Traficante gospel, Peixão criou grupo armado que mata “em nome da fé”

Álvaro Malaquias Santa Rosa (foto em destaque), mais conhecido como Peixão, deixou para trás o perfil clássico do chefe do tráfico para se apresentar como líder espiritual de uma facção armada no coração do Rio de Janeiro. Hoje foragido, ele comanda o Complexo de Israel, área controlada pelo Terceiro Comando Puro (TCP).

Peixão é investigado pela Polícia Federal por crimes brutais cometidos “em nome da fé”. Sob a fachada religiosa, torturas e execuções são realizadas contra adversários. O complexo, que inclui comunidades como Vigário Geral, Parada de Lucas e Cidade Alta, se tornou uma fortaleza cercada por barricadas, controlada por criminosos fortemente armados, e marcada por símbolos religiosos ostensivos, incluindo a Estrela de Davi, símbolo judaico apropriado como expressão da fé evangélica na volta de Cristo.

Essa nova face do crime organizado levanta uma discussão inédita sobre terrorismo religioso no Brasil. Se capturado, Peixão poderá ser enquadrado na Lei Antiterrorismo (13.260/2016), cuja aplicação depende de provar que os atos criminosos têm a intenção explícita de provocar terror generalizado sob motivação religiosa.

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A interpretação radical e distorcida da Bíblia utilizada pelo grupo tem levado à imposição de uma única fé, com restrições severas a outras práticas religiosas. A Polícia Federal vê nessas ações um claro indício de violência extremista. Isso torna possível uma inédita aplicação da legislação antiterrorismo em um contexto religioso no país, com penas que podem ultrapassar 30 anos de prisão.

Criado originalmente no final dos anos 1980 como uma dissidência violenta do Comando Vermelho, o Terceiro Comando deu origem ao TCP no início dos anos 2000. A transformação de parte da facção em “Soldados de Jesus” não reflete apenas uma mudança de imagem, mas uma estratégia perigosa de legitimação da violência através da religião.

Para especialistas em segurança pública, a linha que separa manifestações religiosas legítimas e atos terroristas baseados na fé é clara: o uso da religião como justificativa ou instrumento para promover a violência e o terror deve ser tratado como crime.

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