“Camundongo-lanoso” é criado em novo passo para ressuscitar os mamutes

A empresa Colossal Biosciences planeja trazer os mamutes-lanosos de volta à vida até 2028 — e fez mais um avanço rumo à concretização do feito. É a criação dos “camundongos-lanosos”, uma edição genética que trouxe as características dos antigos paquidermes para os diminutos roedores com sucesso.

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Os camundongos em questão ficaram com os pelos na textura, cor e espessura apropriadas, assim como metabolismo de lipídios condizente com a característica nos extintos mamutes. Como eles fizeram isso e o que isso significa para a pesquisa?

Criando camundongos-lanosos

Para recriar os mamutes-lanosos, é necessária muita pesquisa genética. Um dos maiores desafios, então, é identificar quais genes dos elefantes-asiáticos — parentes mais próximos dos mamutes — teriam de ser alterados para fazer com que os animais estejam adaptados ao frio, aspecto fundamental dos mamíferos extintos.


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Para isso, a companhia analisou o genoma de 59 mamute-lanosos, mamutes-de-colúmbia e mamutes-das-estepes com idades entre 1,2 milhão de anos e 3.500 anos. Com a ajuda de computadores, foram comparados os genomas de 121 mamutes e elefantes, incluindo os africanos e asiáticos. Mas… o que fazer com esses dados?

 

Os elefantes-asiáticos têm uma gestação de 22 meses e são uma espécie ameaçada, na qual não seria ético experimentar, contou a chefe de ciência na Colossal, Beth Shapiro, ao site IFLScience.

Camundongos, por outro lado, gestam em 20 dias e são mamíferos: apesar de distantes na evolução em cerca de 200 milhões de anos, as espécies compartilham genes o suficiente para desenvolver traços como a lã e o metabolismo de lipídios.

Foram identificadas sequências de DNA idênticas nos mamutes, mas diferentes no elefantes-asiáticos, associadas então ao fenótipo físico de um mamute-lanoso.

A equipe usou três tipos diferentes de edição de DNA, encontrando o fenótipo que daria as mesmas características aos camundongos. Shapiro afirma que não foram inseridos genes dos extintos mamutes nos roedores — foram apenas encontrados os genes responsáveis já presentes no seu genoma.

Os camundongos-lanosos têm pelos até três vezes maiores do que os selvagens comuns, também adquirindo uma coloração alaranjada. O animal, segundo a empresa, não é “novo”, mas sim uma espécie variante com fenótipos “emprestados” de um bicho já extinto. A equipe também garante que não houve consequências inesperadas para os roedores “fora o quão bonitinhos ficaram”.

Para a pesquisa, os cientistas identificaram os genes responsáveis pela tolerância ao frio nos mamutes-lanosos e ativaram os mesmos genes no genoma de camundongos para fazê-los ficarem peludos (Imagem: Colossal Biosciences)
Para a pesquisa, os cientistas identificaram os genes responsáveis pela tolerância ao frio nos mamutes-lanosos e ativaram os mesmos genes no genoma de camundongos para fazê-los ficarem peludos (Imagem: Colossal Biosciences)

E a des-extinção dos mamutes?

O experimento mostra a abordagem da empresa à des-extinção dos mamutes, a propósito: Shapiro comenta que não há como trazer um animal 100% idêntico em genética, fisiologia e comportamento de volta, e esse não é o objetivo da equipe.

A meta é trazer características suficientes para os elefantes que os permita prosperar nos ambientes gelados do norte, substituindo o papel ecológico da espécie extinta.

O objetivo da empresa seria trazer um impacto positivo ao ecossistema. Há cerca de 10.000 anos, os humanos contribuíram para extinguir quase todos os grandes herbívoros do Ártico, como os mamutes, fazendo com que a região fosse de um local de gramíneas a um de árvores. Elas fazem menos fotossíntese, seguram mais calor e prendem neve no inverno, isolando o solo e impedindo que congele.

Sequestrando menos carbono e produzindo menos, as árvores fazem com que muito do carbono seja liberado como metano, cerca de 80 vezes pior do que o CO2 na atmosfera. Reintroduzindo o mamute-lanoso, seria possível fazer com que o ambiente volte a ser, controladamente, de gramíneas, deixando o ecossistema mais robusto e frutífero.

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