Vai ter Bolsonaro em 2026 (por Mary Zaidan) 

A inelegibilidade de Jair Bolsonaro atiça o comichão de candidatos à sua vaga desde junho de 2023, quando foi definida pelo TSE. A denúncia da Procuradoria-Geral da República, que aponta o ex como líder da organização criminosa golpista, tende a acelerar o digladio já em curso no campo da direita. E os pretendentes têm de correr, dada a grande chance de perderem a disputa interna para os Bolsonaros. Na lista predileta do capitão estão os filhos Flávio e Eduardo, este último bem posicionado na disputa, e até Michelle, que, segundo o Instituto Paraná Pesquisas, venceria Lula no segundo turno.

Enquanto à esquerda a única aposta é Lula, mesmo com popularidade em baixa e sem indicativo visível de reversão, o espaço do outro lado está ocupadíssimo. Entre os pré-candidatos estão os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), ambos com aprovação estratosférica em seus estados, de 88% e 83% respectivamente, o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), e o do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, do debilitadíssimo PSDB.

Para além do flanco tradicional, têm-se ainda o recém auto-lançado cantor Gusttavo Lima (sem partido) e o franco-atirador Pablo Marçal (PRTB), tornado inelegível na sexta-feira na primeira instância eleitoral paulista, decisão sujeita a recurso.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o bolsonarista em melhor posição – que jura não ser candidato e só pensa nisso -, desperta desconfianças até entre seus próprios pares. Ora é tido como candidato ideal, brindado até pelo Zero Um, Flávio, ora, odiado por não ceder espaços reivindicados pela turma do ex no governo paulista.

Para sorte da ala governista, a fragmentação na direita é previsível. Mesmo que vários dos citados desistam no caminho, Caiado, Marçal e até o cantor Gusttavo devem se manter na disputa com ou sem o aval do ex. Mas até então nada indica que o Bolsonaro vai deixar que outro sobrenome ocupe seu lugar na cédula de 2026. Se não puder ser ele, o que é mais provável, será outro do clã. Pelos números de hoje, Michelle vem aí.

Bolsonaro já disse preferir ver sua mulher no Senado pelo DF, mas pode se ver tentado a ungi-la candidata à Presidência. Quem gosta muito da ideia é o dono do PL, Valdemar da Costa Neto, criador do PL Mulher, feito sob medida para Michelle.

Valdemar, aliás, está comemorando em dobro: conseguiu ficar de fora da denúncia da PGR, embora tenha sido o responsável pela contratação da auditoria fajuta sobre fraudes nas urnas, e viu Michelle, sua pupila, liderar a última rodada de pesquisas, acima até de Tarcísio. Sobre Michelle, Valdemar exerce influência, algo que não consegue junto aos demais Bolsonaros – nem o pai nem os filhos.

Descrita pelo ex-ajudante de ordens e delator Mauro Cid como integrante do grupo mais radical, que defendia a ruptura, Michelle também não entrou na lista dos 34 denunciados pelo PGR Paulo Gonet. A ex-primeira dama, que “quase pirou” quando a mudança saiu do Palácio do Alvorada, não só se safou como pode ser mais do que uma “ajudadora do esposo”, papel que ela atribuía à mulher quando ainda atuava só como coadjuvante.

A ascensão de Michelle na semana em que Bolsonaro foi denunciado não é fruto do acaso. Embora não se coloque em dúvida a veracidade do levantamento, o Instituto Paraná Pesquisas foi contratado pelo PL. O partido do Valdemar só divulgou o resultado quando viu que o escrutínio favorecia a esposa, um nome da família, incluindo no páreo a militante religiosa e a religiosa militante, que exalta o “nome de Deus” e critica a laicidade do Brasil. Um perigo.

Flávio, Eduardo e até Michelle. Parece loucura, mas nada mais espanta nestes tempos desatinados.

 

Mary Zaidan é jornalista 

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