Neandertais usavam aspirina natural e antibióticos

Um dos estudos mais completos sobre os neandertais revelou desde sua dieta e estilo de vida até uso primitivo de remédios, mas garanto que você não consegue adivinhar de onde vieram essas informações. Do tártaro de seus dentes! Sim, a placa dental da espécie armazenou seu DNA e o de microorganismos que faziam parte de sua rotina, garantindo dados inestimáveis aos cientistas.

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Foram estudados dois neandertais (Homo neanderthalensis) da caverna de El Sidron, na Espanha, e um da caverna de Spy, na Bélgica. Os microorganismos, vírus e alimentos que deixaram seu DNA nos dentes desses indivíduos mostraram diferenças muito interessantes em sua cultura e dieta, mudando inclusive o microbioma corporal.

Diferenças culturais neandertais

Os sujeitos da caverna de Spy mostraram uma dieta essencialmente carnívora, caçando grandes mamíferos — seus dentes revelaram DNA de rinocerontes-lanosos e muflões, um tipo de caprino europeu, com alguns cogumelos nativos de sobremesa, estes ainda consumidos no continente atualmente.


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Já os de El Sidron diferiram muito, não apresentando indicação alguma de consumo de carne, apenas nozes de pinheiro, musgo, casca de árvore, cogumelos variados e outras ervas, provavelmente tão bolorentas quanto.

Eram dietas paleolíticas autênticas, já que era comido apenas o que podia ser forrageado e identificado no ambiente — em Spy, por exemplo, o ambiente era semelhante a uma estepe, com colinas verdejantes e megafauna que incluía os rinocerontes-lanosos, enquanto El Sidron era composta de uma floresta montanhosa, repleta de fungos e pinheiros.

Medicina neandertal

O aspecto mais surpreendente da pesquisa foi provavelmente o medicinal. Um dos neandertais espanhóis mostrou evidências de um abscesso dental, com DNA de um parasita intestinal nocivo, o Microsporidia, que leva a doenças crônicas.

Descobertas como essa ajudam a desmistificar o estereótipo de neandertais como homens das cavernas brutos e malvestidos (Imagem: Neanderthal-Museum, Mettmann/CC-BY-4.0)
Descobertas como essa ajudam a desmistificar o estereótipo de neandertais como homens das cavernas brutos e malvestidos (Imagem: Neanderthal-Museum, Mettmann/CC-BY-4.0)

Ele estava tratando a condição com remédios silvestres, como casca e broto de álamo (ou choupo), árvore fonte de aspirina natural, e o mofo Penicillium, fonte do primeiro antibiótico do mundo, a penicilina.

Na natureza, esse mofo é comum, mas o indivíduo mostrou estar ingerindo vegetação em apodrecimento contendo outras espécies de mofo — como o comportamento não é visto em outros neandertais, fica a questão: estariam eles realmente usando antibióticos?

De qualquer forma, nossos primos do passado sabiam como tratar doenças, o que mostra uma sofisticação e cultura para além do que esperávamos da espécie neandertal e seus estereótipos.

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