Cracolândia: Nunes diz que foi pego de surpresa com sumiço de usuários

São Paulo — O prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou que foi pego de surpresa com a ausência de dependentes químicos na Rua dos Protestantes, principal ponto de concentração do fluxo da Cracolândia que amanheceu nessa segunda-feira (12/5) vazio de usuários (veja vídeo abaixo). O esvaziamento começou a ocorrer no último sábado (10/5).

Nunes disse que a prefeitura ainda está “tentando entender o movimento” e que a situação “não está resolvida”. “Verdadeiramente surpreendeu. Obviamente que a gente já vinha reduzindo gradativamente todos os dias a quantidade de pessoas lá, pessoas indo para tratamento, voltando para os seus estados”, disse o prefeito.

De acordo com ele,  o deslocamento dos usuários pode estar associado às ações na Favela do Moinho, também na região central, onde equipes da prefeitura e do governo estadual passaram a demolir casas nessa segunda-feira. O local é apontado pelas autoridades como um “bunker” das drogas que chegam à Cracolândia.

“A ação que foi feita da P0lícia Civil com o Ministério Público, a Polícia Militar, onde foi preso o Léo do Moinho, que é o grande traficante da daquele região. (…) Com o abafamento das operações contra o tráfico de drogas, evidentemente, sem a droga presente, você tem uma facilidade maior de convencer as pessoas a irem para tratamento”, disse o prefeito durante agenda na zona leste da cidade nesta terça.

Nunes afirm0u ainda que há “pré-informações” de que o fluxo está se deslocando para outros locais. “Estamos monitorando, não tem ainda batalha vencida, vamos continuar monitorando. Todas as equipes da assistência da saúde e das forças policiais continuam de plantão para poder fazer os atendimentos e não desguarnecer, não baixar a guarda”.

Em postagem nas redes sociais, o secretário da Segurança Pública do Estado, Guilherme Derrite (PL), também atrelou o “desaparecimento” dos usuários na Rua das Protestantes às ações de combate ao tráfico.

“Fomentar o caos da Cracolândia já não compensa mais para o crime. Quem já viu esse ponto da Rua dos Protestantes antes se impressiona com essa imagem de hoje. Prendemos as principais lideranças do tráfico de drogas no centro de São Paulo. Desmascaramos pensões e hotéis que serviam de pontos de distribuição de entorpecentes e para lavagem de dinheiro do PCC, que explorava o vício de dependentes químicos. A droga parou de chegar, fazendo com que o centro de São Paulo deixasse de ser um ponto interessante para a criminalidade”, escreveu Derrite.

ONG diz que GCM atuou na retirada, mas prefeitura nega

Segundo a ONG Craco Resiste, que atua na região, os usuários desapareceram de fato após uma ação da Guarda Civil Metropolitana (GCM) no início da noite de sábado (10/5), que teria empregado violência para fazer esse deslocamento.

“No sábado à noite, no fim da tarde, guardas da GCM fizeram um corredor polonês empurrando o fluxo para perto da Favela do Gato e da Favela do Moinho. Quando chegamos aqui, os guardas chegaram a fazer piada sobre isso, e nos disseram que eles tinham sido abduzidos. O pessoal da assistência social da própria Prefeitura estava revoltado porque precisava entregar medicação de tratamento para tuberculose para o pessoal que estava lá e os guardas não deixaram”, disse Roberta Costa, da Craco Resiste, ao Metrópoles.

A Prefeitura, contudo, não confirma a informação. Procurado pelo Metrópoles, o inspetor da GCM Paulo Eduardo Breves disse que a GCM não tem informações sobre o que aconteceu com os usuários e que continua realizando atividades na região.

A versão da Craco é diferente da relatada pelo empresário Charles Resolve, da Associação Geral do Centro. Ele narra que o fluxo vem reduzindo há um ano e meio. A saída dos usuários, segundo ele, é voluntária e acontece em razão da ação da Prefeitura na região. “Está sendo oferecido tratamento para eles e alguns estão indo embora porque eles estão vendo que está impossível eles fazerem uso de drogas aqui na região. Então eles estão buscando outros locais”.

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