A inteligência artificial está evoluindo mais rápido do que nunca, mudando padrões e criando novas possibilidades em quase todos os setores. O que antes parecia distante ou experimental, hoje já faz parte de rotinas pessoais e profissionais, exigindo que indivíduos e organizações repensem como interagem com a tecnologia e tomem decisões em um mundo cada vez mais automatizado.
Além disso, a tecnologia tem mudado rapidamente a forma como se trabalha, se vive e se comunica. Esse crescimento rápido exige adaptação constante e levanta questões importantes sobre ética, criatividade e o papel humano neste novo cenário.
Diante dessa perspectiva, a agência Binder promoveu, nessa quinta-feira (8/5), o evento BTrends, em Brasília (DF), que abordou temas como a importância da curiosidade em um mundo onde a tecnologia transformará a realidade tal como a conhecemos. O evento reuniu profissionais de marketing e publicidade, clientes e parceiros da agência.
No início do BTrends, Lucas Daibert, sócio e vice-presidente de Planejamento da Binder, apresentou o novo escritório da empresa, recentemente inaugurado, e celebrou a conquista.
“Este ano comemoramos 24 anos de atuação. Estamos presentes em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo. O trabalho que sai do nosso escritório é ainda mais bonito do que o espaço que construímos”, destacou o executivo da Binder, agência que atende clientes como Braskem, Oi, Texaco, Chevrolet e Inmetro.
Daibert também compartilhou reflexões sobre grandes eventos do setor, como SXSW, Web Summit, Cannes Lions, NRF e Rio Innovation Week, eventos que mostram que estamos vivendo um momento muito radical de mudança em que a evolução do ser humano passa a deixar, de certa medida a ser humano, pelo menos como a gente conhece.
Outro assunto abordado foram os modelos de linguagem que estão evoluindo de forma exponencial, com avanços de 5 a 10 vezes ao ano. “Se essa tendência continuar, até 2030 poderemos ter um ChatGPT até 100 mil vezes mais capaz do que o atual”, garantiu.
Com isso, as organizações passarão a contar com verdadeiros “gênios digitais” capazes de testar novos modelos operacionais, simular crises ou mudanças regulatórias e avaliar impactos de decisões estratégicas.
Esses sistemas permitirão que experimentemos no ambiente virtual o que será posteriormente implementado no mundo físico. Já estamos vendo esse tipo de aplicação em cidades e países ao redor do mundo.
De SEO a GEO
Atualmente, já se discute que não é mais o SEO (Search Engine Optimization) o principal fator que determina se um conteúdo será lido ou ranqueado pelo Google.
“Entramos na era do GEO — Generative Experience Optimization — em que a forma como interagimos com sistemas de inteligência artificial generativa se torna o novo filtro de visibilidade e relevância digital”, ponderou Daibert. “O Google, por décadas dominante na mediação da informação on-line, começa a perder o controle desse monopólio, ameaçado por assistentes e interfaces que oferecem respostas diretas, personalizadas e contextuais, sem a necessidade de buscas tradicionais.”
Neste novo cenário, surge uma provocação: a intimidade artificial, mesmo que construída com algoritmos, ainda precisa ser “real” para ser significativa? Para muitos, o que importa é o efeito que essa interação tem sobre nós — se nos faz bem, se nos acolhe, se nos entende.
“Olhando para o futuro próximo, é plausível imaginar que nossos filhos irão, cada vez mais, experimentar e ensaiar relações afetivas com inteligências artificiais. Esses vínculos, ainda que mediados por código, podem servir como ensaio emocional, aprendizado ou até companhia real em um mundo onde a tecnologia já deixou de ser apenas ferramenta e passou a ocupar espaço nas nossas relações mais humanas.”
Lucas Daibert, sócio e vice-presidente de Planejamento da Binder
“A inteligência artificial vai ganhar corpo”, afirmou Lucas Daibert. “Elon Musk já disse que, em breve, teremos mais robôs do que seres humanos. Estamos nos aproximando de um ponto em que a IA deixará de ser apenas um sistema digital e passará a ter forma física, presença no mundo real.”
De acordo com o executivo, essa transformação é impulsionada por avanços em áreas como a computação quântica, biotecnologia e a chamada computação sintética — campos que ultrapassam o desenvolvimento de ferramentas para entrar no território da criação de novas formas de existência.
“Já não estamos apenas criando tecnologia, estamos criando uma nova realidade. Algo que redefine o que significa estar vivo, presente ou consciente em um mundo digitalizado”, refletiu Daibert.
Segundo ele, a geração que está nascendo agora — chamada de Geração Beta, a partir de 2025 — crescerá em uma realidade completamente entrelaçada com a inteligência artificial.
“Para essas crianças, será natural ter um terapeuta que é uma IA, um professor digital, talvez até um melhor amigo artificial. Os relacionamentos humanos passarão por uma reconfiguração profunda, e a IA estará no centro disso”, projetou.
O futuro que antes parecia ficção científica está se tornando parte do cotidiano — e ele virá não apenas com novas tecnologias, mas com novas formas de viver, aprender e se conectar.
IA em tudo
Lucas Daibert ainda provocou a plateia com reflexões sobre o impacto da inteligência artificial no futuro do trabalho e das organizações.
Com questionamentos incisivos, ele lançou um olhar crítico sobre o momento atual: “Será que estamos diante de uma nova forma de comoditização? E, nesse cenário, o que realmente vai sobrar para nós, seres humanos?”, indagou.
Daibert defendeu a importância de uma cultura organizacional voltada para a inovação, especialmente em um contexto em que as tecnologias emergentes, como a IA generativa, começam a ocupar espaços antes exclusivos do intelecto humano.
“No fim do dia, ninguém quer saber se você usou ou não inteligência artificial. O que importa é a qualidade e o valor do trabalho que você entrega”, destacou.
Ele também compartilhou insights de grandes nomes do SXSW, como Rohit Bhargava, especialista em marketing, que afirmou: “Quem entende de gente sempre vence”.
A mensagem reforça a ideia de que, mesmo em um cenário dominado por algoritmos, a compreensão das emoções, necessidades e comportamentos humanos seguirá sendo um diferencial competitivo.
Daibert mencionou Kate Ancketill, CEO da GDR, outra palestrante do evento, que ecoa essa visão: “No fim das contas, ninguém se importa se você usou IA ou não — o que realmente importa é se você gerou um benefício claro para as pessoas”.
Assim, ele argumentou que o futuro não será apenas tecnológico, mas profundamente humano — e que o verdadeiro desafio será equilibrar inteligência artificial com sensibilidade e propósito.
Daibert ainda citou Doug Herrington, reforçando o papel da liberdade criativa nas organizações: “Com a perspectiva de entregar o melhor para nossos clientes, ganhamos a liberdade para realmente inovar.”
Para ele, inovação não deve ser um departamento isolado, mas um princípio norteador de toda a cultura empresarial.
Meghan Hurley, vice-presidente da Claires, que trouxe uma perspectiva fascinante durante a NRF sobre os hábitos e prioridades da Geração Alpha, também foi citada. Ela observou que, para as adolescentes dessa nova geração, a aparência e o figurino dos avatares virtuais estão se tornando mais importantes do que as roupas que usam na vida real.
Esse fenômeno destaca uma mudança significativa nos padrões de identidade e socialização, com as plataformas digitais oferecendo um espaço onde a construção de um “eu virtual” começa a superar a ênfase na vida física.
Com isso, as empresas e marcas precisam entender que a realidade digital está se entrelaçando cada vez mais com a realidade física, moldando o comportamento e as escolhas dos consumidores de forma inédita.
Espaço de trocas
Amanda Costa, gerente de RTVC da Binder, compartilhou que o evento BTrends, promovido há quatro anos, se tornou um espaço fundamental para a troca de ideias e tendências do mercado.
“O Lucas traz tendências internacionais para serem apresentadas e discutidas entre agências, clientes, fornecedores e veículos. Este ano, o foco foi na inteligência artificial, pois acreditamos que ela tem o potencial de agregar valor e otimizar nosso trabalho”, explicou Amanda, ressaltando a importância de se adaptar às novas tecnologias e aproveitar as possibilidades para aprimorar os processos internos.
Luiz Antônio, participante do evento com ampla experiência no mercado publicitário, também destacou o impacto da IA nas dinâmicas do setor.
“A inteligência artificial vai agilizar nosso trabalho de forma significativa. Ela não apenas otimiza tarefas repetitivas, mas também oferece soluções mais rápidas e precisas, liberando tempo para focarmos no que realmente importa: a estratégia e a criatividade”, explicou.
Segundo ele, a adoção de ferramentas baseadas em IA permitirá que as equipes publicitárias se concentrem mais no desenvolvimento de ideias inovadoras ao mesmo tempo em que melhoram a produtividade e a eficiência nas operações diárias.
E-commerce
Ninguém precisa mais sair de casa para fazer compras, afirmou Lucas Daibert. Essa mudança de comportamento, que se torna cada vez mais comum, reflete nossa crescente dependência do digital para as transações cotidianas.
Lee Peterson, CEO da WD Partners, reforçou esse ponto durante a NRF, apontando que 68% dos entrevistados preferem comprar on-line.
Se o digital representa velocidade, ele é a chave para a conveniência. Por exemplo, se você perde o carregador e pede um novo pelo Mercado Livre, ele pode chegar no mesmo dia. “Isso é o speed: a transação digital funcionando de forma rápida e eficiente”, destacou Daibert, ressaltando como a velocidade tem se tornado um fator essencial no consumo moderno.
Por outro lado, no espaço físico, o conceito de “slow” começa a ganhar relevância.
A experiência digital é instantânea e rápida, como os conteúdos de 15 segundos no TikTok, mas no físico, as lojas e espaços estão se posicionando como alternativas ao ritmo transacional acelerado, oferecendo algo mais.
“É aí que entra o maravilhamento da experiência — a qualidade contra a quantidade. Esta é uma mensagem poderosa”, apontou Daibert.
Ele explicou que, ao criar experiências únicas no ambiente físico, as marcas têm a oportunidade de se conectar com os consumidores de maneira mais profunda, oferecendo algo que o digital não consegue replicar.
“Não perca a oportunidade de fazer algo único quando se tem uma pessoa próxima da sua marca”, alertou Daibert, lembrando que o toque físico pode ser inesquecível.
Um exemplo disso é a Louis Vuitton, que criou uma loja em Nova York que se tornou um ponto turístico. A loja oferece não apenas produtos exclusivos, mas também experiências como chocolate e café da marca, com detalhes e elementos que só podem ser vivenciados no ambiente físico.
“Esse tipo de experiência é uma das grandes vantagens do físico, algo que não se consegue apenas no digital”, completou o executivo.