São Paulo — Uma ocupação destinada a mulheres vítimas de violência e em situação de vulnerabilidade, chamada Casa Laudelina de Campos Melo, no bairro do Canindé, no centro de São Paulo, sofreu uma tentativa de demolição na última quinta-feira (24/4), conforme denúncia do Movimento de Mulheres Olga Benario (MMOB), que administra o local.
De acordo com o movimento, a tentativa de demolição, feita supostamente pelo proprietário do terreno, é ilegal. Isso porque uma decisão da Justiça de dezembro do ano passado suspendeu a ação movida contra a ocupação.
“Quebraram e retiraram todo o telhado, cortaram a energia elétrica e água da ocupação, retiraram as tomadas, quebraram as privadas, roubaram os chuveiros e danificaram móveis conquistados ao longo dos anos com doações e trabalho das mulheres que constroem a Casa”, diz o relato das ocupantes.
Casa já acolheu mais de 10 mil mulheres
- A Casa Laudelina existe desde 2021 e ocupa um prédio que está vazio desde a década de 1980, segundo o movimento.
- No local, já foram acolhidas mais de 10 mil mulheres vítimas de violência e em situação de vulnerabilidade.
- A ocupação realiza atividades de extensão com a colaboração de alunos do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e da Pontifícia Universidade Católica do estado (PUC-SP).
Repúdio
As lideranças da organização repudiaram a ação. “O que foi feito é uma atitude criminosa e violenta, é um crime não só contra a ocupação, é um crime contra as mulheres do bairro e nós vamos resistir e reconstruir a Laudelina”, afirma Júlia Soares, coordenadora nacional do MMOB.
“A quem interessa a destruição de uma Casa que acolhe mulheres vítimas de todo o tipo de violência no centro de São Paulo? Uma casa que faz isso de forma justa, organizada e voluntária? A quem interessa esse ataque em uma semana onde vieram a público casos terríveis de feminicídios aqui na cidade de São Paulo e em vários estados do país?”, questiona Marlene Goya, coordenadora da Casa.
Para Marlene, o caso é “mais uma tentativa de silenciar e intimidar as mulheres que estão dispostas a mudar sua realidade”.
Ela afirma ainda que a tentativa de demolição representa também “o avanço da especulação imobiliária e da tentativa de expulsão do povo pobre no centro de São Paulo”, “como temos visto na Favela do Moinho e em várias ocupações do centro”.
O Metrópoles contatou o proprietário da empresa que arrematou a propriedade em leilão do ano passado, que é apontado pelo MMOB como responsável pela destruição da Casa. A reportagem, no entanto, não obteve retorno até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.