São Paulo — Os policiais civis de Santo André, no ABC paulista, que foram presos por suspeita de extorquir MCs famosos que divulgavam rifas ilegais chegaram a intimar o bodybuilder e influenciador digital Julio Balestrin (foto de capa), que tem mais de 4 milhões de seguidores nas redes sociais, segundo investigação do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Em operação deflagrada nessa sexta-feira (25/4), quatro policiais do 6º Distrito da cidade foram presos e tiveram os sigilos bancários quebrados: o delegado Fábio Marcelo Fava e os investigadores Adriano Fernandes Bezerra, Magally Ivone Rodrigues e Múcio de Assis Ladeira.
Outro investigador havia sido preso em dezembro, na fase anterior da operação. O policial Rodrigo Barros de Camargo, conhecido como Rato, contava com o apoio de Eronias Rodrigues Barbosa, que seria encarregado de fazer levantamentos nas redes sociais sobre perfis que divulgavam rifas falsas e que poderiam ser alvos das extorsões, segundo o MPSP.
Em um diálogo, ocorrido em junho do ano passado, Eronias diz a Rodrigo: “olha quem está entrando no mundo dos joguinhos”, mencionando o perfil de Julio Balestrin. Outra conversa destacada na denúncia mostra Rodrigo pedindo permissão a seu chefe, Fábio Fava, “para dar seguimento ao esquema” com o bodybuilder, segundo o MPSP.
Nela, Rodrigo diz: “posso fazer?”. “Pode”, responde Fábio, de acordo com o documento. O investigador então continua: “Meu informante passou. Ele tem endereço em Santo André. Amigo do Cariane [sic]”, referindo-se ao também influenciador digital e empresário Renato Cariani, que acumula mais de 9 milhões de seguidores.
Ainda segundo a investigação, a investigadora Magally afirmou em outra conversa que Balestrin havia sido intimidado, mas estava em viagem pela Europa, e seu advogado teria solicitado uma remarcação.
O Metrópoles tentou contato com Julio Balestrin, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. A reportagem também busca localizar a defesa dos investigados. O espaço segue aberto para manifestações.
Entenda
- Cinco mandados de busca e apreensão e quatro de prisão preventiva foram expedidos pela 1ª Vara Criminal de Santo André, contra os quatro policiais lotados no 6º Distrito da cidade.
- A ação é um desdobramento das operações “Latus Actio” e “Latus Actio II”, deflagradas pela PF em março e dezembro do ano passado, quando uma organização criminosa para arrecadar propinas dentro da repartição policial foi identificada. Naquela ocasião, um policial foi preso preventivamente e outro afastado do serviço.
- Os policiais são acusados de instaurar procedimentos de Verificação de Procedência de Informações (VPI) para supostamente apurar a prática de sorteios (rifas) ilegais realizados por influenciadores por meio de suas redes sociais, condutas que poderiam configurar a contravenção penal por exploração de jogos de azar e crimes de estelionato e lavagem de dinheiro.
- No entanto, o objetivo real dos agentes era cobrar propina dos investigados e de seus advogados, a pretexto de não dar prosseguimento às apurações.
- Na denúncia do MPSP, são citados os influencers do funk MC Paiva, MC Brisola, MC GHdo7 e Biel Grau. MC Paiva foi um dos alvos das cinco ordens de busca e apreensão na segunda fase.
- No documento, o Ministério Público afirmou que os policiais civis chegaram a cobrar R$200 mil do MC Brisola para arquivar uma investigação, que entrou em um acordo para pagar uma propina de 10% do valor (R$ 20 mil).
- A operação é um trabalho da Força Tarefa de Combate ao Crime Organizado (Ficco/SP), composta pela PF, Secretaria de Segurança Pública (SSP), Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) e Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).