Até outro dia havia uma reforma ministerial em curso. Se Lula queria fazê-la ou não, pouco importa. Ele autorizou o ministro José Dirceu e outros interlocutores a promoverem as sondagens necessárias para isso. E ele mesmo conversou a respeito com líderes de vários partidos.
Ao ministro Aldo Rebelo (PC do B), da Coordenação Política, disse que infelizmente teria de substituí-lo. Para o lugar de Rebelo convidou o deputado João Cunha (PT-SP).
Então a pretexto de não ceder à chantagem de Severino Cavalcanti, presidente da Câmara, que cobrava um ministério para o PP, seu partido, Lula abortou a reforma 12 horas antes de anunciá-la. Bateu com a mão na mesa, avisou que o presidente é ele, e proclamou que não haveria mais reforma.
Sim, adiantou também que doravante assumiria na prática a coordenação política do governo. Desde então o governo só colhe derrotas no Congresso, e só se mete em encrencas.
E no vácuo de um coordenador político de direito (Aldo Rebelo) que não tem poderes para coordenar, e de um coordenador de fato (Lula) que não sabe ou não tem paciência para coordenar, o fantasma de uma nova reforma ministerial voltou a circular pelo Palácio do Planalto e pelo Congresso.
O PT não desistiu de derrubar Rebelo para pôr ali um dos seus. Ministros normalmente sóbrios e discretos, como Luiz Gushiken, não se acanham em pedir a cabeça de Rebelo diante de jornalistas.
Os chamados partidos da base aliada, que gostam de Lula, mas que detestam o PT, montaram uma operação para salvar Rebelo e afastar o risco de vê-lo trocado por José Dirceu.
E hoje se viu um ministro (o do Esportes, colega de partido de Rebelo), criticar outro ministro (Gushiken) que disputa espaço dentro do governo com José Dirceu, mas que defende a ida dele para o lugar de Rebelo.
Ninguém sabe se Lula dispensará Rebelo, se o deixará onde está e nas condições precárias em que vive, ou se arranjará outro lugar para ele no governo. Para arranjar talvez tenha de tirar alguém. Para tirar alguém talvez seja melhor tirar mais gente. E olha o fantasma da reforma aí…
Cadê o presidente que costuma lembrar a seus auxiliares que os únicos eleitos em 2002 foram ele e José Alencar, o vice? Cadê o presidente que entre recriminar um auxiliar a sós ou fazê-lo diante de outros, prefere a segunda opção só para poder reafirmar sua autoridade?
Cadê, enfim, quem foi eleito para governar e que se deixa governar pelas circunstâncias e por auxiliares indisciplinados?
Depois de perder três vezes, Lula estava preparado para ganhar a presidência da República – tanto que ganhou. Mas dá a impressão de que não estava preparado para governar.
Se quiser tentar a reeleição com razoável chance de sucesso, tem menos de dois anos para aprender a governar.
(Publicado aqui em 13 de maio de 2005)