Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (30/4), que mostram a menor taxa de desemprego no país para o primeiro trimestre desde o início da série histórica, indicam que dificilmente o Banco Central (BC) iniciará um ciclo de queda da taxa básica de juros.
A avaliação é de economistas ouvidos pela reportagem do Metrópoles nesta manhã, pouco depois do anúncio feito pelo IBGE. Segundo o levantamento da Pnad, o desemprego ficou em 7% no trimestre encerrado em março – alta de 0,8 ponto percentual frente ao trimestre encerrado em dezembro de 2024 (6,2%) e queda de 0,9 ponto percentual ante o mesmo período do ano passado (7,9%).
Embora tenha crescido, esta é a menor taxa de desocupação para um trimestre encerrado em março dentro da série histórica, iniciada em 2012. Até então, o recorde era do trimestre terminado em março de 2014 (7,2%).
“Mais uma vez, o mercado de trabalho doméstico mostra um ritmo forte e resiliente. Apesar da alta mais tímida do emprego formal, que tem puxado a dinâmica de ocupação ultimamente, a massa salarial segue subindo”, afirma o economista Maykon Douglas.
“Setores econômicos mais sensíveis à renda devem se manter bem posicionados ao longo dos próximos meses, em detrimento dos mais sensíveis ao crédito, o que sustenta a atividade doméstica e continua a ser um ponto de atenção para o BC”, analisa o economista.
De acordo com ele, a taxa de desemprego deve fechar 2025 “em 6,9%, sem efeitos sazonais”.
De acordo com a coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, Adriana Beringuy, “o bom desempenho do mercado de trabalho nos últimos trimestres não chega a ser comprometido pelo crescimento sazonal da desocupação”.
“Mesmo com expansão trimestral, a taxa de desocupação do 1º trimestre de 2025 é menor que todas as registradas nesse mesmo período de anos anteriores”, observa Beringuy.
Para Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos, os dados da Pnad vieram “dentro do esperado”.
“Se a gente comparar com o último trimestre, houve aumento de 0,8%. Mas, se compararmos com o mesmo período do ano anterior, a queda foi de quase 1%. Então, fazendo essa comparação, foi a menor taxa de desemprego para um trimestre, que se encerra em março, de toda a série histórica da Pnad”, afirma.
“Olhando para a taxa de juros, com a economia aquecida e o emprego muito aquecido, dificilmente veremos corte de juros ou pelo menos uma pausa no aumento tão cedo”, completa Correia.
Os caminhos da Selic
Atualmente, a Selic está em 14,25% ao ano, depois do aumento de 1 percentual anunciado no último encontro do Copom, em março – é o maior índice em uma década. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC volta a se reunir na próxima semana, nos dias 6 e 7 de maio.
A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a inflação. A Selic é utilizada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia.
Quando o Copom aumenta os juros, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
Ao reduzir a Selic, a tendência é a de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.