O maior erro do nosso tempo é a ideia que tudo está na Internet.
Outro é que quase tudo está na Internet.
O erro não seria grave se não prejudicasse tanto quem acredita nele. Mas prejudica.
Imagine-se que se dizia que, procurando bem, quase tudo o que Portugal tem existe em Lisboa.
Pode não haver tudo o que se colhe e cozinha em Trás-os-Montes, mas, conhecendo bem as vielas de Lisboa, já dá para ficar com uma boa ideia do que é a cozinha transmontana.
Ora, o conteúdo da Internet está para todos os livros e todas as publicações do mundo como Lisboa está para Portugal.
Só não está como Freixo de Espada à Cinta está para Portugal porque há muitos, muitos livros e publicações na Internet que só uma pequeníssima minoria, académica ou endinheirada, pode ler.
Nós apenas podemos saber que existem: a única coisa que podemos consultar é o catálogo, para sabermos o que estamos a perder.
Como a Internet é pequena e rodeada por lixo, as pessoas que tomam a Internet por um todo estão condenadas a consultar as mesmas fontezinhas.
Em Portugal, por exemplo, nota-se perfeitamente que toda a gente vive dos mesmos dois dicionários online e da Wikipedia.
É como se toda a gente tivesse em casa os mesmos dois dicionários, ambos muito abreviados e aleatórios, e a mesma enciclopédia anglo-americana.
É nisto que dão a preguiça e a pressa: na pequenez, na monotonia, na previsibilidade, na falta de estímulo, no conhecimento feito numa cantina do Ikea, em que todos empurram as mesmas almôndegas de alce nos mesmos tabuleiros manchados de mostarda.
Nunca foi tão fácil fugir da manada. Nunca foi tão fácil ser jovem. Basta abrir um livro. Basta entrar numa biblioteca. Basta habituarmo-nos à emoção e ao prazer de procurar e de encontrar.
Por enquanto, a Internet é apenas um meio de transporte. Confiar nela é como confiar no que trazem os correios. Trazem muita coisa gira, mas são um acrescento. Não são um substituto.
Continua a ser preciso ir aos livros.
(Transcrito do PÚBLICO)