Parece que o formato do núcleo interno da Terra mudou nos últimos 20 anos

Parece que, nos últmos 20 anos, o núcleo interno da Terra sofreu mudanças não só na sua velocidade de rotação como também no formato. A descoberta foi feita por pesquisadores da Universidade da Southern California, que detectaram estas alterações através de pequenas variações na forma como as ondas acústicas se propagam pelo centro do planeta.

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Identificar um processo que não havia sido documentado anteriormente é emocionante”, disse o geofísico John Vidale, coautor do estudo, ao ScienceAlert. “Sempre esperamos encontrar o próximo fato estranho e profundo, e essa observação é totalmente nova. A próxima etapa será ter certeza de que estamos certos e aperfeiçoar nossos modelos”.

Localizado a mais de 5 mil km de profundidade, o núcleo da Terra é composto pelas partes externa e interna — esta última, aliás, é um dos maiores mistérios da geofísica. O núcleo interno gira constantemente cercado pelo externo, e está profundamente ligado à duração dos nossos dias, ao campo magnético e a outros processos planetários. 


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A Terra tem o núcleo externo e o interno (Reprodução/shooogp/Sketchfab)

Os cientistas estudam esta misteriosa região com a ajuda dos terremotos: quando os tremores ocorrem, as ondas acústicas se propagam e atravessam ou são refletidas de acordo com os materiais que encontram no caminho. Depois, análises dos dados destas ondas revelam as características do núcleo. 

Vidale e seus colegas vêm trabalhando há anos com os dados dos terremotos para investigar os mistérios do núcleo interno — foram eles, por exemplo, que publicaram um artigo sugerindo uma relação entre a velocidade de rotação do núcleo interno e uma mudança periódica na duração dos dias. Depois, outro estudo mostrou que tal relação não existia. 

Ele observa que, se os cientistas quiserem estabelecer uma relação entre o comportamento do núcleo da Terra e seus efeitos no planeta, é preciso primeiro caracterizar esta atividade. Assim, para entender o porquê da variabilidade nas ondas sísmicas que atravessam o núcleo, eles trabalharam com 168 pares de terremotos que passaram pelo interior do planeta. “Cada par em repetição são quase dois terremotos praticamente idênticos”, explicou.

Esquema de como as ondas sísmicas podem revelar características do núcleo da Terra (Reprodução/Tkalčić, 2024/GRL)

Desta forma, eles poderiam associar qualquer mudança observada com as diferenças na trajetória percorrida pelas ondas sísmicas. Depois, eles compararam os dados dos terremotos a partir de quando o núcleo interno estava voltando à posição original para descartar mudanças na taxa de rotação em relação ao sinal sísmico. 

Os resultados mostraram que há diferenças nas ondas que vão da superfície ao núcleo interno, entre a divisão dos núcleos interno e externo. Em outras palavras, isso sugere que houve alguma variação no formato do núcleo. “É difícil dizer com certeza, mas possivelmente seriam pequenas depressões e picos na divisa do núcleo interno em resposta ao fluxo do externo”, sugeriu Vidale. 

Segundo a equipe, os sinais dos dados sísmicos podem estar relacionados à mudanças na taxa de rotação no núcleo interno e ao seu formato — e mais estudos são necessários para terem certeza de qual é o cenário mais correto. “Normalmente, mais dados são a melhor forma de entender novas alegações. Se o núcleo interno continuar girando na direção que esteve indo nos últimos 15 anos, vai logo voltar para onde estava nos anos 2000, o que pode ser causado algumas coisas interessantes. Os próximos anos vão ser cruciais”, finalizou.

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Nature Geoscience. 

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