A grande bagunça: como Trump governa os Estados Unidos

Trump governa com uma folha de papel, um lápis e uma borracha. Taxou a importação de produtos mexicanos e canadenses. Depois apagou sua decisão. Depois escreveu que ela valerá em breve.

Trump escreveu que cabe ao homem mais rico do mundo, Elon Musk, cortar despesas do governo, atuando diretamente sobre as áreas onde o número de funcionários é gigantesco e sem razão.

Diante da gritaria dos seus secretários de Estado e chefes de departamentos revoltados com as interferências de Musk, Trump reescreveu a decisão. Caberá a Musk apenas aconselhá-los.

Em entrevista a um canal na internet, perguntado se a política econômica do seu governo não poderia provocar uma recessão, ele admitiu que “talvez”. Então, o valor das ações caiu no mundo todo.

A ideia de Trump de esvaziar Gaza de palestinos para transformá-la em uma espécie de colônia de férias para milionários foi cancelada. A bem dizer, não era para sair do papel.

Vez por outra, Trump fala em tomar a Groelândia da Dinamarca e o canal do Panamá do governo panamenho. Mas, pelo menos por ora, não avançou para além da fala. Quanto à guerra na Ucrânia…

Trump encenou o maior espetáculo televisivo jamais vivido por um presidente americano; um espetáculo ao vivo e direto da Casa Branca que deixou chocados os que o assistiram.

A convite dele, Zelensky, presidente da Ucrânia, o visitou. É de praxe que os dois posassem primeiro para fotos, trocassem alguns comentários e depois se reunissem a portas fechadas.

Em seguida, haveria um almoço, e depois uma entrevista coletiva à imprensa. Não foi assim. Zelensky, dependente da ajuda americana para enfrentar a Rússia, caiu numa armadilha.

Logo na etapa inicial do encontro, Zelensky foi humilhado por Trump e pelo vice-presidente JR Vance, aliados da Rússia até o talo. E acabou sendo despejado da Casa Branca.

Em público, jamais um visitante fora tratado daquela maneira na Casa Branca, jamais. O maior vencedor daquele encontro foi Vladimir Putin, o autocrata russo que invadiu a Ucrânia.

Inúmeras decisões tomadas por Trump até aqui, com base no que lhe passa pela cabeça, já foram derrubadas ou suspensas pela justiça americana. Washington está em pânico e perplexa.

Entenda-se: Trump não é um estadista, sequer um aspirante a estadista. É um empreendedor imobiliário, habituado a blefar para extrair vantagens nos negócios, e um homem de televisão.

Zelensky chegou ao poder no seu país como o afamado protagonista de uma série bem-sucedida de televisão onde fazia o papel de presidente da Ucrânia. Apesar disso…

Não é páreo para Trump, a quem precisa adular e se submeter caso queira ajuda em armas e em dinheiro. Nos últimos três anos, Zelensky viajou pelo mundo como uma estrela. Seu show acabou.

O show de Trump mal começou, e ele não precisa cortejar ninguém, nem viajar atrás de apoios. Ele só não pode perder apoio em casa. Começa a perder, segundo as pesquisas.

Winston Churchill, o estadista inglês que combateu Hitler praticamente sozinho no início da Segunda Guerra Mundial, perdeu apoio em casa quando a vitória militar estava à vista.

Os ingleses concluíram que ele fora o melhor líder de que dispunham para ir à guerra, mas que não seria o melhor para reconstruir o país. Vencido em 1945, dedicou-se à pintura.

Essa é justamente uma das belezas do regime democrático: a alternância no poder.  Ninguém é insubstituível. A vontade do povo se expressa por meio do voto livre. Cada eleitor, um voto.

 

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