Uma reforma ministerial a conta-gotas e sem data para terminar

Faz-me rir, mas com frequência me irrita, a crítica à ausência no ministério de Lula de uma representação maior dos partidos dispostos a ajudá-lo a governar. Uma crítica que se repete desde que Lula, em 2023, anunciou sua equipe de auxiliares.

Levantamento feito pelo repórter Ranier Bragon, e publicado na Folha de S. Paulo, vai na direção contrária. Hoje, de um total de 37 ministros, 11 são filiados ao PT, e 26 a outras legendas. Há também ministros sem vínculos com partidos.

Ninguém governa sozinho, ora bolas. E Lula seria um bobo se pensasse em fazê-lo. Já teria sido derrubado pelo Congresso. Ou, no mínimo, o governo estaria paralisado, sem conseguir aprovar ali projetos do seu interesse. Lula é um conciliador por excelência.

O PMDB, em 1989, era majoritário na Câmara dos Deputados e no Senado. Ulysses Guimarães, seu candidato a presidente, se eleito,  poderia dar-se ao luxo de governar sem ceder muito espaço a outros partidos. Como era um sábio, cederia, é claro.

Mas Ulysses não se elegeu. Sequer disputou o segundo turno, graça concedida a Fernando Collor, candidato de uma coligação de partidos inexpressivos, e a Lula. No primeiro turno, com  um total de 22 candidatos, Ulysses foi o sétimo colocado (4,74% dos votos).

A evolução dos feudos partidários nas três gestões de Lula (2003-2006, 2007-2010 e 2023 em diante) mostra que vários deles, até o PL de Bolsonaro, têm ou já tiveram seus espaços, observa Bragon. Natural que o PT, partido de Lula, ocupe cargos importantes.

Foi no início do segundo ano do seu primeiro governo que Lula fez uma primeira reforma em seu ministério para ingresso de um partido que seguiria junto com o PT até Dilma Rousseff (2011-2016), além de estar aliado atualmente – o PMDB, hoje MDB.

Se dependesse de Dilma, o MDB não estaria no governo, mas na oposição. Ou, de preferência, no inferno. O impeachment de Dilma só foi possível porque seu vice, Michel Temer, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ambos do MDB, conspiraram contra ela.

O MDB segue como parceiro de Lula e detém 3 ministérios. Dessa vez, porém, divide o protagonismo com outras duas legendas de centro e de direita, União-Brasil e PSD. Republicanos e PP completam a ala de centro-direita do governo.

Acontece que eles têm que dar a Lula em troca de cargos algumas coisas que ainda não se dispõem a dar: mais votos no Congresso e apoio à sua reeleição. Daí, essa reforma ministerial a conta-gotas que assistimos, sem data certa para terminar.

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