São Paulo — Em sessão marcada por brigas, bate-bocas e confusão, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou, nesta terça-feira (29/4), em segunda votação, o projeto do prefeito Ricardo Nunes (MDB) que concede 2,6% de reajuste aos servidores em maio deste ano.
A segunda parcela do aumento, de R$ 2,55%, será feita em maio de 2026. Os vereadores já haviam aprovado o projeto em primeiro turno, na última quarta-feira (23/4). O texto foi aprovado por 34 votos a favor e 17 contrários. Agora segue para sanção do Executivo.
A sessão para a votação do projeto foi acompanhada por uma manifestação organizada em frente à Câmara pelos sindicatos que representam diferentes categorias do funcionalismo municipal. De acordo com os organizadores, cerca de 20 mil pessoas estiveram no ato.
Na sessão desta quarta, o vereador Eliseu Gabriel (PSB) apresentou substitutivo para o texto, mudando o valor e a forma de parcelamento do reajuste. As proposta foi rejeitada no congresso de comissões. A oposição também tentou obstruir a votação e pediu o adiamento da sessão, o que também foi rejeitado pelo plenário.
Confusões e bate bocas
Assim como na votação em primeiro turno na semana passada, a sessão foi marcada por bate bocas acalorados entre vereadores da base e da oposição. Logo no início das discussões, ainda na fase dos discursos, o líder do governo Fábio Riva (MDB) e o vereador Alessandro Guedes (PT) se desentenderam no plenário e tiveram de ser separados por outros parlamentares.
Também houve diversos momentos de embates entre vereadores da direita e sindicalistas que acompanhavam a sessão da galeria do plenário.
Em certo momento, a vereadora Cris Monteiro (Novo) afirmou na tribuna que “uma mulher branca, bonita e rica” incomoda. A declaração foi direcionada a sindicalistas presentes na galeria. A fala se deu também no momento em que a vereadora discutia com Luana Alves (PSol).
“Luana, eu estou falando. Quando você falou, não abri a boca. Eu escutei todos vocês calados. Agora, quando vem uma mulher branca aqui falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês. Mas estou aqui representando uma parte importante da população, que me elegeu. Eu faço o que é certo. não vou defender essas pessoas que deixam crianças na sala de aula, fazendo greve”, afirmou a vereadora.
O presidente Ricardo Teixeira (União) suspendeu a sessão para discutir com os vereadores o que fazer na situação. Após a retomada da sessão, Cris Monteiro foi ao microfone para pedir desculpas pela fala. Teixeira também se manifestou, afirmando não ter considerado racismo a fala da parlamentar do Novo, mas informou que a corregedoria da Casa vai analisar o caso.
Mais tarde, os vereadores Toninho Vespoli (PSol) e Rubinho Nunes (União Brasil) protagonizaram uma outra confusão na tribuna. O psolista discursava contra a proposta feita pelo Executivo quando ergueu um cartaz com a mensagem “vagabundagem é vereador que só quer lacrar na internet”.
Neste momento, o ex-MBL Rubinho Nunes tentou retirar o cartaz da mão de Vespoli, que reagiu jogando o papel em cima do colega (veja vídeo abaixo). Os vereadores foram separados por outros parlamentares e a sessão foi suspensa pelo presidente da Casa.
O cartaz empunhado por Toninho Vespoli, que é professor, foi uma resposta às declarações feitas por vereadores bolsonaristas na primeira votação, quando chamaram servidores grevistas de vagabundos.
Sindicatos discordam
A proposta salarial do Executivo causou reação dos sindicatos que representam as categorias do funcionalismo municipal e de vereadores da oposição, que não aceitam a proposta, alegando que ela não cobre a inflação acumulada nos últimos 12 meses. O IPC-Fipe, que mede a variação de preços no município foi de 5,16% entre março de 2024 e março de 2025.
Desde 16 de abril, os servidores seguiram a categoria dos professores municipais e também entraram em greve em meio à campanha salarial.
Mais cedo, uma audiência pública sobre o tema foi realizada na Comissão de Finanças e Orçamento, com a presença de representantes dos sindicatos e também da prefeitura. O subsecretário do Tesouro Municipal, Henrique de Castilho Pinto, afirmou que o reajuste apresentado foi o “possível” dentro do orçamento.
“Sendo que os valores entendemos ser razoáveis do aspecto fiscal e de possível aplicação. Foi feito todo um esforço por parte do governo, o projeto traz um impacto econômico-financeiro do primeiro reajuste de mais de meio bilhão de reais, sendo que os recursos viriam dos nossos impostos. O orçamento está bem ajustado ao percentual”, disse Pinto.
Já Cláudio Fonseca, presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), criticou o reajuste abaixo da inflação.
“Vivemos em um momento de evolução nas receitas correntes de 2020 para cá, 59% incidindo sobre as receitas da Prefeitura. Governos tem prioridades e percebemos que agora não é a valorização remuneratória dos servidores públicos”, declarou.
Os servidores municipais também protestam contra o fato de que o reajuste do funcionalismo ligado à Câmara Municipal e ao Tribunal de Contas do Município (TCM) foi aprovado pelos vereadores com aumento percentual de 4,5%. Para eles, a diferença no reajuste desrespeita a equidade entre as categorias.