Berlim – A agência de inteligência da Alemanha classificou o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) como extremista nesta sexta-feira (2).
A medida dá base legal para que o governo intensifique a vigilância sobre o partido de extrema-direita, que é hoje o maior grupo de oposição do país.
O relatório, com mais de 1.100 páginas, afirma que o AfD adota uma ideologia racista e anti-muçulmana, o que autoriza o uso de informantes, interceptações e outros mecanismos de monitoramento por parte do Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV).
AfD sob suspeita legal
A classificação como organização extremista só foi possível após o partido perder um processo judicial em 2023, no qual tentava impedir essa avaliação preliminar do BfV.
Com a nova classificação, o governo pode vigiar mais de perto o AfD, uma vez que as leis alemãs, por causa do passado nazista e comunista do país, impõem limites rigorosos à espionagem de partidos políticos.
O BfV afirma que o partido promove uma ideia de nação baseada em origem étnica e exclui populações inteiras do conceito de cidadania, o que viola a dignidade humana e alimenta hostilidade contra imigrantes e muçulmanos.
Lideranças do AfD reagem
Os co-líderes do partido, Alice Weidel e Tino Chrupalla, reagiram com críticas duras. Para eles, a classificação do BfV é “uma tentativa politicamente motivada de criminalizar o AfD”.
“O partido vai continuar tomando medidas legais contra esses ataques que ameaçam a democracia”, afirmaram em nota.
Risco de sanções e isolamento político
A decisão pode impactar diretamente o financiamento público do partido e colocar em xeque a manutenção de servidores públicos filiados ao AfD em cargos de Estado. Dependendo da função que ocupam, esses servidores podem ser demitidos.
A medida também pode enfraquecer a imagem do partido, que lidera pesquisas de intenção de voto e se tornou a legenda de extrema-direita com maior sucesso eleitoral na Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial.
Nova configuração política
A decisão ocorre poucos dias antes da posse do novo chanceler, Friedrich Merz, e tem provocado tensão dentro do bloco conservador. O aliado Jens Spahn defende que o AfD deve ser tratado como um partido normal no parlamento, mas muitos membros do seu próprio partido discordam.
Alguns parlamentares usam o novo relatório para impedir que o AfD presida comissões importantes no parlamento, mesmo que, pelo tamanho da bancada, isso estivesse previsto.
Especialistas analisam cenário
Segundo o cientista político Wolfgang Schroeder, da Universidade de Kassel, a decisão abre caminho para que os demais partidos rejeitem formalmente a legitimidade do AfD.
“O argumento é que eles não atendem aos padrões exigidos para ocupar cargos-chave”, explicou.
Debates sobre possível proibição
A decisão reacende o debate sobre uma possível proibição formal do AfD. No entanto, o chanceler em fim de mandato, Olaf Scholz, alertou para os riscos de uma decisão precipitada.
“Sou contra um tiro rápido. Precisamos avaliar com cuidado”, disse Scholz durante um evento na cidade de Hanover.
Origem e trajetória do partido
O AfD surgiu em 2013, inicialmente com discurso eurocético, contrário aos pacotes de resgate da zona do euro. Em 2015, após a Alemanha aceitar milhares de refugiados, o partido passou a focar no discurso anti-imigração, ampliando sua base conservadora.
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