Gabriel da Muda, do Samba do Trabalhador, oferece cachaça e ganha cena fofa no Japão

“Eu fico me perguntando o que nós, ocidentais, estamos fazendo pela vida do planeta. E eu estou falando de hábitos”, diz um Gabriel Cavalcanti, o também Gabriel da Muda, logo após compartilhar uma cena em que quatro japoneses, em um minúsculo izakaya sambam “Se For, Me Chama” e escrevem mais um capítulo dessa relação afetiva entre os dois países. Vocalista do Samba do Trabalhador e fundador do Samba da Ouvidor, ambos do Rio de Janeiro, Gabriel conversou com a Billboard Brasil sobre seu fascínio com o Japão, sua relação com o mercado fonográfico e rebateu a impressão de que está “cansado” da rotina de bamba na capital carioca.

“Japão era um sonho antigo. Quando você chega aqui é um choque muito grande. São pessoas muito evoluídas. O vídeo é em um izakaya do lado do hotel em que estávamos. Seis pessoas naquele lugar ficaria insuportável (risos). Surgiu uma Seleta [cachaça] no meio da noite e a minha esposa botou uma dose para cada um. Eles deram um golinho e eu disse ‘não, não, não! vai todo mundo virar!’. Depois dessa virada, os caras ficaram enlouquecidos, foi uma catarse”, conta sobre o izakaya Yatai Inaba, localizado na parte norte de Quioto e reforçando que “samba” é a primeira palavra de muitos japoneses quando identificam brasileiros.

Gabriel é um dos destaques do Samba do Trabalhador, roda de samba do bairro do Andaraí, na zona norte do Rio de Janeiro, que ocorre toda segunda-feira sob liderança de Moacyr Luz. Aos 66 anos, Moacyr convive com o Parkinson e com a rotina de ver sua roda de samba refletir pequenos gargalos que incomodam também a outros eventos de samba do Rio. Gabriel, por vezes, é apontado como uma pessoa que está “insatisfeita” ou “cansado”. Perguntado sobre isso, o vocalista pondera a situação: “O momento do Moa deixa tudo desconfortável pra ele. O samba tá sempre cheio, as pessoas ficam em cima. Deixou de ser um conforto, do momento de estar com os amigos para ser um trabalho. Quando as pessoas dizem que eu estou ‘cansado’, eu costumo dizer que o Samba do Trabalhor é a minha vida. Foi ali que aprendi tudo, eu conto as horas para estar ali”, começa.

“Mas eu sou um músico sério. Eu tenho um entendimento um pouco diferente, talvez, de outras pessoas sobre isso. Eu me concentro quando executo música. E, isso, pode passar a impressão de que estou de ‘saco cheio’. Eu não fico dando milhões de sorriso numa roda. Eu estou, ali, disposto a apresentar o melhor que eu posso musicalmente”, continua.

Com planos de lançar um novo disco em 2025, o sambista passou de uma revelação do samba e fundador de uma das rodas mais prestigiados do Rio, o Samba da Ouvidor, a uma pessoa que vê o estrangulado mercado fonográfico, para um sambista, apenas como parte do portfólio. “Eu tenho muito o pé no chão em relação a isso. Hoje em dia, está muito difícil. Você grava o disco e não acontece nada. As casas de show do Rio não respeitam o músico, muito menos o sambista. Eu tenho encarado essa minha volta sem muita expectativa no lançamento de um álbum”, diz o dono de “O Que Vai Ficar Pelo Salão”, elogiada estreia em 2011, e “Se For Me Chama”, de 2023.

Dono de uma padaria artesanal e viajando sem roteiro, Gabriel está flutuando por um país aficionado pelo Brasil e pela necessidade de mudar o processo de industrialização e distribuição de alimentos orgânicos. “Estou aqui há uma semana e a impressão é de que minha saúde é outra. É bizarro o quanto a gente ainda está engatinhando, o quanto a nossa legislação ainda dificulta quem quer produzir e trabalhar com alimentos orgânicos. O incomum aqui é o ultraprocessado”.

 

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