O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta segunda-feira (12/5) que o governo dos Estados Unidos, capitaneado pelo presidente Donald Trump, deveria “olhar com mais generosidade” para os países da América Latina e da América do Sul, entre os quais o Brasil, líder regional.
O chefe da equipe econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a posição brasileira de não tomar partido na guerra comercial travada entre EUA e China. Haddad criticou o “tarifaço” imposto por Trump sobre os países da região e disse aguardar os desdobramentos do acordo comercial entre norte-americanos e chineses em torno de uma redução das tarifas de parte a parte por um período de 90 dias.
“Eu penso que eles estão tentando encontrar um caminho de reequilibrar algumas variáveis macroeconômicas importantes. O déficit externo americano é muito elevado, o déficit interno é muito elevado, a taxa de juros está alta há muito tempo. Isso tudo vai complicando um pouco a vida dos americanos. Eles estão procurando, à maneira deles, um pouco errática eu diria, um caminho para reequilibrar as contas”, afirmou Haddad, em entrevista ao UOL.
“Os EUA se promoveram muito com a globalização. Se você pegar a renda per capita, o crescimento, eles se beneficiaram da globalização, mas a China talvez tenha se beneficiado mais que os EUA. Isso gera um incômodo [nos norte-americanos]”, prosseguiu Haddad, quando questionado sobre o que levou o governo Trump a escalar nas tarifas.
“A China é uma potência militar, uma potência econômica, está na fronteira da tecnologia… É uma questão que está também colocada”, explicou.
Brasil faz “política certa”, diz Haddad
Para o ministro da Fazenda, que se reuniu recentemente com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, o governo federal optou pela “política certa” na negociação com os EUA sobre as tarifas.
“Quem está capitaneando o processo de negociação é o vice-presidente Geraldo Alckmin. Mas é um assunto caro à Fazenda. Causou uma certa estranheza o fato de a América do Sul ser deficitária em suas relações comerciais com os EUA .Como você taxa uma região que é deficitária? Não faz o menor sentido isso”, criticou Haddad.
“Na minha opinião, os EUA têm de passar a olhar para o continente de uma forma mais estratégica no longo prazo. Os EUA têm muito a ganhar com o maior equilíbrio regional, o maior desenvolvimento industrial de todo o continente. Quanto mais um país é vulnerável, mais ele se torna presa fácil de interesses comerciais do mundo inteiro. Os EUA deveriam olhar com mais generosidade para a América Latina e para a América do Sul”, defendeu o ministro.
“O Brasil está fazendo a política certa. Não está escolhendo bloco econômico. Para se desenvolver, o Brasil precisa de um bom acordo com a Ásia, um bom acordo com a Europa e um bom acordo com os EUA.”
Questionado sobre qual seria o lado escolhido pelo Brasil na guerra comercial, o ministro da Fazenda afirmou que “o presidente Lula não vai fazer essa escolha porque não acredita nesse tipo de coisa”.
“São mercados muito diferentes. A China é o maior parceiro comercial do Brasil hoje. Como você vai prescindir disso? Os EUA têm uma tecnologia de ponta que ninguém domina no nível que eles dominam. O Vale do Silício está na frente, nós dependemos de tecnologia, como o mundo inteiro depende. Essas parcerias são fundamentais para o Brasil se desenvolver”, concluiu Haddad.