Tesoureiro do CV driblava justiça e ostentava R$ 65 milhões em luxo

Bares de alto padrão, viagens para praias paradisíacas e hotéis de luxo eram rotina para membros do Comando Vermelho (CV) atuantes no Mato Grosso. Com o auxílio de Paulo Witer Farias Paelo, 38 anos, apontado como sendo o “tesoureiro” de um esquema estruturado de lavagem de dinheiro, os membros da facção criminosa desfrutavam de uma vida repleta de regalias.

Com a deflagração de duas operações pela Polícia Civil do Mato Grosso, porém, Paulo Witer, conhecido dentro do universo criminal como “WT”, acabou preso em regime fechado em abril de 2024. Um ano depois, sua defesa, no entanto, luta incansavelmente para colocar o criminoso de volta às ruas.

A última decisão acessada pela coluna é de 20 de março deste ano. O juiz João Francisco Campos de Almeida negou que Paulo Witer, preso em ala de segurança máxima, na Raio 8 da Penitenciária Central do Estado (PCE), reservada para custodiados considerados de alta periculosidade, tenha o isolamento revogado.

A negativa se dá, conforme as justificativas do magistrado, porque, em 2024, a polícia confirmou que, mesmo preso, WT continuava dando ordens ao núcleo contábil da facção que não estava encarcerado.

Movimentação milionária

Paulo Witer foi condenado por lavar dinheiro do tráfico para a facção. Em uma investigação que durou quase dois anos, ficou comprovado que o esquema liderado por ele usou comparsas, familiares e testas de ferro na aquisição de bens móveis e imóveis para movimentar o capital ilícito e dar aparência legal às ações criminosas.

Apontado como líder do grupo, Witer montou uma base para difundir e promover a facção criminosa agindo também com assistencialismo por meio da doação de cestas básicas a eventos esportivos.

A investigação da Gerência de Combate ao Crime Organizado apurou que o esquema movimentou R$ 65 milhões na aquisição de imóveis e veículos. As transações incluíram ainda criação de times de futebol amador e a construção de um espaço esportivo, estratégias utilizadas pelo grupo para a lavagem de capitais e dissimulação do capital ilícito.

Em novembro de 2024, uma nova operação foi deflagrada. Diligências identificaram que Andrew Nickolas Marques dos Santos, um dos braços direitos de WT, havia aberto uma empresa de fachada exclusivamente para lavagem de dinheiro do tráfico de drogas em Cuiabá.

Mesmo preso, o tesoureiro da facção criminosa também foi alvo da Operação Fair Play.

Além de movimentações de centenas de reais em espécie, realizadas por clientes que normalmente utilizam cheques e cartões de crédito, foram identificados depósitos feitos de forma fracionada.

À época, o delegado Rafael Scatolon, responsável pelas investigações, apontou que o uso do dinheiro em papel sugere uma possível tentativa de evitar rastreamento do dinheiro, que tem origem no tráfico ilícito de drogas.

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Burlando o esquema

Segundo a Polícia Civil do Mato Grosso, antes de ser preso em regime fechado, Paulo cumpria pena no semiaberto, com uso de tornozeleira eletrônica, após cumprir 15 anos, de um total de 51 anos de penas impostas em diversos processos na justiça estadual.

Contudo, o tesoureiro do Comando Vermelho, burlou, por diversas vezes, o sistema de medidas cautelares para gastar dinheiro do tráfico em viagens luxuosas e até voo de paraquedas.

Em dezembro de 2023, por exemplo, a tornozeleira eletrônica apontava que o investigado estava em Cuiabá (MT) quando, na verdade, ele estava a quase dois mil quilômetros de Cuiabá, desfrutando de um fim de semana de lazer e luxo nas praias do litoral catarinense, onde passou a virada do ano e saltou de paraquedas.

Conforme apurado pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), em datas subsequentes, WT fez viagens às cidades do Rio de Janeiro e Maceió, onde se hospedou em locais de alto padrão, à beira-mar.

Enquanto curtia a vida leve, a tornozeleira eletrônica mostrava que Paulo supostamente estaria em Cuiabá, em seu apartamento em um condomínio em área valorizada da capital, ou seja, a quase dois mil quilômetros do local de onde ele de fato estava.

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