
Maria Luiza Pérola Dantas Barros
Doutoranda em História Comparada (PPGHC/UFRJ)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente
E-mail: [email protected]

Por volta das 22h30 de 1º de maio de 1945, era noticiada a morte de Hitler, interrompendo a programação habitual da rádio Hamburgo: “Do quartel-general, foi informado que nosso Führer, Adolf Hitler, lutando até seu último suspiro contra o bolchevismo, morreu pela Alemanha nesta tarde”. Um anúncio coeso, porém, de tons gloriosos a corroborar com a imagem de alguém que teria lutado “até o último suspiro” naquele contexto de guerra. A partir desse anúncio, a Alemanha nazista veria, em poucos dias, a sua derrocada numa já conhecida narrativa sobre o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) na Europa, com a assinatura da rendição alemã naquele mesmo mês, fazendo com que o dia 08 de maio fosse oficialmente celebrado, ao longo dos anos, como o “Dia da Vitória”.
Antes mesmo daquele anúncio oficial, podemos dizer que a imprensa no mundo se perguntava qual seria o destino de Hitler, em meio a uma Berlim prestes a ser invadida pelas tropas aliadas. Fugir? Mas com que roupa? Era assim que periódicos brasileiros, como a Revista da Semana, já na edição de 10 de março de 1945, especulavam sobre o destino de Hitler.
Nessa matéria, longe de uma imagem gloriosa, a liderança nazista aparecia como o maior facínora da humanidade, para o qual não haveria refúgio. Considerando improvável o seu suicídio, e acentuando a sua covardia pessoal, levantava-se a possibilidade dele se disfarçar para fugir.
Entre os disfarces elencados, apareciam o de pintor, professor, carregador de malas e garçom, por exemplo. Tais disfarces, mesmo se acreditando em um outro destino para Hitler, serviam, segundo a revista, para demonstrar as habilidades “que pode atingir um perito em ‘maquillage’” (p.37), e mesmo que as feições dele fossem modificadas, afirmava-se que, por suas atitudes, ele seria reconhecido e castigado um dia.
Com a proximidade dos aliados a Berlim, os alemães eram convocados para lutar até a morte. Foi rápido o avanço das tropas aliadas, culminando no suicídio de Hitler, em 30 de abril de 1945, e na ocupação da cidade pelo Exército Vermelho e posterior rendição alemã. Para o historiador Richard Evans, o dia que marca o final da guerra na Europa não foi recebido como libertação pelos alemães, havendo uma inicial resistência interna, e, posteriormente, uma submissão pacífica aos aliados, em virtude: da desintegração e colapso do Partido Nazista; da morte dos possíveis líderes de resistência; do fim do fator lealdade com a morte de Hitler e da culpa em relação ao extermínio dos judeus (2016, p.846).
Diferentemente dos tons gloriosos contidos no anúncio oficial de sua morte, com o suicídio de Hitler, sua imagem se revelaria com melhores contornos para a história: não como um grande vulto em realizações, como os nazistas faziam questão de anunciar, mas como uma liderança responsável por mergulhar o mundo no pior conflito bélico do século XX. Em uma coisa a matéria veiculada na Revista da Semana acertou: os seus crimes perpetrados contra a humanidade seriam conhecidos e lembrados… mesmo 80 anos depois.
Para saber mais:
ALONSO, Juan Francisco. ‘Hitler estava destruído, seu rosto era uma máscara de medo e confusão’: como foram os últimos dias do líder nazista há 80 anos. BBC News de Londres, 29/04/2025. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cdxndl51w99o Último acesso em 30/04/2025, às 15:56
O post 80 anos depois apareceu primeiro em O que é notícia em Sergipe.