UE quer acelerar plano de defesa da Europa após reviravoltas com Trump

Dois dias após a União Europeia propor um plano de defesa que poderá mobilizar até € 800 bilhões para a defesa do continente, líderes do bloco se reúnem em caráter extraordinário nesta quinta-feira (6?3) em Bruxelas, para discutir como arcar com o fortalecimento da defesa europeia e o apoio militar à Ucrânia, após corte dos Estados Unidos. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, participa desta cúpula especial da UE.

A Europa entrou em uma semana decisiva, na qual os dirigentes do bloco estão sendo pressionados a enfrentar questões importantes sobre a defesa do continente. Depois do bate-boca na Casa Branca entre o presidente americano, Donald Trump, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que expôs o alinhamento cada vez maior entre Washington e  Moscou, e o anúncio de suspensão da ajuda militar dos EUA a Kiev, a Comissão Europeia apresentou um plano para rearmar a Europa e enviar mais ajuda militar à Ucrânia.

Em Bruxelas, as expectativas desta cúpula especial são de que os líderes europeus consigam ir além das conversas iniciadas em Londres, no último domingo. Uma trégua de um mês na guerra da Ucrânia, proposta pela França e Reino Unido, foi praticamente o único resultado concreto das discussões em Lancaster House. Agora, a proposta da presidente do executivo europeu, Ursula von der Leyen, está sob a mesa.

Os governos europeus não devem tomar decisões imediatas: o mais provável é que sinalizem “fortes compromissos” com o plano de Bruxelas, apesar do risco de que dirigentes pró-Rússia, liderados pelo primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, resistam à iniciativa. Ao que tudo indica, Budapeste parece pronta para bloquear o envio de pelo menos 1,5 milhão de munições de artilharia e sistemas de defesa aérea, mísseis e drones à Ucrânia, entre outras medidas sobre a mesa.

“Era do Rearmamento”

Uma das questões cruciais é como financiar o rearmamento da Europa em tempos de orçamentos apertados. Atualmente, os países da União Europeia gastam cerca de € 325 bilhões por ano em defesa, o que representa 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do bloco. De acordo com especialistas, o percentual necessário para garantir a defesa europeia sem o apoio americano seria de 3,5% do PIB comunitário.

Baseado em cinco “pilares”, o plano anunciado por Von der Leyen para mobilizar até € 800 bilhões para a defesa teria gastos que “precisam ser aumentados com urgência não só agora, como ao longo da próxima década”, enfatizou. Além disso, seria necessário dar apoio imediato a Kiev após a suspensão da ajuda militar anunciada pela Casa Branca.

Para isso, a proposta inclui, entre outros pontos, a emissão de novos empréstimos no valor de € 150 bilhões aos Estados-membros para a compra de artilharia, mísseis, munições, drones e sistemas anti-drones. A Comissão Europeia ainda propõe afrouxar as restrições fiscais impostas por Bruxelas aos governos do bloco para permitir gastos maiores com a infraestrutura militar. O Banco Europeu de Investimento também anunciou que pretende alterar suas regras para facilitar o financiamento de projetos de defesa.

Injeção bilionária

O futuro chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, acaba de anunciar planos para investir centenas de bilhões de euros em gastos com defesa e garantir a segurança do continente. Para o líder conservador, “a Europa precisa agir rápido”. Um acordo para atingir “€ 100 bilhões por ano” em gastos com defesa foi negociado junto aos parceiros sociais-democratas com quem os conservadores alemães devem formar uma coalizão de governo.

A Alemanha está pressionando a União Europeia a reformar ainda mais as suas regras fiscais para permitir maiores gastos militares.  “A ironia da situação é impressionante”, comenta o site Político, “durante anos a Alemanha tem sido o falcão fiscal mais poderoso em Bruxelas, exigindo uma disciplina orçamentária rigorosa em todo o bloco. Agora, confrontada com as crescentes preocupações sobre segurança e as mudanças nas geopolíticas mundiais, Berlim tenta liderar a luta por mais flexibilidade”.

Mais sanções contra a Rússia

É possível que os líderes europeus aprovem em Bruxelas uma nova rodada de sanções contra a Rússia. Após três anos da invasão russa à Ucrânia, seria o 17º pacote de medidas restritivas que atingem setores vitais da economia russa, pessoas e entidades ligadas ao regime do presidente Vladimir Putin.

Outra questão importante que deve ser abordada durante esta cúpula especial diz respeito aos ativos russos congelados em contas europeias desde o início da guerra na Ucrânia.

Embora os lucros dos ativos de € 200 bilhões da Rússia já estejam sendo usados para ajudar a armar a Ucrânia e financiar a recuperação da economia do país, a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, vem defendendo a utilização direta dos bens russos congelados como direito legítimo de indenização para Kiev. Mas até o momento, a opção de confiscá-los está excluída.

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