Alliny Serrão, Iracema Vale e Ivana Bastos são as únicas deputadas que comandam Assembleias Legislativas no Brasil. Esse cenário destaca a baixa presença feminina em cargos de liderança política, apesar de avanços na participação das mulheres na política nacional.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2022, apenas 18% das cadeiras nas Assembleias Legislativas estaduais foram ocupadas por mulheres, um aumento modesto em relação aos 15% de 2018. No entanto, a presença feminina em posições de comando, como a presidência das Assembleias, permanece extremamente limitada.
Presidências femininas nas Assembleias Legislativas
Alliny Serrão (União Brasil) foi reeleita por unanimidade para presidir a Assembleia Legislativa do Amapá. Natural de Laranjal do Jari (AP), iniciou sua carreira política como vereadora em sua cidade natal. Ela destaca a influência de familiares políticos em sua trajetória.
Iracema Vale (PSB), presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão, é enfermeira e servidora pública federal aposentada. Com 30 anos de carreira política, foi a deputada estadual mais votada do Maranhão em 2022, com 105 mil votos.
Ivana Bastos (PSD) assumiu a presidência da Assembleia Legislativa da Bahia em fevereiro de 2025, após o afastamento do então titular, Adolfo Menezes. Ela é a primeira mulher a presidir a casa em seus 190 anos de existência.
Desafios enfrentados pelas líderes
As três presidentes relatam desafios comuns em suas jornadas políticas. Alliny Serrão afirma que é necessário lidar com uma cobrança maior para provar capacidade, enquanto estereótipos e preconceitos impõem barreiras não enfrentadas por colegas homens.
Ivana Bastos compartilha percepção semelhante. Ela relata que enfrentou resistência crescente à medida que se consolidava como liderança, incluindo tentativas de judicialização e manobras para refazer eleições. Além disso, destaca as cobranças sobre a vida privada das mulheres em cargos públicos, uma preocupação que muitas vezes não recai sobre os homens.
Participação feminina na política brasileira
Apesar de representarem 46% do total de filiadas a partidos políticos no país, as mulheres foram apenas 34% das candidaturas registradas nas eleições de 2022 e 2024. A cada ciclo, a participação feminina reduz-se ainda mais. Dados do TSE mostram que, das mais de 187 mil mulheres que concorreram a cargos em 2020, apenas 24% se candidataram novamente em 2024. Entre os homens, a taxa de recandidaturas gira em torno de 40%.
Para a pesquisadora Evorah Cardoso, doutora em sociologia jurídica pela USP, esse fenômeno revela um “funil” na política brasileira. Segundo ela, as mulheres enfrentam obstáculos estruturais em cada etapa da trajetória política, desde a candidatura até a permanência no cargo, passando pelo acesso a recursos e apoio interno nos partidos.
Ranking global de representatividade feminina
O Brasil ocupa atualmente a 153ª posição no ranking mundial de representatividade feminina no Legislativo, segundo a Inter-Parliamentary Union. Na América Latina, o país está à frente apenas de Belize e Haiti. Em contraste, Ruanda lidera a lista, com 63,7% de mulheres em seu Parlamento.
Violência política e abandono de mandatos
A violência de gênero no ambiente político também tem levado mulheres a deixar a vida pública. Um dos casos mais emblemáticos é o da ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB), que desde 2022 está afastada das disputas eleitorais. Ela afirma que a naturalização da violência e a ausência de instrumentos eficazes demonstram que as mulheres não são bem-vindas nesse espaço.
Legislação e propostas para aumentar a participação feminina
Desde 2009, a legislação brasileira obriga os partidos a destinar 30% das candidaturas a mulheres. No entanto, muitas siglas driblam a norma, lançando “candidaturas laranjas” para cumprir cotas e, depois, pedem anistia para evitar punições.
Em 2025, tramita no Senado o projeto do novo Código Eleitoral (PLP 112/2021), que propõe a reserva de 20% das cadeiras nos legislativos para candidaturas femininas. A proposta também prevê a contagem em dobro de votos dados a mulheres, negros e indígenas na distribuição de recursos do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, além da reserva de 30% do tempo de propaganda política anual para mulheres e outros grupos sub-representados.
A notícia Desigualdade de gênero persiste no Brasil e apenas três mulheres presidem Assembleias Legislativas estaduais apareceu primeiro em Diário Carioca.