Todos sabemos que os judeus sofreram muito durante séculos. Políticos de vários países e épocas escolheram matá-los, expulsá-los, roubá-los e impor-lhes todo tipo de suplício. Essa é uma razão adicional para sentirmos irmandade com o povo hebreu; outra razão é porque, como nós, são humanos.
Por que a tão sofrida comunidade judaica não se pronuncia com firmeza, visibilidade e recursos, contra um pequeno grupo de hebreus que, tendo capturado o estado de Israel, tortura o povo palestino, impondo-lhe martírio análogo ao que tantos judeus já sofreram? Por que não?
São muitas as semelhanças entre o que os governantes hebreus atuais estão fazendo com os palestinos e o que Hitler fez com os antepassados desses mesmos dirigentes políticos. A maioria silencia por quê?
Tomar a faixa de Gaza é guerra de conquista. Impedir ajuda humanitária de chegar ao encurralado povo palestino aproxima os dirigentes hebreus dos gestores dos campos nazistas. Por que a comunidade judaica, composta majoritariamente por pessoas como qualquer de nós, não se manifesta? Imagino que a maioria reprova o que tem feito o governo de Israel, cujas atitudes jamais podem ser atribuídas “aos judeus”, pois apenas um pequeno grupo é o responsável pela chacina em curso.
Certamente o governo de Israel tem direito de se defender de ataques. Mas o que se passa naquelas terras já deixou de ser legítima defesa, tornando-se uma covarde busca pelo extermínio de um povo. E, desta vez, as pessoas a serem suprimidas não são semitas!
Isso ficou ainda mais claro recentemente, quando o ministro das finanças de Israel afirmou que “Gaza deve ser completamente destruída e seus habitantes devem partir em grandes números para terceiros países”. Partir para onde?
Neste momento em que a prometida democratização da expressão de opiniões, na internet, parece ter se transformado em seu contrário, em razão dos algoritmos que espalham mais ódio que amor, chamar de antissemita todo aquele que critica o estado de Israel ficou fácil. Como é obvio, falar mal de um governo não significa depreciar o povo que ele governa! Mas, com o auxílio de centenas de milhões de dólares gastos pelo estado israelita para moldar a opinião pública, doméstica ou não, a pecha tende a colar. É também evidente que muitos judeus ocupam importantes posições de poder em outros governos, nas finanças, na ciência e na imprensa, o que leva muitos a evitar críticas àquele governo pode temer represálias.
Por que esse pequeno grupo de pessoas poderosas esquece a história da sua própria família e pratica, contra os palestinos, o que tantos algozes fizeram com seus avós, bisavós, trisavós, tetravós, penta, hexa e anteriores avós? E por que aqueles que, embora judeus, não participam desse grupo, não se manifestam em reprovação?
Não sei as respostas, mas devemos buscá-las. Encontrando-as, ampliaremos as chances de barbaridades como a que ocorre em Gaza não se repitam e os próximos séculos sejam de reconstrução e paz. Para todos, não para uma pequena parcela dos humanos.
Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados