Governistas escolhem Mark Carney para substituir Trudeau como novo premier do Canadá

 

O Partido Liberal escolheu o ex-diretor do Banco do Canadá, Mark Carney, como seu novo líder e, consequentemente, como o novo premier do país, substituindo o atual chefe de governo, Justin Trudeau. O momento não poderia ser mais complexo: além da iminência de eleições gerais, para as quais a oposição é favorita, ele chega ao poder em meio a uma disputa tarifária com o maior aliado comercial do Canadá, os Estados Unidos.

Na votação realizada neste domingo (9) entre os membros do partido, Carney teve 85,9% dos votos, bem à frente da vice-premier Chrystia Freeland, que recebeu apenas 8% dos votos válidos. Como o Partido Liberal tem maioria no Parlamento, o líder da sigla passa a ser também o primeiro-ministro do Canadá.

— Vocês me inspiraram ao longo dos anos e agora a ter a oportunidade de continuar sua tradição de responsabilidade fiscal, justiça social e liderança internacional — disse Carney, em seu discurso de vitória.

Em janeiro, após meses de fritura ligada a problemas como a alta do custo de vida e questões migratórias, além de uma crescente e barulhenta oposição, Trudeau anunciou que deixaria o cargo após a escolha de seu sucessor como líder do Partido Liberal. A disputa interna foi intensa, e teve em Carney e Freeland, ex-chanceler de Trudeau, seus principais atores — ao final, a percepção de que ele era alguém de fora do meio político pesou para sua escolha.

— Os canadenses querem uma liderança positiva que acabe com a divisão e nos ajude a construir juntos — afirmou Carney neste domingo.

Formado na Universidade Harvard, Mark Carney iniciou sua carreira no setor financeiro do Canadá, à frente de uma empresa de gestão de ativos, e trabalhou por mais de 10 anos no setor de investimentos do banco americano Goldman Sachs. Em 2007, quando os sinais da grave crise financeira global já eram evidentes, se tornou o mais jovem presidente do Banco do Canadá, e a pessoa mais jovem a presidir um banco central entre os países do G20. Em 2012, foi escolhido o melhor presidente de um banco central no planeta pela revista Euromoney.

Um ano depois da honraria, Carney se tornou o primeiro estrangeiro a assumir o comando do Banco da Inglaterra, e a primeira pessoa a comandar dois bancos centrais de países do G7, o grupo de sete das mais industrializadas economias do planeta. A ele é creditada a relativa estabilidade durante o referendo para a independência da Escócia, uma proposta derrotada nas urnas, e à saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit, iniciada em 2016 após uma consulta popular.

Agora, ele assume o poder de uma das principais economias do mundo com um desafio considerável. Desde sua vitória nas urnas, em novembro do ano passado, o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaça impor tarifas de até 25% sobre importações canadenses, por vezes cumprindo a promessa e por vezes as adiando, em busca de condições mais favoráveis de negociações — oficialmente, as medidas estão ligadas ao que a Casa Branca vê como inação em Ottawa sobre os controles migratórios e o tráfico de drogas na fronteira.

O republicano também afirmou que o Canadá deveria se tornar o “51º estado americano”, algo que irritou profundamente os canadenses.

Em seus últimos momentos no cargo, Trudeau equilibrou o diálogo com declarações duras a Trump, e a expectativa é de que Carney siga essa linha nos poucos meses que tem à frente do cargo até as eleições gerais de outubro.

— Mark Carney conseguiu impor a ideia de que representa a renovação e que sua experiência passada como governador do Banco do Canadá e do Banco da Inglaterra lhe dá a experiência para poder enfrentar Donald Trump e chegar a um acordo com ele. Alguns o veem como uma espécie de salvador da pátria, que eventualmente fará Donald Trump recuar — afirmou, em entrevista à Rádio França Internacional, Frédéric Boily, professor de ciência política na Universidade de Alberta.

Em seu discurso de vitória, ele disse que as medidas de retaliação, ligadas às tarifas já adotadas pelos EUA contra seu país, permanecerão até que Washington se comprometa “com o livre comércio”, e fez críticas aos planos de Trump para anexar seu país, dizendo que “não podemos permitir que Trump vença”.

— [Os americanos] querem nossos recursos, nossa água, nossa terra, nosso país. Pensem sobre isso: se eles forem bem-sucedidos, vão destruir nosso modo de vida — afirmou. — Os EUA são um caldeirão cultural. O Canadá é um mosaico. Os EUA não são o Canadá. O Canadá jamais será parte dos EUA de qualquer maneira, forma ou modo.

A grande questão, além das relações com Washington, é se Carney será capaz de manter o Partido Liberal no poder nas eleições marcadas para outubro, mas que podem ser antecipadas. As pesquisas apontam que o Partido Conservador deve ser o mais votado, e o novo premier não economizou nas críticas ao líder da sigla, Pierre Poilievre.

— Eu sei como o mundo funciona e sei como ele pode ser feito para funcionar melhor para todos nós — afirmou. —Donald Trump acha que pode nos enfraquecer com seu plano de dividir e conquistar. Pierre Poilievre nos deixará divididos e prontos para sermos conquistados porque uma pessoa que adora Donald Trump no altar se ajoelhará diante dele, não se levantará diante dele.

Fonte: O Globo

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