Tarcísio de Freitas navega ao sabor dos ventos, mas sem destino certo

De Lula, pode-se dizer que navega com dificuldades na direção contrária aos ventos, o que dificulta sua chegada a porto seguro. Mas ele sabe onde quer chegar – à reeleição no próximo ano, e se possível a uma vitória. De Tarcísio (Republicanos), governador de São Paulo, não se pode dizer a mesma coisa.

Os ventos sopram a favor de Tarcísio – seja para se reeleger governador com grande folga, seja para se candidatar à presidência da República. Mas ele ainda não sabe para onde quer ir. E, se sabe, por enquanto não conta a ninguém. Então, deveria perguntar ao gato, como fez Alice no País das Maravilhas.

– Gato Cheshire… pode me dizer qual o caminho que eu devo tomar?

– Isso depende muito do lugar para onde você quer ir – disse o gato.

– Eu não sei para onde ir! – confessou Alice.

– Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve – respondeu o gato.

Lula tem o destino sob seu controle. Para ganhar ou perder, com toda certeza será candidato pela última vez. Por seis vezes candidatou-se a presidente, perdendo três (1989, 1994 e 1998) e vencendo três (2002, 2006 e 2022). Se vencer em 2026, governará mais quatro anos. Ao todo, terá governado o país durante 16 anos.

Se Lula perder, transferirá a faixa ao seu sucessor, irá para casa e só depois pensará em viajar. Ciro Gomes (PDT), derrotado pela terceira vez seguida, viajou a Paris entre o primeiro e o segundo turno para não declarar apoio a Fernando Haddad (PT) em 2018. Bolsonaro viajou aos Estados Unidos para não dar posse a Lula.

Tarcísio não tem o destino sob seu controle porque sequer manda no partido que o abriga. Tampouco nos partidos que poderão apoiá-lo. Engenheiro por formação, é um estranho no mundo da política. Foi Bolsonaro que o convenceu a disputar o governo de São Paulo. E teme que Bolsonaro não o apoie para presidente.

Bolsonaro diz que inelegível, condenado pelo Supremo Tribunal Federal e preso, nem morto apoiará quem possa roubar-lhe a condição de líder da direita brasileira. Ameaça lançar um dos filhos ou sua mulher. Mas na verdade, o que ele quer é eleger uma bancada expressiva de senadores. Venderá caro seu apoio.

Antes de Bolsonaro despontar como candidato a presidente, os chefes militares da época acalentaram a ideia de ver Ronaldo Caiado (União-Brasil), atual governador de Goiás, candidato mais uma vez. Caiado fora um dos candidatos da direita a presidente em 1989. Ficou em décimo lugar com o,72% dos votos válidos.

Caiado está prestes a anunciar que será candidato à vaga de Lula. Mas, candidato de quem? O agro não o apoia. O União-Brasil hesita em apoiá-lo. O cantor Gusttavo Lima, parceiro de Caiado em negócios, o apoia. Mas isso só não basta. E o calcanhar de Lima é muito frágil devido ao seu envolvimento com jogos de apostas.

O senador Ciro Nogueira (PI), ex-chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro, presidente do PP e um dos líderes do Centrão, jura devoção a Tarcísio e se oferece para coordenar sua campanha a presidente. Nogueira, hoje, vive mais em São Paulo do que no seu estado ou em Brasília. O Centrão, porém, está dividido.

Uma parte não descarta apoiar Lula, a depender do que venha a ganhar em troca; outra prefere observar a evolução de Tarcísio na avenida antes de tomar qualquer decisão. O tempo corre contra Tarcísio que terá de renunciar ao governo de São Paulo para se candidatar a presidente. Esse problema, Lula não tem.

O problema de Lula é recuperar a popularidade que perdeu.

 

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