heleno e Braga Netto, do Exército, e o almirante Almir Garnier Santos, da Marinha.

Se forem denunciados pela Procuradoria-Geral da República, o que ocorrerá em breve, os indiciados se transformarão em réus e serão julgados pela Primeira Turma do Supremo formada por cinco ministros, um deles Alexandre de Moraes, relator do caso.

É pule de dez para quem gosta de apostas que a maioria dos indiciados será condenada a penas severas. É pule de dez que o Supremo barrará qualquer tentativa do Congresso de anistiar os condenados ou de alterar  a lei da Ficha Limpa.

Uma vez condenado e preso, Bolsonaro seguirá jurando ser inocente, da mesma maneira como Trump jura que nunca cometeu um crime, e da mesma maneira como os terraplanistas asseguram que o planeta não tem a forma indicada pela ciência.

 

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