A cantora Maraisa, da dupla Maiara e Maraisa, causou polêmica após divulgar uma nova música, em suas redes sociais, chamada “Borderline”. Pessoas diagnosticadas com o transtorno, se revoltaram e detonaram a artista. Uma delas foi Andressa Urach, que chegou a afirmar que denunciaria a sertaneja ao Ministério Público por psicofobia.
Para entender melhor sobre o assunto, a coluna Fábia Oliveira conversou com Taty Ades, que é pós-graduada em neuropsicologia, escritora e especialista em Transtorno de Personalidade Borderline, Narcisismo e Amor Patológico. A profissional se tornou referência nacional com a criação do método “costura” de terapia, garantindo a remissão do transtorno em pacientes Borderline.
“Exemplo grave de psicofobia”
À coluna, Taty afirmou que esse tipo de conteúdo, como a canção de Maraisa, pode custar vidas.
“Esse tipo de conteúdo, apesar de parecer ‘alerta’ ou ‘proteção’ para alguém em um relacionamento difícil, é, na verdade, um exemplo grave de psicofobia – o preconceito contra pessoas com transtornos mentais. E mais que isso: é perigoso e pode custar vidas. O TPB não é sinônimo de abuso ou manipulação!”, disparou ela.
E continuou: “Quando uma música ou poesia usa um transtorno como ‘explicação’ para um relacionamento abusivo, ela espalha mitos que prejudicam tanto quem convive com transtornos, quanto quem tenta entendê-los. Essa letra não tem base clínica, não distingue comportamentos tóxicos de um quadro diagnosticável, e ainda sugere que ‘nem precisa de CRM pra diagnosticar’, invalidando completamente o trabalho de profissionais da saúde mental”.
Violência disfarçada de conselho
Taty Ades pontuou, ainda, as dificuldades que uma pessoa com o diagnóstico de borderline vive e afirmou que esse tipo de letra não ajuda ninguém.
“Estigmatizar o borderline agrava o risco de suicídio! Quem vive com TPB já enfrenta culpa, vergonha, medo de abandono, rejeição constante e um sentimento de não pertencimento. Quando ouve que é ‘louco’, ‘abusivo’, ‘manipulador’ como se fosse um monstro social, essa pessoa pode entrar em colapso. Muitos dos pacientes que atendo em consultório já me procuraram após ouvir ou ler esse tipo de discurso, em crise de autolesão ou ideação suicida. Esse tipo de letra não ajuda ninguém. Nem quem está em uma relação difícil, nem quem vive com transtornos. Ajuda apenas a manter a ignorância e a violência, disfarçadas de ‘conselhos’”, disse ela.
“Diagnóstico não é adjetivo! Borderline é um transtorno, não uma característica de personalidade que se joga na cara de alguém durante uma briga, por exemplo. É uma condição clínica que exige escuta, cuidado e, muitas vezes, uma abordagem psicoterapêutica aliada a suporte psiquiátrico. Jogar esse termo como um xingamento, um rótulo pejorativo, é além de antiético – é desumano”, acrescentou.
Educação emocional e empatia
Para a especialista, falta educação emocional e empatia.
“Precisamos urgentemente de mais educação emocional e mais empatia. Se alguém vive em uma relação abusiva, deve sim buscar ajuda. Mas não se deve, jamais, projetar essa dor em diagnósticos que não conhece. Letras como essa só contribuem com o preconceito e pioram o sofrimento de quem já está lutando para sobreviver”, disparou.
E finalizou: “A arte tem poder. E com esse poder vem a responsabilidade. Palavras podem curar, mas também podem matar”.
Veja a letra da polêmica música de Maraisa:
Olha aqui eu tenho que abrir seu olho pra esse relacionamento
Nem preciso de crmpra diagnosticar essa loucura que cê tá vivendo
Fiquei sabendo que ele namorou outras pessoas
Pra cada uma ele foi um personagem
E esse perfil se encaixa numa personalidade borderline
Repara ele te isolou de todo mundo
Não romantiza esse absurdo
Ele é instável ele é intenso ele é extremo
E nesses casos todo mundo sofre junto
Ele não precisa de você nem do seu sentimento
Só de tratamento
Não deixa essa montanha-russa virar casamento
Cê não precisa ficar se envolvendo
Com anjo e demônio ao mesmo tempo
Corre senão você vai afundar junto
Você não é remédio de maluco