HÁ VINTE ANOS – A reforma ministerial que tira Lula do sério

Comentário da cientista política Lucia Hippolito, na CBN:

“Ontem, o senador Aloizio Mercadante declarou que o presidente Lula vai anunciar o novo ministério na próxima segunda-feira. Como se trata do líder do governo no Senado, imagino que esteja falando em nome do presidente da República. Portanto, podemos esperar novidades.

A composição de um ministério costuma obedecer a alguns critérios. Em geral, o primeiro ministério reflete o pagamento das dívidas políticas feitas durante a campanha eleitoral. Aliados históricos e também adesistas, de primeira e de última hora, são premiados com ministérios e órgãos públicos.

Ao longo do governo, surgem mais dívidas; é preciso acomodar os novos aliados e desalojar desafetos recentes, ou mesmo aliados históricos que se revelaram incompetentes. Finalmente, quando vai chegando a sucessão presidencial, é preciso rearranjar as forças políticas, buscando um bom desempenho nas eleições.

O sistema de governo brasileiro é um presidencialismo de coalizão, ou seja, acomodam-se no ministério mais ou menos as mesmas forças políticas que apoiam o governo no Legislativo.

Assim, governos eleitos com maioria no Congresso podem se dar ao luxo de governar apenas com as forças que o elegeram. Mas presidentes eleitos em minoria precisam abrir espaços no ministério para acomodar novos sócios, novos aliados.

Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito em minoria no Congresso. Por isso, o que os aliados esperavam desde o início era um ministério mais aberto a outros partidos além do PT.

Mas Lula e o PT decidiram inovar e formaram um ministério com maioria de petistas, e nem sempre os  mais competentes. Daí as eternas cobranças do PTB, do PSB, do PMDB e agora do PP por mais ministérios, como prêmio pelo apoio dado ao governo no Congresso.

Ano passado, a reforma ministerial deveria ter demorado uma semana, se tanto. Mas demorou três meses. No final, acabou sendo mais uma troca de cadeiras do que uma verdadeira reforma ministerial.

Este ano, o presidente Lula demorou muito para fazer a reforma. Quis esperar o resultado da eleição para a Mesa da Câmara, quis controlar ele próprio o ritmo dos acontecimentos.

Agora, tudo é possível. Gente que já comprou o terno ou o tailleur da posse pode ter que devolver. E gente que não constava de nenhuma lista de apostas pode virar ministro. Será mais uma semana de grandes emoções.”

 

(Publicado aqui em 28 de fevereiro de 2005)

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